Precisamos de uma Educação transformadora
Leo Nogueira Paqonawta
Nos últimos 50 anos o
mundo e a sociedade como um todo se modificaram profundamente e, as pessoas que
viveram esse tempo se modificaram mais ou menos, de acordo com suas próprias
decisões em relação com o que acontece ao seu redor. Nas escolas isso não foi
diferente.
Pessoas que nasceram
e viveram em um regime autoritário como na ditadura militar no Brasil, onde se
devia obediência cega e irrestrita às normas e valores convencionados como os
ideais para se viver em sociedade, ainda manifestam em suas ações e se
comportam em seus pensamentos e sentimentos com resquícios daquele tempo em que
os dirigentes censuravam tudo aquilo que fosse contrário às suas regras.
Simplesmente se calava a voz do outro, se discriminava e se fazia de tudo para
“sumir com as pessoas do mapa” no mundo de equilíbrio entre quem mandava e quem
obedecia.
Hoje há uma maior
conscientização dos jovens a respeito de sua existência nesse mundo em
transformação, quando as decisões ou imposições que antes eram tomadas sem
levar em consideração seus sonhos e aspirações, de maneira autoritária, não são
mais aceitas de maneira passiva, nem cegamente obedecidas. As crianças, muito
mais, que sempre questionaram com seus “porquês” aquilo que não entendem ou não
faz sentido para elas, são atualmente um claro sinal de que realmente muita
coisa se modificou ao longo desse tempo todo.
Com a luta e os
esforços de muitos a sociedade vai se modificando das relações autoritárias
para as relações democráticas e participativas. As decisões não podem mais partir
de apenas uma pessoa, ou grupo, impondo seus pontos de vistas sem levar em
consideração todos os sujeitos envolvidos em alguma questão de interesse geral.
Nas escolas isso também acontece.
É a Comunidade
Escolar com todos aqueles que a formam quem deve se responsabilizar e se
comprometer pelo destino, rumos e finalidades da Escola. Os alunos, familiares, pais e responsáveis, Professores,
funcionários, coordenadores pedagógicos (diretores, administradores,
orientadores e supervisores educacionais) é que são os sujeitos que fazem essa
Escola. São os que devem se unir em torno de um “projeto” comum, amplamente
discutido, debatido, refletido a partir de suas próprias realidades, vivências
e experiências e construir os “porquês” de a Escola seguir em direção ao bom
cumprimento de suas finalidades enquanto instituição de ensino. Essas
discussões formam um documento que chamamos de “Projeto Político-Pedagógico” da
Escola. É um documento que vai orientar os passos da Escola e de toda a sua
comunidade, os passos de todos em comum na realização de todos os processos que
se unem em favor de uma Escola democrática, participativa, com a colaboração de
todos. Nem sempre nas escolas foi assim.
Podemos perceber que
no mundo inteiro há pessoas, grupos organizados na luta pela defesa dos
direitos humanos (a quem chamamos de sociedade civil) e outros bons
representantes e setores da sociedade (poderes executivo, legislativo e
judiciário) insatisfeitos com os desrespeitos às conquistas que garantiriam a
todos uma melhor qualidade de vida e condições plenas de humanização para
viver. Acontecem ao redor do planeta manifestações gigantescas que estão sendo
observadas entre todos os povos, em todos os países, e crianças, jovens,
adultos e idosos já não aceitam situações que lhes foram impostas
arbitrariamente por algumas poucas pessoas, ou grupos interessados em controlar
o mundo e tudo e todos que nele habitam.
Quando as mídias, os
jornais, a televisão e a Internet não distorcem os fatos, constatamos essas
manifestações como pura expressão de um descontentamento com o que está posto
ou se impõem às pessoas.
Como é que é estar
insatisfeito com os rumos e as decisões que acontecem nas escolas? Como é que
os sujeitos que compõem a comunidade escolar se manifestam a favor ou contra do
que acontece nas escolas? Essas insatisfações acontecem E, são ouvidas,
acolhidas, e os sujeitos da comunidade escolar que manifestam suas
reivindicações são respeitados em seus direitos de falar e participar dos rumos
e destinos da escola?
As insatisfações das
crianças e jovens acontecem? E as dos pais e responsáveis? E os professores e
funcionários? Como, quando, onde, por quê? Quais são essas insatisfações?
O momento especial da
discussão, debate e reflexão em torno da eleição para o cargo de diretor das
escolas é uma oportunidade imperdível para tomarmos posições sobre o que temos
e o que queremos para as escolas. É nesse momento que também expressamos nossa
confiança - ou desconfiança - sobre o projeto de gestão que vai sendo
construído para a discussão com a comunidade escolar.
Esses projetos são de
continuísmo e conformação com o que está posto, ou é um projeto que tenha
concepção na participação democrática e efetiva de todos os participantes da
comunidade escolar? Esses projetos são de “direção” da escola ou de “gestão
democrática” da escola?
O mundo, a sociedade,
as pessoas, as crianças, os jovens, os adultos e idosos que querem o Bem Viver
estão se transformando profundamente, porque as relações precisam ser mais
democráticas e mais humanizadas nesse planeta em que vivemos. Nessa realidade
global tudo está relacionado, todos estamos interligados uns aos outros.
Ou estamos conectados
como “coisas”, como peças descartáveis dentro de um sistema desumanizador, ou
estamos interligados como “sujeitos” de direitos e deveres, no compromisso de
resgatar nossa humanidade que nos foi retirada sutil ou escancaradamente por
uns poucos que dirigem nossas vidas.
É preciso modificar
uma dinâmica que foi imposta às pessoas por anos e séculos, para que estas se
formatassem como “peças descartáveis” do sistema que privilegia poucos e oprime
a muitos. Essa “roda” do continuísmo irresponsável e impunemente arrastando, atropelando,
moendo e triturando consciências, sonhos, aspirações, as pessoas, os grupos e o
mundo já não funciona mais como funcionou antigamente. Um antigamente que ainda
se faz forte, quase irresistível, presente em muitas pessoas, grupos, projetos
e propostas de direção das escolas.
É preciso modificar
nossas atitudes, modificarmos nossas consciências, é preciso reconhecer nossa
dignidade de sujeitos com direitos iguais, é preciso que nos transformemos em
seres humanos para recriarmos um mundo melhor para todos, onde todos sigamos
juntos nessa caminhada e evolução, nos co-movendo por um projeto de vida
emancipador, democrático, participativo, responsável.
É preciso que essa
transformação se realize nas escolas.