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terça-feira, 29 de julho de 2014

Campaña Boliviana por el Derecho a la Educación: monitoreo de prensa escrita con temas educativos


Campaña Boliviana por el Derecho a la Educación

Estimad@s compañeras y compañeros:

La Campaña Boliviana por el Derecho a la Educación (CBDE), pone a su disposición, el monitoreo de prensa escrita, con temas educativos, que se realiza a través del internet en los siguientes medios: El Diario, La Razón, Cambio, Página Siete, La Prensa, Correo del Sur, Los Tiempos, Opinión, La Patria, El Potosí, El País, El Deber, Agencia de Noticias Fides (ANF), Erbol, Oxígeno y el portal del Ministerio de Educación, Ministerio de Justicia y la página Oficial de la UNESCO, convirtiéndose éstos en nuestra primera fuente documental de información.

Igualmente ponemos a su disposición el análisis de la tendencia de noticias coyunturales y la agenda mediática en materia educativa ("teoría del establecimiento de la agenda"):

. Durante las jornadas del 26 al 28 de julio, la tendencia en la agenda mediática respecto a la coyuntura en el área de educación nos señala una priorización por parte de los medios de comunicación escrita a la noticia sobre el ingreso de la primera alumna mujer a la Unidad Educativa Simón Bolívar.

. Asimismo los medios destacaron la entrega de computadoras portátiles a estudiante de unidades educativas fiscales.

Confiamos en que este instrumento se convierta en una valiosa herramienta, para analizar el cumplimiento del derecho fundamental que tiene toda persona a recibir una “educación de calidad e inclusiva" en todos los niveles y espacios geográficos, así como el seguimiento a políticas educativas y a su implementación. El presente monitoreo tiene un formato dinámico que permite el ingreso al artículo fuente a través del enlace con el nombre del periódico al que corresponde.

También los y las invitamos a visitar nuestra página web

Muchas gracias por su atención,

CBDE

Recebido via e-mail de CBDE
29 jul 2014

quinta-feira, 19 de julho de 2012

A polêmica da “aula cronometrada” em 2010: matéria da Revista Veja, Banco Mundial e carta de uma professora indignada


A polêmica da “aula cronometrada” em 2010: matéria da Revista Veja, Banco Mundial e carta de uma professora indignada

Especialistas afirmam: professores se revelam incapazes de atrair a atenção de alunos... Uma outra "moda" educacional importada que só critica os professores e não resolve os problemas ...ok!!!!

A polêmica da "aula cronometrada" que segundo pesquisadores muito bem patrocinados pelo Banco Mundial, visa investigar o cotidiano escolar em sala de aula é um assunto que ainda vai dar muito "pano pra manga" na educação brasileira e mais uma vez o professor é apontado como o grande vilão da situação... até quando o foco da mídia ficará limitado à ponta do "iceberg" educacional?

A problemática do ensino brasileiro é muito maior do que parece...aula cronometrada, progressão continuada... ENEN aprovando alunos fora da escola... violência desenfreada,inclusão digital que só acontece no papel...inclusão social que  é empurrada goela abaixo dos professores sem o mínimo acompanhamento do poder judiciário...inclusão dos portadores de necessidades especiais que sem nenhum acompanhamento especializado , no máximo conseguem apenas "rampas de acesso" o que não garante o acesso real no contexto escolar que ainda não está preparado para isso...

Vamos ver a reportagem da revista VEJA de 13 de Junho de 2010 e a resposta de uma professora anônima indignada com a mais nova piada exaltada pela mídia jornalistica: "Aula cronometrada":

Reproduzido de Blog Papo de Professor
06 jul 2010


 Resposta à revista Veja

Carta escrita por uma professora que trabalha  no Colégio Estadual Mesquita (Curitiba), à revista Veja, em 2010:

Sou professora do Estado do Paraná e fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberta de Abreu Lima “Aula Cronometrada”.

É com grande pesar que vejo quão distante estão seus argumentos sobre as causas do mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS razões que  geram este panorama desalentador. Não há necessidade de cronômetros, nem de especialistas  para diagnosticar as falhas da educação. Há necessidade de todos os que pensam que: “os professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital” entrem numa sala de aula e observem a realidade brasileira.

Que alunos são esses “repletos de estímulos” que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridos na era digital? Em que pais de famílias oriundas da pobreza  trabalham tanto que não têm como acompanhar os filhos  em suas atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida? Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas brasileiras.

Está na hora dos professores se rebelarem contra as acusações que lhes são impostas. Problemas da sociedade deverão ser resolvidos pela sociedade e não somente pela escola. Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores, e não cumprir as obrigações fossem escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje “repletos de estímulos”. Estímulos de quê?  De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, (quando o têm), brincando no Orkut, ou, o que é ainda pior, envolvidos nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida.

Realmente, nada está bom. Porque o que essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e disciplina.

Rememorando, o que tínhamos nós, os mais velhos,  há uns anos atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria. Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais.

Para quê o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos,  de ir aos piqueniques, subir em árvores?

E, nas aulas, havia respeito, amor pela Pátria.. Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos ler, escrever e fazer contas com fluência.

Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para isso.

Hoje, professores “incapazes” dão aulas na lousa, levam filmes, trabalham com tecnologia, trazem livros de literatura juvenil para leitura em sala-de-aula (o que às vezes resulta em uma revolução),  levam alunos à biblioteca e a outros locais educativos (benza, Deus, só os mais corajosos!) e, algumas escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até a "passeios interessantes", planejados minuciosamente, como ir ao Beto Carrero.

E, mesmo, assim, a indisciplina está presente, nada está bom.

Além disso, esses mesmos professores “incapazes”, elaboram atividades escolares como provas, planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem remuneração;
Todos os profissionais têm direito a um intervalo que não é cronometrado quando estão cansados. Professores têm 10 minutos de intervalo, quando têm de escolher entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o cafezinho. Todos os profissionais têm direito ao vale alimentação, professor tem que se sujeitar a um lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40h semanais.

E a saúde? É a única profissão que conheço que embora apresente atestado médico tem que repor as aulas. Plano de saúde? Muito precário.

Há de se pensar, então, que  são bem remunerados... Mera ilusão! Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa área, só permanecem os que realmente gostam de ensinar, os que estão aposentando-se e estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma chance de “cair fora”.Todos devem ter vocação para Madre Teresa de Calcutá, porque por mais que se esforcem em ministrar boas aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de “vaca”,”puta”, “gordos “, “velhos” entre outras coisas.

Como isso é motivante...e temos ainda que ter forças para motivar. Mas, ainda não é tão grave.

Temos notícias, dia-a-dia,  até de agressões a professores por alunos. Futuramente, esses mesmos alunos, talvez agridam seus pais e familiares.

Lembro de um artigo lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país sucumbe quando o grau de incivilidade de seus cidadãos ultrapassa um certo limite.

E acho que esse grau já ultrapassou. Chega de passar alunos que não merecem. Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se na sala de aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas chances, e com indisciplina... E isso é um crime! Vão passando série após série, e não sabem escrever nem fazer contas simples. Depois a sociedade os exclui, porque não passa a mão na cabeça. Ela é cruel e eles já são adultos.

Por que os alunos do Japão estudam? Por que há cronômetros? Os professores são mais capacitados? Talvez, mas o mais importante é  porque há disciplina. E é isso que precisamos e não de cronômetros.

Lembrando: o professor estadual só percorre sua íngreme carreira mediante cursos, capacitações que são realizadas, preferencialmente aos sábados. Portanto, a grande maioria dos professores está constantemente estudando e aprimorando-se. Em vez de cronômetros, precisamos de carteiras escolares, livros, materiais, quadras-esportivas cobertas (um luxo para a grande maioria de nossas escolas), e de lousas, sim, em melhores condições e em maior quantidade...

Existem muitos colégios nesse Brasil afora que nem cadeiras possuem para os alunos se sentarem. E é essa a nossa realidade!  E, precisamos, também, urgentemente de educação para que tudo que for fornecido ao aluno não seja destruído por ele mesmo.

Em plena era digital, os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros de chamada, à mão: sem erros, nem borrões  (ô, coisa arcaica!), e ainda assim se ouve falar em cronômetros. Francamente!!!

Passou da hora de todos abrirem os olhos  e fazerem algo para evitar uma calamidade no país, futuramente. Os professores não são culpados de uma sociedade incivilizada e de banditismo, e finalmente, se os professores  até agora  não responderam a todas as acusações de serem despreparados e  “incapazes” de prender a atenção do aluno com aulas motivadoras é porque não tiveram TEMPO.

Responder a essa reportagem custou-me metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigidas.

Vanessa Storrer
Professora da rede Municipal de Curitiba!
Colégio Estadual Mesquita

Trecho final que em algumas páginas da Internet dão como se fossem da professora em questão:

Vamos fazer uma corrente via internet, repasse a todos os seus! Grata

Vamos começar uma corrente nacional que pelo menos dê aos professores respaldo legal quando um aluno o xinga, o agride... chega de ECA que não resolve nada, chega de Conselho Tutelar que só vai a favor da criança e adolescente (capazes às vezes de matar, roubar e coisas piores), chega de salário baixo, todas as profissões e pessoas passam por professores, deve ser a carreira mais bem paga do país, afinal os deputados que ganham 67% de aumento tiveram professores, até mesmo os "alfabetizados funcionais".

Pelo amor de Deus somos uma classe com força!!! Somos politizados, somos cultos, não precisamos fechar escolas, fazer greves, vamos apresentar um projeto de Lei que nos ampare e valorize a profissão.

TEXTO DA REVISTA VEJA


Controle do tempo
Escola municipal no Rio de Janeiro: os cronômetros vão ajudar a entender as causas da evidente ineficácia na sala de aula

Aula cronometrada

Com um método já aplicado em países de bom ensino, o Brasil começa a investigar o dia a dia nas escolas

Roberta de Abreu Lima

As avaliações oficiais para medir o nível do ensino no Brasil têm se prestado bem ao propósito de lançar luz sobre os grandes problemas da educação – mas não fornecem resposta a uma questão básica, que se faz necessária diante da sucessão de resultados tão ruins: por que, afinal, as aulas não funcionam? Muito já se fala disso com base em impressões e teoria, mas só agora o dia a dia de escolas brasileiras começa a ser descortinado por meio de um rigoroso método científico, tal como ocorre em países de melhor ensino. Munidos de cronômetros, os especialistas se plantam no fundo da sala não apenas para observar, mas também para registrar, sistematicamente, como o tempo de aula é despendido. Tais profissionais, em geral das próprias redes de ensino, já percorreram 400 escolas públicas no país, entre Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro. Em Minas, primeiro estado a adotar o método, em 2009, os cronômetros expuseram um fato espantoso: com aulas monótonas baseadas na velha lousa, um terço do tempo se esvai com a indisciplina e a desatenção dos alunos. Equivale a 56 dias inteiros perdidos num só ano letivo.

Já está provado que a investigação contínua sobre o que acontece na sala de aula guarda relação direta com o progresso acadêmico. Ocorre, antes de tudo, porque tal acompanhamento permite mapear as boas práticas, nas quais os professores devem se mirar – e ainda escancara os problemas sob uma ótica bastante realista. Resume a especialista Maria Helena Guimarães: "Monitorar a sala de aula é um avanço, à medida que ajuda a entender, na minúcia, as razões para a ineficácia". Não é de hoje que países da OCDE (organização que reúne os mais ricos) investem nessas incursões à escola. Os americanos chegam a filmar as aulas. O material é até submetido aos professores, que são confrontados com suas falhas e insucessos. Das visitas que fez a escolas nos Estados Unidos, o pedagogo Doug Lemov depreendeu algo que a breve experiência brasileira já sinaliza: "Os professores perdem tempo demais com assuntos irrelevantes e se revelam incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital".

Numa manifestação de flagrante corporativismo, os professores brasileiros chegaram a se insurgir contra a presença dos avaliadores dentro da sala de aula. Em Pernambuco, o sindicato rotulou a prática de "patrulhamento" e "repressão". Note-se que são os próprios professores que preferem passar ao largo daquilo que a experiência – e agora as pesquisas – prova ser crucial: conhecer a fundo a sala de aula. Treinados pelo Banco Mundial, os técnicos já se puseram a colher informações valiosas. Afirma a secretária de educação do Rio de Janeiro, Claudia Costin: "Pode-se dizer que o cruzamento das avaliações oficiais com um panorama tão detalhado da sala de aula revelará nossas fragilidades como nunca antes". Nesse sentido, os cronômetros são um necessário passo para o Brasil deixar a zona do mau ensino.

Reproduzido de Revista Veja

Fotos:

Veja Revista Edição 2170, 23 junho de 2010, e foto de Eduardo Martino, Documentography e Istockphoto/RF

Tempos Modernos (1936) de Charles Chaplin

Leia também:

“Governança e política Educacional: a agenda recente do Banco Mundial”, por André Borges, versão traduzida e adaptada de meu trabalho de conclusão do mestrado em Ciência Política na Universidade de Oxford. Revista Brasileira de Ciências Sociais - Vol. 18 Nº. 52, clicando aqui.

“Um Novo Senhor da educação? A política educacional do Banco Mundial para a periferia do capitalismo”, por Roberto Leher, Universidade Federal do Rio de Janeiro e presidente da Adufrj–Ssind, na Revista outubro, clicando aqui.

“O Banco Mundial e a Política de educação”, por Marcio Luiz Miotto, Leandro Kruzielski, Luís Fernando Farias, Leandro Lobato e Plínio Marco de Toni, trabalho apresentado à matéria de Estrutura e Funcionamento de 1º e 2º Graus, do Departamento de Pedagogia, da UFPR, Orientador: Prof. Paulo Ricardo Ross
Curitiba (07/1999), clicando aqui.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Quando a violência na mídia vira problema da Justiça


Quando a violência na mídia vira problema da Justiça (é possível acabar com a sequência nojenta promovida pela loira da Band Bahia)

Pedro Caribé
Blog Vozes Baianas
22/05/2012

Dia após dia ganha força as críticas a um vídeo estarrecedor do programa policialesco Brasil Urgente, edição da Band Bahia. Na matéria uma repórter, loira, faz chacota com um suspeito, negro, dentro de uma delegacia. Cenas como essa são recorrentes no conteúdo emitido por emissoras de tv aberta no País, especialmente na Bahia.

É natural que se procure pesar a responsabilidade aos concessionários, ou mesmo uma ação em defesa dos princípios éticos do jornalismo. Um Decreto ( nº 52.795) presidencial de 1963 institui no no Art 28 (incluído em outro decreto de 1983) que as concessionárias na programação ficam sob a responsabilidade de: “não transmitir programas que atentem contra o sentimento público, expondo pessoas a situações que, de alguma forma, redundem em constrangimento, ainda que seu objetivo seja jornalístico”.

Porém travar esse embate no campo da regulação de conteúdo propriamente é um hábito pouco afeito à sociedade brasileira. Caímos, infelizmente, no censo comum de que o único controle sob o conteúdo é o contole remoto, e o contrário é tentativa de esquerda retrógada de censurar a imprensa.

Ainda assim, as possibilidade de barrar essas aberrações não se esgostam. Resta outro caminho na Justiça que pode ser mais até mais frutífero do que imaginamos. Isso mesmo, Justiça, está aí a chave do problema. Imagens como esta têm fatia grande de responsabilidade das instituições policiais do estado da Bahia, ou mais precisamente, a Secretaria de Segurança Pública. Sim, o cidadão está sob tutela do Estado, e não precisa ser advogado para se resignar com o fato de estar algemado, dentro de uma delegacia, e ser acusado sumariamente, sem direito a julgamento.

Há mais de dois anos situações como essas têm sido acompanhadas por uma equipe do Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania da Facom/UFBA, com apoio do Intervozes e Cipó Comunicação. Pesquisadores, coordenados pelo diretor da faculdade, Giovandro Ferreira, têm sistematizado os elementos discursivos e éticos que compõe esses programas. Já as entidades têm buscado via Ministério Público, Defensoria, Conselhos de Direitos e sob parceria de outras organizações sociais desatar o nó para impedir a continuidade.

Já se passaram audiências, reuniões, seminários, denúncias, Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para adequar questões da infância e adolescência… Há anos o delegado chefe da Polícia Civil na Bahia já determinou que não se permitisse filmagens internas em delegacia. Mais uma “letra morta”.

Durante um seminário no auditória da Facom UFBA, em setembro de 2010, a então promotora da 1ª Vara Cível do Juri, Isabel Adelaide, citou algo ainda mais assustador: a maioria dos casos que se transformam em matérias dos programas não são coletadas provas suficientes para condenação dos acusados, tornando os casos como infundados e falaciosos. Isabel Adelaíde também confessou na ocasião que a ficha do corrida dos policiais-fontes é mais extensa do que se possa imaginar.

Mas os policiais e comunicadores que dão prosseguimento à esses atos continuam impunes. Não falta poder político, econômico ou mesmo religioso para barrar as investidas. Na arena do governo do estado, basta ligar a rádio ou tv e ouvir quantas vezes secretários de estado são citados como “amigos” por apresentadores ícones desses programas, fora os investimentos publicitários. Na Assembléia Legislativa o delegado-deputado Deraldo Damasceno (PSL) integra a extensa da base do governo, e era grande fonte de reportagens quando comandava a 5º Delegacia de Periperi.

Durante a greve dos policiais em fevereiro de 2012 o governo parece ter experimentado do veneno da aliança entre policiais e programas de tv para promover o pânico. Mas parece que o executivo estado não aprendeu, e assina seu próprio atestado de incompetência no Pacto pela Vida, no quesito relacionamento com a sociedade.

A partir de janeiro de 2012, as entidades e universidade têm no Conselho de Comunicação da Bahia um espaço institucional para dar prosseguimento à indignação. O papel do Conselho é encaminhar as denúncias de violações aos órgãos competentes. Não pode punir, por não ser um órgão regulador federal, nem aparato da Justiça.Contudo, a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos está presente no órgão de caráter deliberativo e consultivo, e o titular da pasta, Almiro Sena, é um promotor licenciado, conhecido por ter enfrentado esses programas na sua casa originária e envolvimento tênue com o debate racial.

O Conselho pode virar mais uma tentativa em vão. Utilizar apenas o caráter consultivo para não resolver nada. Há muitos que acreditam nisso. Poucos botam fé no contrário. Eis o meu caso. Não, apenas, por ser membro do Conselho. Mas por compreender que determinados contextos históricos estão chegando na Bahia…

Ah, tem um livro sobre um assunto, no qual sou um dos autores: A construção da violência na televisão da Bahia: um estudo dos programas Se Liga Bocão e Na Mira, Ed. Edufba, 2011.


Pedro Caribé é jornalista e integrante do Intervozes. Em 2011 foi eleito como um dos representantes da sociedade civil no Conselho Estadual de Comunicação da Bahia. É autor do blog Vozes Baianas: www.vozesbaianas.wordpress.com


Reproduzido de Vozes Baianas . O Intervozes no Conselho de Comunicação da Bahia
22 mai 2012



domingo, 25 de março de 2012

Indústria da tecnologia: a controladora do futuro das notícias...


The State of the News Media 2012: A indústria da notícia vem perdendo terreno para a de tecnologia

Priscila Duarte

Embora o crescimento na utilização de dispositivos e de novas plataformas estimule o consumo de notícias devido à facilidade de acesso, a indústria da tecnologia é que vem ganhando terreno, sendo agora considerada a controladora do futuro das notícias. Essa é uma das conclusões da 9ª edição da pesquisa anual 'The State of the News Media 2012', realizada pelo Pew Research Center's Project for Excellence in Journalism (PEJ), que tem como proposta analisar o estado do jornalismo norte-americano.

O estudo desse ano contém pesquisas em que foram examinados como os consumidores de notícias utilizam as mídias sociais, e como os dispositivos móveis podem mudar o 'negócio da notícia', além de uma atualização sobre as rápidas mudanças sofridas no campo do jornalismo comunitário.

Mais de um quarto dos americanos (27%) recebem notícias em dispositivos móveis e, para a grande maioria, isso se reflete em um aumento no consumo de material jornalístico. Segundo o relatório, embora a tecnologia venha a se somar ao apelo das notícias tradicionais, são os intermediários da indústria tecnológica que vêm ganhando espaço.

Em 2011, cinco gigantes da tecnologia geraram 68% de toda a receita publicitária digital, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado eMarketer - que não inclui na estatística os números da Amazon e da Apple, pois seus lucros têm origem a partir de dispositivos e downloads. De acordo com a mesma fonte, em 2015, aproximadamente 1 em cada 5 dólares de anúncios de exibição (display ads) está previsto para ser investido no Facebook.

Para Tom Rosenstiel, diretor da PEJ, a análise do relatório sugere que a notícia está se tornando uma parte mais importante e penetrante da vida das pessoas. "Mas ainda não está claro quem irá se beneficiar economicamente desse crescente apetite por novidades", questiona.

As plataformas de mídias sociais, entretanto, cresceram substancialmente no último ano, mas continuam a desempenhar um papel limitado no consumo diário de notícias. Apenas um terço dos consumidores de notícias leem matérias pelo Facebook; no Twitter, a proporção cai para menos de um sexto.

O relatório, que traz uma análise abrangente das tendências mais importantes no campo da notícia com base no ano de 2011, inclui capítulos detalhados sobre oito grandes áreas de mídia: digital, jornais, notícias a cabo, rede de TV, notícias de televisão local, áudio, revistas e meios de comunicação étnicos. Seguem algumas das conclusões:

- Os norte-americanos são muito mais propensos a acessar notícia digital indo diretamente para o site de uma organização jornalística ou aplicativo do que seguir links de mídias sociais, contabilizando 36% dos entrevistados. Apenas 9% dos adultos americanos dizem seguir as sugestões de notícias do Facebook ou Twitter.

- Ainda assim, as mídias sociais são consideradas um canal cada vez mais importante para as notícias, de acordo com dados de tráfego. Segundo a análise de dados da Hitwise, 9% do tráfego para sites de notícias agora vêm do Facebook, Twitter e pequenos sites de mídia social. A porcentagem vinda das ferramentas de busca, entretanto, caiu de 23% em 2009 para 21% em 2011.

- Usuários do Facebook (70%) seguem os links de notícias compartilhadas por familiares e amigos, já os do Twitter seguem links de uma variedade de fontes. Apenas 13% dizem que a maioria dos links acessados vêm de empresas de comunicação.

No Twitter, no entanto, a mistura é mais uniforme: 36% dizem que a maioria dos links que acessam vem de amigos e familiares, 27% dizem que a maior parte dos links vem de organizações de notícias, e 18% que a maioria dos links de notícias lidos chegam por meio de entidades e instituições. E mais: a maioria das notícias recebidas por essas redes poderia ter sido vista em outro lugar sem essa plataforma.

- Os setores de mídia tiveram um crescimento de sua audiência em 2011, com exceção das publicações impressas. Os sites de notícias registraram o maior aumento de audiência do ano: 17%. Outra área de destaque foi a dos telejornais que, em 2011, apresentaram um aumento no número de telespectadores atribuído aos acontecimentos negativos no exterior. Os jornais impressos, por sua vez, se destacaram por seu declínio contínuo, com uma redução de 5% quando comparado ao ano anterior. As revistas ficaram estáveis.

- Apesar dos ganhos de audiência, apenas as notícias via web e via cabo registraram um crescimento de receita publicitária em 2011. A publicidade on-line teve um crescimento de 23%, já os anúncios de TV a cabo 9%. A maioria dos setores da mídia, no entanto, viu o declínio das receitas de anúncios - as redes de TV caíram 3,7%; publicidade em revista, 5,6%; notícias locais, 6,7%, e os jornais impressos, 7,6%.

- Cerca de 100 jornais são esperados nos próximos meses para se juntar aos 150 periódicos que já migraram para algum tipo de modelo de assinatura digital. Em parte, os jornais estão fazendo este movimento depois de testemunhar o sucesso do 'The New York Times', que agora tem cerca de 390 mil assinantes on-line. O movimento também é impulsionado por quedas drásticas em receita publicitária. A indústria do jornal - circulação e publicidade combinados - encolheu 43% desde 2000. No geral, em 2011, os jornais perderam em receita publicitária cerca de US$ 10 para cada US$ 1 ganho on-line.

- O emergente panorama de sites de notícias comunitárias está chegando a um novo nível de maturidade e enfrentando novos desafios. NewWest.net e Chicago News Cooperative estão entre os importantes sites de notícias de comunidades que deixaram de ter publicação no papel. O modelo de sucesso, sintetizado pela Texas Tribune e pelo MinnPost, foi diversificar as fontes de financiamento e gastar mais recursos em negócios, não apenas com jornalismo.

- A privacidade é um assunto que está se tornando um problema maior para os consumidores, criando pressões conflitantes sobre as organizações noticiosas. Cerca de dois terços dos usuários de internet se sentem inquietos com a publicidade segmentada e com as ferramentas de busca que rastreiam comportamentos na web. Os consumidores, entretanto, dependem cada vez mais dos serviços prestados pelas empresas que agregam esses dados. As organizações de notícias estão bem no meio disso e, para sobreviver, precisam encontrar maneiras de fazer sua publicidade digital mais eficaz e lucrativa. No entanto, também devem se preocupar em não violar a confiança do público a fim de proteger seus ativos mais fortes: suas marcas.

Reproduzido de Nós da Comunicação
20 mar 2012

Via Cristiane Parente .  Mídia e Educação

sábado, 29 de outubro de 2011

Pascual Serrano: “El periodismo es noticia”


Reseña del libro “El periodismo es noticia”

Serrano, Pascual, 2010: El periodismo es noticia. Tendencias sobre comunicación en el siglo XXI. Barcelona. Icaria, 142 páginas.

En la actual crisis que viven los medios de comunicación y la profesión periodística se hace necesario reflexionar sobre el papel que han jugado los medios a la hora de informar (o desinformar a la sociedad), sobre la función actual del periodismo, sobre las nuevas tecnologías y los hábitos de uso que se están implantando en los ciudadanos. Además, hay que llevar a cabo un análisis crítico sobre cómo han manejado los medios toda la información sobre la crisis económica: parece como si a muchos analistas financieros se les hubiera olvidado que los grandes medios de comunicación también forman parte de una macroestructura económica y financiera mundial. Sus accionistas, directa o indirectamente, son empresas de telecomunicación, grupos bancarios, aseguradoras o constructoras. Sectores que han estado muy relacionados con la responsabilidad de esta crisis económica.

En esta historia de reflexiones, críticas y propuestas el periodista Pascual Serrano que en 1996 fundó Rebelión, un periódico alternativo en la red, se detiene un momento en el frenético mundo informativo que nos rodea para analizar desde otra perspectiva los medios de comunicación y la eclosión de un periodismo alternativo que se está haciendo hueco, gracias a Internet, en la vida de muchos ciudadanos que han dejado de informarse a través de los clásicos canales de comunicación.

Tras abordar la crisis que están experimentando en la actualidad pilares fundamentales del periodismo como la credibilidad, la objetividad, la mediación, la información, la autoridad o la distribución. El autor propone una alternativa que permita hacer de esta crisis mediática toda una revolución comunicativa, lo que califica de “regeneración en el modelo comunicacional”. Una regeneración donde los nuevos modelos comunicacionales sean más participativos, democráticos y plurales.

Una de las consecuencias de la crisis que atraviesan los medios ha venido, tal como señala el propio autor, de la mano de una globalización económica neoliberal que ha provocado una excesiva concentración de medios; un monopolio informativo donde más que hablar de medios de comunicación estaríamos ante grandes grupos económicos y financieros que entre sus múltiples inversiones tienen parte de sus acciones en medios de comunicación. Esto se ha puesto de manifiesto en la actualidad ante la crisis económica que atravesamos, pero que se ha unido a la crisis estructural del sector que lleva años perdiendo su influencia como “cuarto poder” en aras de los grupos económicos.

Un círculo del que ni los propios periodistas pueden salir ya que el poder real lo tienen los dueños de estas grandes empresas que tienen libertad total para elegir a sus directivos y a los profesionales que van a desarrollar su trabajo. Esta misma libertad es utilizada por los propios directivos para despedir con total libertad e impunidad a cualquiera que se desvíe de la línea editorial, por tanto hablar de deontología profesional también para haber perdido sentido en esta nueva realidad informativa.

El libro, en su línea de propuestas alternativas dentro de la profesión, apuesta por la creación de un observatorio de medios de comunicación. Después de revisar la historia de los observatorios y de los intentos frustrados que ha habido en esta área (véase el capítulo III del libro reseñado), Serrano señala cuáles deben ser las principales funciones a desempeñar dentro de este tipo de organizaciones (pp.49- 50). De este modo, habla de analizar cuáles son los temas que se tratan en los medios, los protagonistas de las noticias, el lugar donde aparecen, el lenguaje utilizado, etc...Una vez que los observatorios hayan realizado todas estas funciones deben publicitar sus resultados y reflexiones a toda la ciudadanía para despertar el interés en los usuarios y ser más vinculantes.

Sin olvidar lo que ha supuesto Internet en todos los aspectos de la vida de los ciudadanos, el autor sigue haciendo hincapié en no olvidar los otros formatos comunitarios y más locales que frente a la explosión de las nuevas tecnologías parecen ocupar un papel menos destacado. En cierto modo, cuando el autor pone como ejemplo para ilustrar esta idea al gobierno de Venezuela (pp.71) está hablando de una brecha digital que se genera a veces por creer que todo el mundo accede a la Red y que están informados. Se trata de un error ya que no todo el mundo puede acceder a la información y es precisamente en este contexto donde se hace necesario, como propone el autor, otros medios alternativos. Un altavoz en lo local que pueda llegar a ser global. De otra forma, una gran parte de la ciudadanía se quedará atrás.

Eva Herrero Curiel
Universidad Carlos III de Madrid/Estudios sobre el Mensaje Periodístico Vol. 17 Núm. 1 (2011) 243-267

Leia mais sobre Pascual Serrano clicando aqui.

Pascual Serrano participa do I Encontro Mundial de Blogueiros, de 27 a 29 out 2011 em Foz do Iguaçu, Brasil

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Classificação dos noticiários. Pode?


Mudança nas faixas de classificação indicativa, remoção da linguagem de libras e classificação de jornalísticos. Essas são algumas das propostas feitas durante o debate público sobre classificação indicativa, promovido pelo Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação (Dejus), do Ministério da Justiça, por cinco meses, via internet, que terminou em abril passado.

O debate, que envolveu TV aberta, TV paga, ONGs e público em geral contou com 56 mil acessos na web. Entre outras solicitações, o SBT pediu a liberação da exibição de conteúdo impróprio para menores de 12 anos a partir das 14 horas (hoje só pode a partir das 20h), e a liberação dos impróprios para menores de 14 anos após as 19h (que vão ao ar após 21h). A operadora Sky defendeu a remoção da linguagem de libras na apresentação da classificação indicativa.

O Instituto Alana sugeriu classificar propagandas e maior fiscalização da programação de TV paga, pedido feito por outras ONGs. Entre as sugestões do público há um entendimento da necessidade de classificação indicativa em jornalísticos.

De acordo com o Ministério da Justiça, o Ministério Público está analisando o conteúdo desse debate para que seja criada uma única e atualizada Portaria de Classificação Indicativa no país. Hoje há cinco portarias no órgão.

Leia aqui a entrevista concedida por Davi Pires, diretor do Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação (Dejus), do Ministério da Justiça, por ocasião do lançamento da pesquisa. (Janeiro 2011)

Revistapontocom pergunta: você acha que os programas jornalísticos também devem ser submetidos à classificação indicativa? Comente aqui.


Reproduzido do Revistapontocom

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A mídia como freio social


A mídia como freio social

Na semana passada, durante debate na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, estudantes questionavam por que razão a imprensa tradicional funciona como um freio na sociedade, embora se esforce por parecer moderna e vanguardista.

Os participantes do evento não avançaram na discussão, mas o tema merece alguma reflexão.

De fato, se observarmos os movimentos sociais, iremos constatar que, de modo geral, a imprensa, como instituição, não atua de modo constante como força mobilizadora de mudanças. Quase sempre faz conjunto com as forças mais conservadoras da sociedade.

Há exceções, condizentes com os papéis que assume este ou aquele veículo de comunicação, principalmente no temas comportamentais ou mundanos.

Mas, no que se refere aos assuntos centrais do noticiário, como a política e a economia, pode-se perceber que a primeira resposta de jornais, revistas e meios eletrônicos associados às empresas dominantes de comunicação é sempre a mais conservadora.

Continuidade

Mesmo quando algum evento extremo ou escandaloso evidencia a necessidade de reformas, por exemplo, a imprensa se omite no aprofundamento dos debates e deixa esfriar o ânimo da mudança. Nesse sentido, pode-se alinhar uma série de acontecimentos que nunca merecem continuidade ou destaque no noticiário.

Por exemplo, as propostas legislativas de iniciativa popular, as consultas públicas e outras formas de suprir deficiências do sistema representativo são apenas pontualmente noticiadas mas nunca merecem o tratamento de alternativas válidas para as omissões do Parlamento.

Da mesma forma, os crimes na fronteira agrícola da Amazônia saem nos jornais mas logo desaparecem e nunca se discute o conflito agrário e as possíveis relações entre mandantes de assassinatos.

Instituição a serviço da imobilidade

Mesmo que rotineiramente se dedique a expor as mazelas do sistema, a imprensa se nega a colocar em debate público a possibilidade de mudanças estruturais, ainda que cabíveis no regime democrático e republicano.

Uma das causas pode ser o fato de que a mídia, em sua natureza, seleciona e oferece padrões, dita modas e modos, incorporando novos comportamentos às estruturas sociais e culturais já consolidadas, domesticando a novidade para que caiba nos padrões convencionais. Trata-se de uma instituição a serviço da imobilidade, ou de uma mobilidade relativa e sempre sob controle.

Como todas as instituições que fiscaliza e critica, a mídia tem ojeriza a rupturas. Por essa razão, é vista mais como freio do que como acelerador de mudanças na sociedade.

Por Luciano Martins Costa em 14/06/2011 na edição 646
Comentário para o programa radiofônico do OI, 14/6/2011

Reproduzido do Observatório da Imprensa

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Mídia planetária e alinhamento ortodoxo da informação


A civilizada barbárie midiática e as mídias livres

A verdade e o inusitado

Observemos as palavras heterodoxia e ortodoxia: ambas têm em comum o radical doxa, que significa simplesmente opinião popular, estereótipo, convenção, verdade, motivo pelo qual heterodoxo é o contrário de ortodoxo, pois enquanto a primeira palavra indica aquilo que é o contrário da opinião popular, o diferente, o inusitado, o não esperado, a outra lógica; a segunda, por sua vez, reforça o sentido comum como fonte ou referência fundamental das condutas consideradas certas e normais; logo ortodoxas.

No entanto, observando mais de perto a palavra ortodoxia, começamos a achar que existe algo de podre no reino de Dinamarca, pois é um vocábulo formado por orto, que significa correto, e por doxa, que significa, como vimos, opinião comum, donde podemos concluir que ortodoxo constitui a opinião comum mais correta que as demais supostas opiniões comuns.

Existe, pois, na palavra ortodoxo, uma pretensão autoritária de algo ou alguém que se julga de posse de uma verdade, que é mais verdade que a verdade comum, a do senso comum, pois se apresenta como a verdade correta ou simplesmente como a verdade que todos devem acatar, a pretexto de seguir o caminho considerado comumente correto.

Para escarafunchar mais agulha no paiol, é possível notar ainda que ortodoxia não quer apenas significar uma verdade mais verdadeira que as demais, posto que pretende constituir-se também como uma verdade do e para o senso comum, de modo que quer ser ao mesmo tempo correta, unidimensional e, por isso mesmo, aquilo que deve ser aceito por todos, como verdade qualquer, e heterodoxa, e ao mesmo tempo única, logo ortodoxa.

A batalha pelo heterodoxo

A esse estranho fenômeno de uma verdade querer sempre ser mais verdadeira que outra e ao mesmo tempo banal, porque presente no comportamento da maioria, podemos chamar de paradoxo da doxa ou de paradoxo da verdade, o paradoxo de uma verdade arrogante, por querer ou pretender ser ao mesmo tempo a única verdade para todos, independente de diferenças econômicas, étnicas, de gênero, históricas, culturais.

O que distingue, por outro lado, as culturas de massa, como a nossa, das sociedades precedentes, é exatamente isto: a verdade continua sendo, de forma ortodoxa, controlada por uma elite ou casta, embora deva estar sob a posse de qualquer um. No mundo da sociedade do espetáculo, que é o nosso, a ortodoxia não é uma verdade cuja posse legítima é a de um grupo restrito, mas a da massa, da maioria, de qualquer um, razão pela qual é uma ortodoxia heterodoxa, por funcionar ou valer sempre conforme as circunstâncias e os interlocutores.

Ortodoxo, hoje, portanto, é a verdade, banal, estúpida, acessível, sob a posse de qualquer um, mas manietada por poucos. Eis porque tem poder, na sociedade contemporânea, quem consegue transformar a verdade de seus interesses em vulgar verdade ortodoxa ou, para dizer de outro modo, em vulgar verdade mais correta que as outras verdades vulgares, como se uma vulgaridade fosse melhor que a outra.

(...) O que chamamos de mídia planetária, hoje oligopolizada, nada mais é que o resultado comunicacional-tecnológico do alinhamento ortodoxo da informação aos donos do mundo, aos aliados, tendo em vista a mesma estratégia que subjaz instituições como o FMI, Banco Mundial, ONU: falar em nome da igualdade, da liberdade e da fraternidade para eliminá-las e evitá-las a todo custo – claro, custo para a liberdade, para a igualdade e para a fraternidade, não para os aliados imperiais, evidentemente da partilha ortodoxa do mundo.

Luís Eustáquio Soares
07/06/2011 na edição 645

Leia o texto completo no Observatório da Imprensa