"O brincar é fundamental ao ser humano, e não apenas à criança"
“As crianças estão sendo educadas
por um outro mundo
que foge aos muros
da escola”
Adriana Friedmann
Adriana Friedmann
ensina: o brincar é fundamental ao ser humano, e não apenas à criança.
Cofundadora da Aliança pela Infância no Brasil, é educadora e pesquisadora do
brincar, tendo publicado diversos livros sobre o tema.
Neste trecho de
entrevista ao Projeto Criança e Consumo, Adriana afirma que a criança
contemporânea, ao contrário do que muitos acreditam, brinca sim e está cada vez
mais criativa. Para ela, o que falta é um diálogo mais efetivo dos adultos com
o mundo lúdico infantil. “Há três décadas temos falado em um tom de saudosismo.
Está na hora de a gente entender mesmo do que as crianças estão brincando”,
diz.
(...) Nesse
sentido, há uma falta de diálogo do adulto com a criança?
O que precisamos
fazer é mergulhar no mundo delas. As crianças entram em um universo de fantasia
que não é mais aquela fantasia que vivenciamos na nossa infância, mas que
também tem coisas interessantes e positivas. As crianças têm regras próprias,
valores próprios, por isso, além de ensinar, nós também temos que aprender com
elas. Estamos em um momento do trabalho com a infância em que precisamos ouvir
as crianças a partir de suas linguagens.
Quando o brincar
começou a fazer parte da educação formal?
Há registros
arqueológicos que indicam que o brincar existe desde que o homem é homem e,
antigamente, os adultos brincavam e se misturavam com as crianças.
Hoje, o brincar
entra na escola como um instrumento de ensino e se pedagogizou. O prazer de
brincar ainda fica restrito para a hora do recreio. E o que vem acontecendo? As
gerações dos últimos 20 anos são de crianças que não ficam quietas, não prestam
atenção. O brincar como instrumento de ensino pode virar uma obrigação e,
paralelamente a isso, o tempo de recreio vem diminuindo a cada ano. As crianças
estão ficando mais reprimidas e com menos tempo para se descobrirem.
Você é uma pessoa
otimista em relação à situação atual da infância?
Sou
otimista sim. Na década de 1980, quando começamos a falar da importância do
brincar, não havia interlocução. Hoje, nós temos muitos formadores, temos o
brincar nas leis, o brincar na escola, o brincar como direito, os fabricantes
de brinquedos com a consciência de que o que eles estão fabricando é especial,
que deve existir um cuidado com o material, com a segurança. Sinto que ao mesmo
tempo em que a situação está tão caótica, há um contraponto de um grupo muito
grande em favor do brincar. Há um potencial que está perpassando todas as
instâncias para humanizar a era da tecnologia.
Conheça o livreto
completo "Criança e Consumo - Entrevistas - A importância do
brincar" contendo as entrevistas com vários autores
clicando aqui, ou baixando/descarregando aqui.
Adriana Friedmann
Conheça outras
entrevista com Adriana Friedmann, por Larissa Linder, em Revista Guia
Fundamental clicandoaqui.
Trecho:
Como o professor
pode lidar com as brincadeiras na escola?
O professor recebe
uma formação “pedagógica” e é, em geral, cobrado para seguir um currículo que
fica limitado a conhecimentos que passam mais pelo acúmulo de informações em
todas as áreas, deixando de lado o corpo e outras formas de expressão não
verbais. Nesse sentido, ele vê o brincar como um tempo determinado de ócio (não
trabalho), ou que só pode acontecer nos espaços do recreio ou do tempo livre.
Ele muitas vezes desconhece o potencial educacional das brincadeiras e, por
isso mesmo, nem imagina a possibilidade de trazê-las para o seu cotidiano para
dar oportunidade para as crianças crescerem, desenvolverem-se e aprenderem por
meio delas. O professor precisa vivenciar as brincadeiras para, na sequência,
refletir a respeito dos seus potenciais e, assim, conscientizar-se da
importância de devolvê-las à vida das crianças e ao seu próprio trabalho.
Outra entrevista
no Mapa do Brincar da Folha.
Trecho:
O que a mediação do adulto, mais comum hoje, faz
com a brincadeira?
A maioria dos
adultos censura a brincadeira. Eles querem formatar, orientar ou conduzir a
criança e têm dificuldade de aceitar que as brincadeiras de agora são
diferentes daquelas do seu tempo. Mas também há os que entram na brincadeira. O
meio-termo é aprender e, ao mesmo tempo, mostrar coisas novas. Às vezes, elas
gostam; outras vezes, acham tudo ridículo. Mas, certamente, acabam fazendo
releituras.
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