quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Adriana Friedmann: o brincar é fundamental ao ser humano, e não apenas à criança


"O brincar é fundamental ao ser humano, e não apenas à criança"

“As crianças estão sendo educadas por um outro mundo
que foge aos muros da escola”
Adriana Friedmann

Adriana Friedmann ensina: o brincar é fundamental ao ser humano, e não apenas à criança. Cofundadora da Aliança pela Infância no Brasil, é educadora e pesquisadora do brincar, tendo publicado diversos livros sobre o tema.

Neste trecho de entrevista ao Projeto Criança e Consumo, Adriana afirma que a criança contemporânea, ao contrário do que muitos acreditam, brinca sim e está cada vez mais criativa. Para ela, o que falta é um diálogo mais efetivo dos adultos com o mundo lúdico infantil. “Há três décadas temos falado em um tom de saudosismo. Está na hora de a gente entender mesmo do que as crianças estão brincando”, diz.

(...) Nesse sentido, há uma falta de diálogo do adulto com a criança?

O que precisamos fazer é mergulhar no mundo delas. As crianças entram em um universo de fantasia que não é mais aquela fantasia que vivenciamos na nossa infância, mas que também tem coisas interessantes e positivas. As crianças têm regras próprias, valores próprios, por isso, além de ensinar, nós também temos que aprender com elas. Estamos em um momento do trabalho com a infância em que precisamos ouvir as crianças a partir de suas linguagens.

Quando o brincar começou a fazer parte da educação formal?

Há registros arqueológicos que indicam que o brincar existe desde que o homem é homem e, antigamente, os adultos brincavam e se misturavam com as crianças.

Hoje, o brincar entra na escola como um instrumento de ensino e se pedagogizou. O prazer de brincar ainda fica restrito para a hora do recreio. E o que vem acontecendo? As gerações dos últimos 20 anos são de crianças que não ficam quietas, não prestam atenção. O brincar como instrumento de ensino pode virar uma obrigação e, paralelamente a isso, o tempo de recreio vem diminuindo a cada ano. As crianças estão ficando mais reprimidas e com menos tempo para se descobrirem.

Você é uma pessoa otimista em relação à situação atual da infância?

Sou otimista sim. Na década de 1980, quando começamos a falar da importância do brincar, não havia interlocução. Hoje, nós temos muitos formadores, temos o brincar nas leis, o brincar na escola, o brincar como direito, os fabricantes de brinquedos com a consciência de que o que eles estão fabricando é especial, que deve existir um cuidado com o material, com a segurança. Sinto que ao mesmo tempo em que a situação está tão caótica, há um contraponto de um grupo muito grande em favor do brincar. Há um potencial que está perpassando todas as instâncias para humanizar a era da tecnologia.

Conheça o livreto completo "Criança e Consumo - Entrevistas - A importância do brincar"  contendo as entrevistas com vários autores clicando aqui, ou baixando/descarregando aqui.

Adriana Friedmann

Conheça outras entrevista com Adriana Friedmann, por Larissa Linder, em Revista Guia Fundamental clicandoaqui.

Trecho:

Como o professor pode lidar com as brincadeiras na escola?

O professor recebe uma formação “pedagógica” e é, em geral, cobrado para seguir um currículo que fica limitado a conhecimentos que passam mais pelo acúmulo de informações em todas as áreas, deixando de lado o corpo e outras formas de expressão não verbais. Nesse sentido, ele vê o brincar como um tempo determinado de ócio (não trabalho), ou que só pode acontecer nos espaços do recreio ou do tempo livre. Ele muitas vezes desconhece o potencial educacional das brincadeiras e, por isso mesmo, nem imagina a possibilidade de trazê-las para o seu cotidiano para dar oportunidade para as crianças crescerem, desenvolverem-se e aprenderem por meio delas. O professor precisa vivenciar as brincadeiras para, na sequência, refletir a respeito dos seus potenciais e, assim, conscientizar-se da importância de devolvê-las à vida das crianças e ao seu próprio trabalho.

Outra entrevista no Mapa do Brincar da Folha.

Trecho:

O que a mediação do adulto, mais comum hoje, faz com a brincadeira?

A maioria dos adultos censura a brincadeira. Eles querem formatar, orientar ou conduzir a criança e têm dificuldade de aceitar que as brincadeiras de agora são diferentes daquelas do seu tempo. Mas também há os que entram na brincadeira. O meio-termo é aprender e, ao mesmo tempo, mostrar coisas novas. Às vezes, elas gostam; outras vezes, acham tudo ridículo. Mas, certamente, acabam fazendo releituras. 

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