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terça-feira, 22 de março de 2011

Regular ou não regular a imprensa, o que existe um pouco além do tiroteio verbal


Como em quase tudo nesta vida, a resposta à pergunta regular ou não regular a imprensa não está nos extremos mas sim entre um polo e outro. O problema é que achar a combinação exata de regulação e desregulação é um exercício complicado que exige diálogo e entendimento, coisas meio raras hoje em dia na imprensa brasileira.

Como o tema está na ordem do dia por conta das iniciativas estaduais de regulamentação da mídia, seria interessante ir um pouco mais fundo na análise da questão para que a gente não se sinta perdida no tiroteio de argumentos de um lado ou outro. Só fazendo isto é que podemos distinguir num prazo maior o que vai ajudar ou não na ampliação do fluxo de informações na sociedade brasileira.

O princípio da regulamentação está baseado na idéia de controle destinado a impedir que pessoas ou instituições violem determinadas normas. A regulamentação e a legislação tendem a se sobrepor ao consenso e a concordia, em sociedades onde há uma forte desconfiança originária da desigualdade social e econômica.

Num ambiente de desigualdade é inevitável que os dominados tentem mudar ou ignorar as regras do jogo em seu benefício. No lado dos dominadores, prevalece a mesma atitude, já que eles sabem que os oponentes aproveitarão qualquer chance para reverter a situação. Para evitar a anarquia (ausência de ordem e de regras) criaram-se as regulamentações, códigos e leis cuja preocupação é basicamente defensiva.

A idéia do controle e da regulamentação é adotada tanto pelos adeptos da ordem estabelecida (conservadores) como pelos que pretendem mudá-la (os reformadores ou revolucionários). Transplantada para a realidade da imprensa, temos na verdade dois tipos de regulamentação em conflito: a dos empresários que desejam baseá-la nas leis do mercado e dos sindicatos, que querem a proteção das leis e do estado.

Os empresários sabem que sem base financeira não existe imprensa e portanto podem manejar o fluxo de informações a seu bel prazer. Isto ainda vigora, mas perde terreno na medida em que a internet deu os cidadãos o poder de publicar, a preços mínimos, quebrando a principal vantagem das indústrias da comunicação. Mas esta perda do monopólio da publicação é parcial, porque a inclusão digital ainda é um processo inconcluso.

Agora olhando para o outro lado, vemos que a experiência histórica nos tem mostrado que as comunidades sociais com alto índice de capital social, chegaram a este estágio dependendo mais da confiança entre seus integrantes do que na regulamentação e nas leis. Hoje, os estudos teóricos mostram que o capital social é a grande alavanca para o crescimento econômico e não o contrário.

O norte-americano Robert Putnam provou, com base em pesquisas em cidades italianas, que há uma relação direta entre riqueza econômica e civismo. As cidades são ricas porque são cívicas e não o contrário. Isto mostrou que o capital social precede o crescimento econômico.

O capital social é um índice formado por três fatores, na definição de Putnam (*):confiança, comportamentos e relacionamentos. As pessoas confiam uma nas outras porque sabem que serão correspondidas, seguindo a tradicional regra do gentileza gera gentileza. A retribuição é um comportamento que vira norma, enquanto os relacionamentos garantem a propagação da confiança e da reciprocidade.

Os estudos mostram também que o capital social reduz a necessidade de controles porque a confiança mútua torna a regulamentação menos necessária. Com isto as coisas funcionam melhor, a burocracia é menor, e os gastos com vigilância, justiça, polícia e repressão baixam consideravelmente, permitindo maior inversão social. Visto assim, é como se estivéssemos falando de sociedades nórdicas em comparação às latino-americanas.

Mas tudo isto é para mostrar que a questão da regulamentação e dos controles tem mais a ver com nossa visão de sociedade do que com questões pontuais, como por exemplo, se a Web deve ou não ser patrulhada.

Deveríamos estar mais preocupados em discutir como aumentar o capital social de nossa comunidade, e menos em procurar controlá-la por leis e regulamentações que só aumentam a burocracia e os custos para manter estas leis e códigos. Parece utopia, e de certa forma é. Mas não adianta ficar só olhando as árvores, sem enxergar a floresta.'

Carlos Castilho . Código Aberto
5 nov 2010

(*) Maiores detalhes sobre o conceito de capital social desenvolvido por Putnam podem ser encontrados na apresentação Conceito de Capital Social.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A batalha dos tablets opõe conglomerados jornalísticos e indústrias eletrônicas


O lançamento de vários projetos de publicação de notícias em formato tabletparecia a grande promessa de salvação dos conglomerados da indústria de jornais, mas em vez de uma saudável disputa por público, os principais protagonistas acabaram envolvidos numa briga por dinheiro.

A empresa Apple quer cobrar 30% de todo o faturamento gerado pela assinatura de jornais e revistas que usam o tablet iPad como plataforma de publicação. Além disso a Apple não permite o acesso das empresas jornalísticas às bases de dados de assinantes e anunciantes.

A estratégia da Apple precipitou uma quebra de braço entre os fabricantes de tablets e os produtores de conteúdos jornalísticos num momento em que estes vislumbraram uma opção viável para manter o modelo de negócios baseado na publicidade trocando o papel por uma tela eletrônica.

O conglomerado News Corp, o maior do mundo e controlado pelo milionário australiano Rupert Murdoch, acaba de lançar The Daily, o primeiro jornal/revista produzido exclusivamente para o iPad. O Project, um modelo similar, foi lançado em novembro de 2010 pelo grupo britânico Virgin e o The New York Times tem na manga o projeto News Me, também para a plataforma tablet e com início de vendagem previsto para o primeiro semestre de 2011.

São todos projetos inovadores em matéria de jornalismo porque misturam texto, áudio, imagens e interatividade num mesmo ambiente tecnológico. Há horas em que todos eles parecem televisão, em outras são iguais a um jornal impresso, sem falar que permitem o acesso a redes sociais onde o leitor pode discutir os conteúdos que está lendo ou assistindo. É a tão falada multimídia em ação.

O problema é que todos eles se apóiam na estratégia comercial de atrair pessoas através de notícias para obter visibilidade para produtos e serviços de anunciantes que, por sua vez, viabilizam financeiramente a iniciativa por meio de pagamento de espaços publicitários. Até agora esse modelo sustentou o faturamento das indústrias da comunicação jornalística, mas ele ainda não se provou igualmente rentável na era da internet.

A esta dúvida se somou agora o comportamento da Apple, uma empresa que cresceu e se tornou uma das duas mais valorizadas do mundo apostando sempre no controle absoluto sobre seus produtos eletrônicos. Ela usa o fato do iPad ser o líder de vendas no mercado dos tablets para tentararrancar vantagens das empresas de comunicação.

Estas acham um absurdo pagar 30% de royalties para publicar seus conteúdos via iPad e ainda mais inaceitável o controle da Apple sobre o perfil dos usuários. A briga pode ganhar novos matizes quando produtos de outros fabricantes entrarem no mercado durante 2011, que já foi batizado de ano dos tablets.

Até então as grandes empresas de comunicação controlavam quase todo o ciclo de produção, mas agora precisam da parceria com fabricantes de equipamentos eletrônicos como os tablets, telefones celulares e computadores. Isto significadividir faturamento, algo impensável para homens como Rupert Murdoch.

Ao que tudo indica o custo, e não a qualidade, será o fator decisivo nesta batalha, que segundo a revista TechCrunch pode ser a última dos grandes conglomerados jornalísticos, antes de eles se tornarem empresas segmentadas de menor porte, no setor da comunicação.                   

Carlos Castilho . Observatório da Imprensa
23/2/2011

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Furo jornalístico em tempo de blogueiros e redes sociais


Ser o primeiro ou ser o mais confiável? Um velho dilema em novo contexto

"A preocupação com o furo está mais na cabeça dos repórteres e dos executivos do que na do público, para quem um minuto a mais ou a menos na recepção de uma notícia não faz muita diferença, principalmente porque são raras as pessoas que ficam o dia inteiro ligadas no noticiário.

Esta discussão, quase tão antiga quanto a atividade jornalística, ganhou hoje uma dimensão ainda maior por conta da velocidade de circulação das notícias, depois da generalização do uso de ferramentas digitais como blogs, twitter, comunidades virtuais e listas de discussão.

A grande questão é a quantidade de erros registrados em coberturas jornalísticas de acidentes e tragédias, onde os profissionais enfrentam com mais intensidade o clássico dilema entre ser o primeiro ou o mais confiável.  Nos sites onde o tempo de edição de cada nota muitas vezes não supera os 60 segundos, este dilema chega a ser dramático.

O problema é que a ecologia informativa da sociedade contemporânea mudou e as redações ainda não conseguiram se dar conta das conseqüências disso na produção de notícias. A cultura da competitividade e a briga pelo ineditismo informativo ainda são demasiadamente fortes entre os profissionais, apesar das possibilidades de "furos" (jargão para notícia dada antes de todos os concorrentes) jornalísticos serem hoje cada vez menores. Não dá para concorrer com milhares de blogueiros espalhados por todos os cantos do mundo".

Carlos Castilho . Observatório da Imprensa
em 18/2/2011

Leia o texto completo clicando aqui

domingo, 30 de janeiro de 2011

Mudanças no jornalismo aumentam responsabilidades dos leitores


"Um dos principais legados das grandes indústrias da comunicação é o mito de que o jornalista é um personagem indispensável à democracia. Entre outras coisas, este mito justifica o corolário de que sem as empresas jornalísticas também não existe democracia. E aí que está a justificação do poder assumido pelos donos de impérios da comunicação.

A mudança de paradigmas na informação, provocada pela internet e pela informática, mostrou que os jornalistas não são hoje nem mais e nem menos relevantes para a democracia do que os cidadãos comuns. A notícia deixou de ser monopólio dos profissionais e das empresas jornalísticas. Ela chega hoje às pessoas por circuitos que não passam pelas indústrias da comunicação.

Mas isso não quer dizer que o jornalista se tornou descartável e desnecessário. A profissão está tendo que se adaptar ao novo contexto das ferramentas digitais na comunicação.  O jornalista não é mais o certificador de credibilidades, mas o profissional que pode mostrar aos consumidores de informação como chegar à confiar em notícias".

Carlos Castilho . Observatório da Imprensa
29 jan 2011

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