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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

STF derruba vinculação horária à classificação indicativa


Infelizmente, no mesmo dia do grande golpe político-jurídico, "caiu" a Classificação Indicativa...

Festa nas empresas dos meios de (anti)comunicação hegemônicos que deitarão e rolarão de agora em diante...

Preparem-se para a perda de outros direitos duramente conquistados... pois para golpistas de todos os matizes e em todos os lugares, as crianças que se danem!

Leia mais:

STF derruba vinculação horária à classificação indicativa; veja o que muda

Por Gabriel Vaquer

Num julgamento que acaba de ocorrer nesta quarta-feira (31/08/2016), o Supremo Tribunal Federal derrubou a vinculação horária à classificação indicativa nas emissoras de televisão.

O julgamento começou por volta das 17h, com o voto do ministro Teori Zavaski, que pediu vista na sessão anterior, acontecida em junho. Teori votou com o ministro Dias Tóffili, relator do projeto, e disse que a lei era inconstitucional, já que é "classificação indicativa, não impositiva". Com isso, o placar ficou em 5 a 1.

O voto decisivo foi do ministro Celso de Mello, que após um longo discurso, afirmou que "a TV não pode se responsabilizar pela irresponsabilidade de progenitores com seus filhos". O placar ficou 6 a 1. Como são 11 ministros, a maioria miníma para a derrubada foi atingida.

O STF, no decorrer da sessão, concordou em dizer que o debate é amplo, mas que a televisão não pode sofrer a censura que sofre no atual momento.

O presidente Ricardo Lewandowski disse que, para aprofundar o assunto, um amplo debate precisa ser feito, mas concordou com o relator. O resultado ficou em 7 a 1.

Como três ministros se abstiveram, o julgamento terminou e a vinculação horária à classificação indicativa tornou-se inconstitucional, como queria as emissoras de televisão.

Agora, para a medida valer seriamente, é preciso publicar o acordão no Diário Oficial da União, o que deve acontecer nos próximos dias.

A ação não cabe recurso e é definitiva, já que o STF é o maior órgão da Justiça Brasileira. A Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV), principal interessada no caso, ainda não se pronunciou sobre o assunto, nem qualquer canal aberto de TV.

O que muda?

A partir de agora, a classificação indicativa vira apenas indicativa de fato. Ou seja, o programa ou novela é obrigado a ter uma, mas não precisa ser exibido necessariamente na faixa recomendada pelo Ministério da Justiça.

Um exemplo: a faixa "não recomendada para menores de 12 anos" só podia ser exibida a partir das 20h impreterivelmente.

Agora, esta novela ou programa pode ser mostrado em qualquer horário, sem que a emissora seja multada ou tenha problemas jurídicos - só se ultrapassar os limites, o que será julgado por órgãos como o Ministério Público.

O que vai acontecer é o bom senso das emissoras. Lógico que isso dá mais liberdade, por exemplo, para edição de novelas e séries no horário da tarde.

O que se espera, e o Supremo Tribunal Federal deixou claro, é que não aconteçam abusos, como ocorreram nos anos 90, com "Banheira do Gugu" às 16h, só para citar um caso.

Ganham as emissoras, que terão mais liberdade para reprises da tarde. A Record é um canal que pode comemorar. Sua reprise de "Chamas da Vida", novela que tinha classificação de "não recomendada para menores de 14 anos", foi retalhada, e criticada pelo público.

Outra trama com forte apelo de ação, "Vidas em Jogo", que será a substituta de "Chamas", deve ser mostrada sem maiores problemas, se o canal assim desejar.

Além disso, a chamada Rede Fuso, que apresenta programação atrasada para estados do Norte e Nordeste no horário de verão, pode terminar.

Sua principal razão de existência era a vinculação horária da classificação indicativa, que obrigava que novelas das 21h da Globo, por exemplo, com selo de "não recomendada para menores de 14 anos", fosse exibida depois das 21h em horário local também. Com a inconstitucionalidade, as tramas podem ir ao ar antes desta faixa.

Reproduzido de Na Telinha

31 ago 2016

domingo, 13 de julho de 2014

Lei da mídia democrática: apoie essa ideia!



Lei da mídia democrática: apoie essa ideia!

Roteiro, Direção e Edição: Pedro Ekman
Produção Executiva: Diogo Moyses
Fotografia: Pedro Miguez e André Moncaio
Assistente de Câmera: João Paulo Araújo
Produção: Juliana Milan
Eletricista: Marcos Vinícios
Maquiagem: Rachel Ramos
Animação: Raphael Luz
Ilustrações: Pedro Ekman
Correção de cor: Janaina Eduardo
Locução: Daniele Ricieri
Desenho de som: Ágata Silveira

Sistema Estatal: Pedro de Carvalho
Sistema Público: Iara Moyses
Sistema Privado: Tomás Rodrigues Ekman
Dança do Siri: Miguel Prazeres Gameiro

Realizacão: Intervozes
Apoio: Fundação Friedrich Ebert Stiftung
Produção: Molotov Filmes

Nenhuma criança ou seu responsável foram remunerados pela participação neste filme. Entendemos que o agenciamento de crianças para o trabalho não é uma boa forma para o registro audiovisual infantil. Todas as situações registradas foram feitas em um contexto educativo de situações presentes no cotidiano de cada uma.

Reproduzido de Canal Intervozes

10 jul 2014

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Eu sou mais é a favor da ampliação do horário da Voz do Brasil


A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (ABERT) fechando o cerco para "flexibilizar" o horário da VOZ DO BRASIL, "convidando ao abaixo-assinado deles. Isso significa, literalmente, dar voz apenas à hegemonia e pensamento das empresas de comunicação dos poderosos.

Sou contra tal "flexibilização"! Muito pelo contrário, devera-se ampliar esse horário dentro da programação das concessionárias, com outro tipo de abordagem, inclusive abrindo espaço para A VOZ DA CRIANÇA DO BRASIL.

Leo Nogueira Paqonawta

Leia também:

"Moção de apoio à Voz do Brasil" (07/07/2011) e outros textos sobre a questão no Blog do Miro, clicando aqui, ali e acolá.

terça-feira, 25 de junho de 2013

A mídia monstra pedagófila


A mídia monstra pedagófila

As “chamadas” durante a programação semanal no canal RBS SC já deixavam entrever o que viria pela frente com a matéria da repórter mirim falando de tendências na moda. Apresentada na noite do domingo dia (Programa Estudio Santa Catarina da RBS TV, madrugada de segunda, 03/06/13), as suspeitas se confirmaram, com a menina arremedando trejeitos das musas apresentadoras globais e catarinenses, entrevistando o que parecia ser dona de butique, ou personal stylist, bem ao gosto do mundo fashion que tem foco na criança como nicho do mercado de consumo, certamente desenfreado.

No final do mês o mesmo programa destaca a referida menina bonitinha opinando sobre o Fashion Kids num shopping center badalado da Ilha de Santa Catarina, evento produzido pela rede de comunicação. Dessa vez o programa destaca também outras crianças sendo maquiadas e se preparando para o desfile na passarela improvisada e espremida entre as escadas rolantes. Pais e presentes espocavam flashes dos pimpolhos sendo conduzidos pra lá e pra cá por moços e moças com ares de modelos fotográficos, enquanto a Mula Sem Cabeça do folclore popular travestida de personagem de campanha paralela da mesma emissora zanzava em volta dos toucadores empoados e do banner do “Educação precisa de respostas”.

Tema de artigos e vídeos indignados daqueles que protegem os direitos das crianças, a outra chamada campanha educativa da RBS TV nesses cenários de estúdio de TV se confundindo com o back stage dos desfiles de moda demonstra muito bem a verdadeira hipocrisia do discurso e da forma com que as mídias hegemônicas e monopólio fortemente protegido por grupo empresarial do sul do país.

Isso que vem pela confusão da doutrina midiática usando as figuras do folclore infantil, além da própria meninada como atrizes e atores de uma farsa educativa, deixa quantos pais, educadores e responsáveis de “antenas ligadas” frente ao ostensivo desrespeito aos direitos das crianças e adolescentes de ambas iniciativas da oligarquia dos donos dos meios de (anti)comunicação e (des)informação?

Nesses casos acima não é só a “educação” quem “precisa de respostas”, senão a própria “comunicação” é quem deve dar satisfação dos golpes que desfere contra a cidadania, contra o direito à informação de qualidade, visivelmente contra os direitos de dignidade de crianças e adolescentes vistos como consumidores mirins, como meninos e meninas no mundo do anti-lúdico mercado da diversão e do infotenimento como meios de desqualificação e negação de sua infância e juventude.

A rede de comunicação sem pé nem cabeça, e certamente sem coração, sabe muito bem o que, e como fazer a confusão dos sentidos, e enquanto enchemos seus bolsos com os rios de dinheiro que circulam nesse mundo de menininhas arremedando “gente grande” irresponsável – da educação e da comunicação – quem sai perdendo são as crianças e adolescentes no meio dessa insanidade a mídia metendo o nariz e a mão onde ela, se entende de tudo, no mínimo deve ser chamada para explicar o que não deve fazer: ser autoritária, mentirosa, abusadora de menores, pedagófila.

Da “comunicação” e suas (a)fundações com campanhas mentirosas, aos "profissionais"  mundo da moda, da propaganda e marketing  exigimos satisfações, porque a “monstra”, folclórica, caricata e abusada é ela. Aos “ansiosos” e "orgulhosos" pais que se extasiam com a criançada pintada como “gente adulta”, parece que deveriam ser, digamos, responsáveis, e responsabilizados pela des-humanidade e des-infancidade que reproduzem para seus filhos e filhas. Haja coração e bom senso, ou falta deles, enquanto tanto disparate é desfilado pelas mídias em suas telas, e na tela da vida...

O dedinho indicador da campanha da RBS TV parece uma bofetada na cara das gentes iludidas desse mundo da coisificação de crianças e adolescentes promovido pelos virtualmente irresponsáveis donos das mídias. Entre tantos mal-feitos e des-entendimentos provocados por eles, e por seus prepostos apresentadores de notititícias deslizando na passarela da farsante tragi-comédia do stand up news nesses dilemas e dramas da vida, qual dedo, enfim, deveríamos lhes apontar?

Haja tarja preta pra rotular essas campanhas e suas arrogâncias para alertar aos "consumidores" desse mundinho apodrecido do que está na moda, na educação e na comunicação.

Tsc... tsc...


Leo Nogueira Paqonawta


Matérias em questão

. Waldir Rampinelli: Prêmio RBS de Educação é propaganda enganosa

SJSC
14 de maio de 2013

Link/Enlace:

. Waldir Rampinelli: Prémio RBS de Educação

IELA
19 de maio de 2013


. Evento de moda traz tendências infantis para SC

Estúdio Santa Catarina
RBS TV
23 de junho de 2013

Link/enlace vídeo:

. A repórter mirim Luísa Bastos confere as tendências de moda para mães e filhas

02 de junho de 2013
Programa Studio SC
RBS TV

Link/Enlace:

Outros vídeo de Luísa Bastos:

1) O Mundo Invisível - Galdino Estúdio
Youtube user galdinoestudioffcb

Frases finais do vídeo:
“Procure lembrar do mundo que só você viu um dia”
“Reencontre o seu eu, volte a ser criança”

Galdino Estúdio parece ser especializado em beldades para o mundo fashion, de crianças e adultos.

2) Natal Havan 2012
Youtube user Lojas Havan
Divulgado pela mãe de Luísa, Youtube Usuário denisembgs

3) Quimby - Summer 2012
Youtube Usuário aldinoestudioffcb

4) Quimby – Coleção de verão
Youtube Usuário Cristina Malhas
Produção de Galdino Estúdio

Divulgado pela mãe de Luísa, Youtube Usuário denisembgs

5) Hello Kitty | Hello Salon S/S 2012
Youtube Usuário Cristina Malhas

Outros vídeos:

. Institucional Cristina Malhas
Youtube Usuário Cristina Malhas

Frases pinceladas do vídeo:

“Valores como ética, excelência, gestão eficaz, inovação, lucratividade, respeito ao meio ambiente e valorização do ser humano são colocados em prática todos os dias na Cristina”.

“(Linha) Quimby, é voltada para a criança moderna, mais que ao mesmo tempo sabe ainda o que é brincar de faz de conta. Sabe que ela pode aquilo que ela quiser enquanto houver imaginação”.

. Tholokko & Tholokka - Winter 2012
Youtube Usuário galdinoestudioffcb
Crianças em situação de “namoro” e super maquiadas

. Primavera Verão 2013 Pakita e Only kids
Youtube Usuário  grupopakita
Crianças em situação de “poses de adultos” e sendo maquiadas

sábado, 27 de outubro de 2012

Mais alguma coisa das notititícias sobre as escolas e Educação nos meios de comunicação hegemônicos...

Foto: Guto Kuerten/RBS na matéria indicada*.

Mais alguma coisa das notititícias sobre as escolas e Educação nos meios de comunicação hegemônicos...

As Professoras e os estudantes falaram muito bem nesse vídeo (na matéria abaixo*), tanto sobre as realidades duras vividas por todos na escola pública, da postura do profissional da Educação, dos momentos de estudo quanto das horas de trocas amorosas e de amizade que vivemos nesse cotidiano, na interação de tantos que lutam pela humanização de nossas instituições.

Quanto às mídias hegemônicas, elas seguem fazendo o seu papel de criar sensacionalismo barato para aumentar e fidelizar audiência, gerar lucros exorbitantes às empresas que seguem des-reguladas monopolizando a “fala”, manipulando os recortes que fazem dos fatos para se fazerem de donas da verdade, inclusive sobre a Educação.

Essas empresas de anti-comunicação mal informam, mal falam e mal veem a sociedade. Elas des-informam nesse papel que escolheram para si nessa tarefa de distrair o público das verdadeiras questões, das que acontecem nos bastidores da super-regulação da Educação e do trabalho do docente, e da defesa da des-regulação dos meios de comunicação que fazem o que bem entendem no ditar a pauta das pseudo discussões sobre qualquer tema. E, chamam especialistas para dar palpites em seus telejornais, como que querendo legitimar suas posições conservadoras e tradicionais do mundo global que defendem na cor de rosa platinada do “tudo a ver”...

Nessas matérias e reportagens de des-infomação as mídias hegemônicas mordem e assopram quando querem nos fazer engolir goela abaixo o que escolhem para ser relevante nessa dieta informacional.

Vale mais ainda nesse caso colocado em pauta (pela mídia) que, como profissionais da Educação, somos nós, o povo, as escolas, alunos e professores, pais e responsáveis, as gentes desse imenso país é que devemos lutar para democratizar o acesso aos meios de comunicação.

Como professores, temos o dever não só o da simples mediação entre o conteúdo e forma do que fazem as mídias hegemônicas e o que os estudantes/comunidade espectadores assistem/veem/leem. Temos o dever de discutir as razões disso tudo ser assim, dessa maneira monopolizada dos discursos oficiais, de lutar para as escolas terem os seus próprios meios de comunicação, de propor e dar visibilidade ao infinito de possibilidades e ações desenvolvidas na comunidade escolar, dando nós mesmos as notícias e apresentando os fatos em reportagens e matérias construídas com a participação de todos, sobretudo do aluno como sujeito e ator social “do” e “no” que é a Educação e a Escola.

Devemos nos libertar das imposições das mídias hegemônicas e re-criar nossos canais de comunicação com a sociedade, e não ficarmos sob as determinações e imperativos do que essas empresas de anti-comunicação fazem.

Vamos à luta pela democratização, pela co-participação de todos nas decisões no que se refere à Educação e Meios de Comunicação!

Leo Nogueira Paqonawta

Leia e assista ao vídeo na matéria abaixo:

* "Professores e alunos de escola na Grande Florianópolis se posicionam a favor da docente que aparece em vídeo", no ClicRBS (26/10/12), clicando aqui.

Leia também texto relacionado:

"As notititícias da dieta informacional de cada dia...", por Leo Nogueira Paqonawta no Blog Telejornais e Crianças no Brasil (02/10/12) clicando aqui. Trecho abaixo:
As escolas como aparato ideológico do mercado - capitalista, diga-se de passagem - são no mais das vezes des-merecedoras de recursos constitucionalmente determinados para a Educação, e professores fazem o que podem, e até onde têm forças, para que os projetos políticos pedagógicos de cada unidade escolar contribuam para a boa formação das crianças e adolescentes em nosso país. Tantas outras vezes acabam se rendendo à reprodução desse estado de coisas des-humanizante que muitos polititicos fazem questão de perpetuar, esses mesmos que se fazem vassalos do sistema hegemônico e consagrado ao consumo desmedido. Eles até são pagos para isso...

E, as notititícias, como fofocas e futricas diárias desse mundo agonizante, vão e vêm em todos os horários, nobres e plebeus de todas as classes de consumidores, trazidos pelas empresas e grandes corporações que controlam os meios comunicação.

Salve-se quem puder dessa dieta informacional cada vez mais intragável e, quanto pudermos, muito bom ter os olhos críticos muito maiores que o que nossa barriga, e paciência, possa suportar. Chega um dia, ou uma hora, em que não dá mais pra ficar chupando o dedo, até o osso, olhando tudo isso passar à nossa frente e, é preciso agir e re-agir, indignar-se contra isso, contra qualquer forma de opressão e agressão, seja das mídias e, até mesmo quando no caso ela venha no que aparentemente seja por uma adolescente que age “sozinha” nas redes sociais.

Em sã consciência, nós não devemos ser cúmplices disso, dessa liberdade de opressão e opinião que com o tempo enche tanto o saco - o de plástico do supermercadinho da mídia e o metafórico - que é preciso dizer basta! Basta de re-produzir a opressão, a agressividade legitimada pela mídia que diz saber das coisas e ser a dona da verdade! “Hay que endurecerse” contra qualquer tirania...

 Reproduzido de Filosomídia
27 out 2012

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Vidiotismo: sobre meninos na selva midiática e escolástica moderninha...


Vidiotismo: sobre meninos na selva midiática e escolástica moderninha


Leo Nogueira


Não é de hoje que sabemos que a TV é uma das babás preferidas pelos pais e responsáveis que têm crianças em casa. Quando a televisão está presente na imensa e esmagadora maioria dos lares, outras mil telinhas também já cercam a meninada ao redor do mundo que se entretém, feliz da vida, com seus brinquedos da mais alta tecnologia comprados por seus pais. Quem não os tem, os quer. Olhando por outro lado, se por um tempo as crianças se sossegam em frente às telas para dar sossego em casa, dali a pouco reproduzem de um jeito ou outro a violência a que são submetidas nessas sessões de torturas infantis para o destempero dos pais e, lá na escola, para o desespero de professores muitas vezes fazendo os deveres que caberiam à família, algo muito além do que a profissão lhes exige.

Entre uma parte da meninada que não pára quieta, outra que abre a boca com seus “por quês” instigando a (i)lógica de certas práticas escolares e, mais algumas que muitos professores têm como os “coitadinhos” da sala que não acompanham o ritmo frenético dos estudos, meninos e meninas passam por presas fáceis, fáceis, para os interesseiros donos do mercado de alimentação, brinquedos, filmes ou o que quer que dê lucro para essa indústria de entretenimento, quando vai sub-repticiamente uma cobra descendo de uma árvore para assediar as criancinhas a provarem disso, ou aquilo, pela programação de TV direcionada ao público infantil.

Essas cobras sabem muito bem como aliciar menores, e maiores. Seus interesses e faro comercial, seu olhar argucioso e faminto de lucros que enxerga no claro e no escuro perfeitamente, não deixa escapar pelas escolas, igrejas, ruas, ou onde for que a raça humana transite as próximas vítimas de seu banquete horrendo. As cobras fazem tudo para que suas presas possam ser hipnotizadas, para depois, suavemente, engolir cada uma e fazê-las engordar a barriga e os cofres famintos de consciências e ouro. Esses monstros, como os lobbystas maus em pele de cordeiro pelas estradas cibernéticas afora, sabem seduzir, encantar, matar aos poucos no estrangulamento, no calorzinho dos travesseiros na cama, na comodidade de uma cadeira estofada atrás dos teclados. Espertos como são os falsos e hipócritas nada bem intencionados, fazem-se passar como imagens de deuses a quem devemos venerar em cada canto por onde eles des-andam, e nós passamos obedientes como pagadores às suas promessas de um mundo cor de rosa.

Quando muitos de nós nos acostumamos a pensar que Pedofilia só se refere ao tarado adoecido que gosta sexualmente de meninos e meninas, muitos adultos nem imaginam o quanto as crianças estão sendo estimuladas por pedagófilos nas escolas e pelos lobbystas das mídias a se oferecerem às criancinhas atravessando a selva midiática como guardiões dos mais lindos e doces tesouros da liberdade de expressão nas gostosuras da educação e comunicação discursados numa sociedade democrática. A erotização precoce é estimulada pelos programas, pelos brinquedos, pelas dondocas que se vestem o que a última moda manda, pelos machões bebendo a cerveja da propaganda da mocinha recatada que se fez devassa nos comentários chulos em programas de auditório nas madrugadas. Assistindo aos mesmos programas que as crianças, esses homens arrotam e limpam a baba nos braços, enquanto as mulheres são muitas vezes imagem e semelhança das piriguetes rebolando sorridentes nos programas dominicais, nas novelas e nos shows da vida televisiva, recontada nas revistas e jornais à exaustão.  As crianças são abusadas culturalmente, economicamente, educacionalmente, comunicacionalmente. São des-floradas de sua infância com dignidade, quando lhes fingem fazer o bem em tantos mal-te-queros...

Reproduzidos nas quinquilharias que formam o material escolar e enchendo páginas de exercícios e ilustrações de cadernos, borboletinhas, abelhinhas, carrinhos, trenzinhos, super-heroizinhos e outros bichinhos e personagens inocentes passam melzinho na boca da meninada e, pululam pelos canais de TV de sinal aberto de vez em quando e, 24 horas por dia na TV paga em canais especializados nessa matéria: adoçar os olhos, entupir as mentes e desentupir ouvidos, amolecer corações, criar desejos para todos os sentidos e calar as bocas para que apenas repitam sem querer, sem ver, e sem ouvir, o refrão que des-anima a todos a pensarem, a sentirem por si mesmas.

Nessa floresta escura de nossa sociedade há esconderijos o bastante para que as crianças sejam abusadas como os magnatas do poder bem entendem, nas tantas salas de aula como nas salas de estar. E, vão-se enchendo as salas de espera de consultórios para as crianças desconectadas de seu mundo infantil interno, por demais plugadas às engenhocas do entretenimento fácil que leva ao consumismo. Os adultos, os imaturos crescidos, têm seus próprios canais, pois que já aceitam com desenvoltura e como a coisa mais natural e inquestionável da vida que, estar conectado a esses fios invisíveis, não tem nada a ver com estarem sendo manipulados, quais marionetes, na brincadeira de mau gosto do baronato das mídias e das escolas. Essa corte da classe média e alta, por sua vez, também está nas mãos das jogadas de poucos reis e rainhas no tabuleiro do mundo. A peãozada, desde antigamente, e quase sempre, só existe mesmo é para servir e defender aqueles que pensam por eles na retaguarda na segurança do que o dinheiro pode comprar para a vida boa e fácil.

A propaganda desse mundo maravilhoso do compra-se e venda-se o que puder vai na mesma onda e frisson das badaladas redes sociais de cada tempo. Esse êxtase e prazer incomensuráveis também voam de cada página de revista de salão de cabeleireiro, como também dos calhamaços que falam de quase tudo, muito bem arrolado por normas impecáveis e citações bibliográficas que esvaziam prateleiras de livrarias de infinitos títulos e capas vistosas e que, nos congressos acadêmicos, enchem sacolas como se a vida de cada um dependesse de comer e beber cada gota e pedaço do conhecimento produzido. Conhecimento que, diga-se de passagem, é re-produzido da mesma maneira que nas esteiras que embalam batatinhas, chocolates ou qualquer treco na razão do feito no ritmo industrializado do hoje em dia.

O que é, por exemplo, celebrar em sala de aula o “dia” disso e daquilo no que está na ordem do que o comércio promove em torno de datas festivas, que não será comprado de quem produziu algo para lucrar desmedidamente?  O que é isso que, em essência e forma de expressão, está sempre girando ao redor dos conceitos na (i)lógica da economia que impera no planeta, que uns chamam de produção de bens, de consumo cultural? O que é que é essa outra classe que, de jeito nenhum, não é “operária” desse modo de ser e fazer, mas que se porta como casta re-produtora de outras hierarquias antigas que apelida de capital cultural o que lhe faz ascender a outros planos da escada evolutiva em que se matam predadores e presas, sonhando um dia estar lá no topo da pirâmide do consumo?

Relembrando que se hoje existem esforços gigantescos das grandes corporações - a mando do capital - organizando para que se hipnotize o quanto mais cedo as criancinhas ao mundo do consumo, é esperançoso identificar nessa selva do vale tudo aqueles que protegem, defendem e promovem os direitos da criança e dos adolescentes. Isso, para que o futuro se construa hoje na salvaguarda de valores universalmente aceitos como princípios éticos que chamam à consciência os que têm olhos vidrados, ouvidos vibrando e bocas repetindo a cantilena dessa reza que se presta ao dinheiro como supremo deus na ordem mundial do catecismo neoliberal na neoglobobalização. Vamos muito como crentes que essa é a vida do viver bem, a qualquer custo, quando pisar no outro é apenas defesa legítima na lei dessa selva.

Parlamentos de países ou organizações internacionais inteiros se rendem às vontades desse deus reluzente que confiscou através do Novo Mundo aquele metal precioso a certo cofre, em troca de papel moeda verde que fala de des-esperança para os povos lesados nas transações comercias de seus bancos. Cada capitel que sustenta abóbadas de templos suntuosos, ou cada desenho torneado em ouro e prata nos tronos encarquilhados do Velho Mundo é amaldiçoado. Porque toda a luz de povos nos quatro cantos do mundo fora roubada, saqueada por garras escurecidas, dessas que só têm assassinos frios em nome de uma fé que demove montanhas quando se é para roubar delas os tesouros do subsolo fértil de bilênios de história que pertencem a todos.  

A corrupção na polititica mundial fede tanto quanto qualquer chão de galinheiro, como nesse onde espreita a “Raposa” do século XXI contando cada um de seus ovos de ouro postos no querer o controle mundial das mídias. Não é ela quem faz imitar os noticiários e a programação das suas enredadas irmãs pelo globo, e quem dá a receita da dieta informacional, de infotenimento e entretenimento desde o café da manhã com bacons e torradas, a seguir pelo cardápio das fast and informational foods que agradam a gregos, alemães e franceses, colombianos ou mexicanos, australianos ou chineses, e brasileiros e suas conexões com Manhattan?

A Raposa do Século XXI, naturalmente, sabe o que faz, pois consegue escutar os desejos mais íntimos e egoístas das pessoas, sabe como e quanto custa comprar até celebridades que comeriam mulheres com suas criancinhas no ventre. Então, por que não saberia como, e o que fazer, para trazer a si os pequeninos para lhes dar a mamadeira do entretenimento fresquinho e gostoso, disfarçado na borboletinha da marca da Baby TV do “grupo” Fox?

Programa por falar da, e à “esperteza” das crianças, tratando-as como idiotas fazendo plantão à frente da TV pelo do canal exclusivo de desenhos animados, não falta para apertar o botão da descarga de insultos que desmerecem a dignidade e inteligência infantil em crescimento. Existem outros especializados na anti-arte do embobecimento como entretenimento, a de produzir lixo ventilado pelas telas e telinhas de TV e computadores, tablets, telefones etc. que se reproduzem em livrinhos, brinquedinhos e outras tralhas logo, logo esvaziadas das prateleiras. São os abalizados de-formadores de opinião patrocinados pelos impérios editoriais e midiáticos, também louvados como produtores de humores inteligentíssimos, refinados.

Vidiotizar as crianças através de uma programação de TV pretensa e educacionalmente infantil, que estupidiza, aliena, entorpece os sentidos e vicia deve ser algo, assim, mirabolante em planejamento quando os meios de comunicação e suas redes vão comprando pessoas aqui e ali, legitimando sua farsa através dos diversos órgãos e associações que defendem os seus interesses de lucro, no mais das vezes fazendo-se passar por defensores do patrimônio cultural da humanidade. Haja manipulação. Haja consentimento. Haja toalhas de papel nos tribunais, nas escolas e nos lares para se enxugarem as mão das gentes, ou limpar tanta sujeira da programação que desce fácil pelo ralo, ou pela goela abaixo dos incautos.

Esses temas são debatidos nas escolas como se fosse de extrema importância e urgência defender as crianças de um estado de coisas em que elas perdem sua infância à troco de serem meninos e meninas bacaninhas e descolados no mundo das tecnologias?

Até quanto, e quando, as pesquisas que se dão nas academias no campo da Educação e Comunicação chegam às salas de aulas, aos lares, às ruas, aos morros, aos shoppings e lojas entupidas de consumidores para com-partir conclusões e ajuntar esperanças na re-criação da vida para um mundo melhor, e do bem viver?

Até quando toleraremos aos ouvidos a musiquinha com a melodia nova do velho consumismo na mesma letra do que se chama agora “consumo consciente” - ou sustentável - que, profissionais de marketing, publicidade, propaganda e Deus sabe se da pedagogia, psicologia, neuro e outras abaladas ciências são vendidos à preço de banana dos bilhões do lucro que esse tipo de gente tem? Quanto custa nossas tranquilas consciências envernizadas no saber universitário, para que não digamos “basta de mentiras”, “basta de meias verdades”, “basta de falsas intenções”?

A lei para os setores de Educação super regulado e, Comunicação super desregulado, em sua (i)lógica e (anti)ética estão lado a lado com a maioria dos nossos representantes nos poderes públicos constituídos, que se fazem comparsas do sistema que separa os que têm dos que não tem nada, ainda. Mesmo a suprema lei, essa que veste togas sob o mando do poder maior econômico, bem sabe que nesse império de coisas o destino desses últimos é o de serem os novos escravos das prestações a perder de vista do que nos separa de sermos humanos e estarmos desumanos. Prestações que se pagam de anos em anos, também como voto, nas cédulas eleitorais, quando não tem Comissão de Ética nenhuma em nenhum parlamento nacional que faça que se devolva ao povo o dinheiro roubado por polititicos em que se depositaram a confiança de que algo mudasse na estrutura que produz tanta porcaria para uma sociedade quase farta dessa impunidade.

Essa polititica dos favores trocados em propinas ainda vai por um tempo iludindo os hipnotizados pelo brilho do ter, até que as praças e ruas se encham daqueles que, mesmo com tanto crediário facilitado, não têm como sobreviver num mundo que está aqui para que todos vivam em plenitude. É essa assim tratada gentalha pelos noticiários à receita da Raposa e das cobras que vão aprendendo que essa falsa democracia dos tempos modernos não passa de falácia. Por rexistência, do resistir para bem existir, é que esse tremor que abala as velhas e renovadas estruturas do capitalismo que se transforma de um bicho a outro para enganar vai se despedaçando, e resistindo o quanto pode na tarefa de iludir, mentir, matar.

Por ora, pobrezinhos dos meninos e meninas seviciados e perdidos nas mãos da babá na selva midiática e escolástica do caminho da escola à casa, perseguidos à exaustão e esquecidos pela omissão de pais, professores, e polititicos. Essas crianças são presas fáceis desses adoráveis bichinhos bonitinhos dos canais de TV e cartilhas didáticas que são as máscaras de cobras, lagartos e raposas que as engolem facilmente no cenário de predação e carnificina em que se confundem também nossas escolas, lares e meios de comunicação no meio desse mato por onde passa o coelho apressado, como aqueles que não têm tempo para pensar, refletir ou se dedicar para os seus e os filhos da Terra.

Se Rudyard Kipling estivesse vendo o que se passa com essas crianças nos dias de hoje, certamente que não mudaria uma vírgula do que escreveu a seu filho, ou a todos os meninos e meninas há centena de anos atrás. Exceto pelo título e pelas paisagens modificadas, a famosa história e carta seriam as mesmas. E, sem sombra de dúvida ou mentira, ele desejaria que aquelas pequeninas crianças crescessem e fossem, de verdade, homens e mulheres bem existindo nesse mundo.

Enquanto não são maioria no planeta os que tenham o mínimo de dignidade, decência e responsabilidade para com os direitos das crianças, lutando pela democratização dos meios de comunicação, e de educação contra essa des-ordem mundial, que respondamos à altura às tantas idiotices que nossos meninos e meninas estão expostos pela TV em especial. Que estes não sejam os vidiotas do milênio mal começado, nem crianças perdidas e largadas nessa selva moderninha, na terra da lei do mais rico, e do mais forte que explora o fraco.

Ainda que às vezes pareça que seja assim, não somos obrigados a engolir tudo ou ficar calados diante disso. Nossa obrigação é a de engrossar a voz e as frentes de luta, porque há uma guerra lá dentro, e aqui fora das telas e do quadro negro em que se fez a Educação. As muitas crianças Outro Mundo afora da Terra do Esplendor, que já não se sossegam docemente nos sofás da sala, e nas carteiras da escola, são gentes que vão chegando a dizer “não” para tudo isso. Quem com elas se des-hipnotizar que lute junto aos ursos, pumas, condores e picaflores, ou vai direto para o bucho das cobras, e da Raposa.

Outrora verdes, as uvas já estão maduras e, nesse Outro Tempo vai chegando a Sabedoria Ancestral convidando os des-oprimidos para o banquete de quem teve fome e sede de justiça.

Há que se esfregar nas fuças desses predadores que o povo revoltado, e unido, é forte, é osso duro de roer. E para os poderosos tremendo em seus tronos, infeliz indigestão, pois chegou a hora de dizermos basta! Vocês não vão mais nos engolir! Pelas estradas e lutas afora já não vamos mais tão sozinhos...

Crianças do mundo inteiro, uni-vos!

Leo Nogueira Paqonawta


(...)

Se
Carta ao Filho

Rudyard Kipling
(1865/1936)

Se és capaz de manter a tua calma
quando todo mundo em teu redor já a perdeu e te culpa,
de crer em ti quando estão todos duvidando e para esses,
no entanto, achar uma desculpa;

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de sonhar
- sem fazer dos sonhos teus senhores;
de pensar - sem que só a isso te atire;
de, encontrando a desgraça  e o triunfo,
conseguires tratar da mesma forma a estes dois impostores;

Se és capaz de sofrer a dor
de ver mudadas em armadilhas as verdades que disseste
e as coisas porque deste a vida, estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
e perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida;

De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe,
e a persistir assim quando, exaustos,
contudo resta a vontade em ti,
que  ainda ordena: Persisti.

Se és capaz de, entre a plebe não te corromperes;
e, entre reis, não perder a naturalidade,
e de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes;
Se a todos pode ser de alguma utilidade;
se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo o valor e brilho;


Tua é a terra com tudo o que existe no  mundo.

E - que ainda é muito mais –
és um Homem, meu filho.

Fonte: Victorix. Versão original em inglês clicando aqui.

“The jungle book” de autoria de Kipling traz a história de Mowgly, criança perdida nas selvas, criadas pelos animais, foi lançado em 1894. Veja em inglês clicando aqui. No Brasil, menos que o livro, a história se tornou mais conhecida pelo filme de Disney (1967) com o título “Mowgli,o Menino Lobo. Eu mesmo me lembro muito bem da serpente “Casca” seduzindo o garotinho para comê-lo. No final, essa cobra leva a pior, o que me faz lembrar do lobo mau apanhando de caçadores e pegos no caldeirão por meigos porquinhos. Vivas para a Chapeuzinho Vermelho.

Leia também:

“Conselho Regional de Medicina publica parecer contra tevê para menores de 3 anos” reproduzido de Criança e Consumo . Instituto Alana (13/04/12) clicando aqui.

“Fox investirá em produtos licenciados da Baby TV” reproduzido de Criança e Consumo . Instituto Alana (18/10/12) clicando aqui.

“Mesmo com denúncia, Baby TV virou canal” reproduzido de Criança e Consumo . Instituto Alana (16/12/10) clicando aqui.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O partido único da mídia tradicional brasileira...


O partido único da mídia

Laurindo Lalo Leal Filho
Carta Maior
02/01/2012

Ao se fixar nos seus próprios dogmas, desprezando o real, o poder dos partidos midiáticos tende ao enfraquecimento. Ao se descolarem da realidade perdem credibilidade e apoio, cavando sua própria ruína. Trata-se de um caminho trilhado de forma cada vez mais acelerada pela mídia tradicional brasileira.

A superficialidade e o descrédito a que chegaram os meios de comunicação tradicionais no Brasil é incontestável. Posicionamento político-partidário explícito e "reengenharias" administrativas estão na raiz desse processo.

Dispensas em massa de profissionais qualificados explicam, em parte, a baixa qualidade editorial. Foi-se o tempo em que ler jornal dava prazer. Mas fiquemos, por aqui, apenas na orientação política.

A concentração dos meios e a identidade ideológica existente entre eles criou no país o "partido único" da mídia, sem oposição ou contestação. Ditam políticas, hábitos, valores e comportamentos. O resultado é um grande descompasso entre o que divulgam e a realidade. Hoje, para perceber esse fenômeno, não são mais necessárias as exaustivas pesquisas em jornalismo comparado, tão comuns em nossas academias lá pelos anos 1980.

Agora basta abrir um jornal ou assistir a um telejornal e compará-los com as informações oferecidas por sites e blogues sérios, oferecidos pela internet. São mundos distintos.

No caso da mídia brasileira essa situação começou a se consolidar com a implosão das economias planificadas do leste europeu, na virada dos anos 1980/90.

Em 1992, no livro "O fim da história e o último homem", ampliando ideias já apresentadas em ensaio de 1989, Francis Fukuyama punha um ponto final no choque de ideologias, saudando o capitalismo como modo de produção e processo civilizatório definitivo da humanidade, globalizado e eternizado.

Tese rapidamente endossada com euforia pela mídia conservadora e hegemônica que, a partir dai, pautaria por esse viés seus recortes diários do mundo, transmitidos ao público. Faz isso até hoje.

Só que, obviamente, a história não acabou. Ai estão as crises cíclicas do capitalismo, neste início de milênio, evidenciando-o como modo de produção historicamente constituído, passível de transformações e de colapso, como qualquer um dos que o precederam. Mas a mídia trata o capitalismo como se fosse eterno, excluindo de suas pautas as contradições básicas que o formam e o conformam. Dai a pobreza de seus conteúdos e o seu distanciamento da realidade, levando-a ao descrédito.

De fomentadora de ideias e debates, fortes características de seus primórdios em séculos passados, passou a estimuladora do conformismo e da acomodação. Para ela o motor história não é a luta de classes e sim o consumo, apresentado em gráficos e infográficos, alardeando números e índices que, muitas vezes, beiram o esotérico.

Se nos anos 1990 essas políticas editoriais obtiveram relativo êxito apoiadas na expansão do neoliberalismo pelo mundo, na última década a realidade crítica abalou todas as certezas impostas ideologicamente. As contradições vieram à tona.

No entanto a mídia, reduzida e conservadora, especialmente no Brasil, segue tratando apenas das aparências, deixando de lado determinações mais profundas. Movimentos anti-capitalistas espalhados pelo mundo são mencionados, quando o são, particularmente pela TV, como "fait-divers", destituídos de sentido, a-históricos. Seguindo rigorosamente a tese de Fukuyama.

Fazendo jus ao seu papel de "partido único", os meios oferecem ao público, como elemento condutor de sua ideologia conservadora, algo que genericamente pode ser chamado de kitsch. Definição dada pelos alemães no século passado para a arte popular e comercial, feita de fotos coloridas, capas de revistas, ilustrações, imagens publicitárias, histórias em quadrinhos, filmes de Hollywood. Atualizando seriam os nossos programas de TV, os cadernos de variedades de jornais e revistas, as músicas e as preces tocadas no rádio.

Esse é o prato diário da mídia, oferecido em embalagens sedutoras e entremeado de informações ditas jornalísticas, apresentando o mundo como um quadro acabado, inalterável. Não existindo alternativas, resta o conformismo anestesiado pelo consumo, ainda que para muitos apenas ilusório.

Claro que esse quadro midiático tem eficácia até certo momento, enquanto realidade e imaginário de alguma forma guardam proximidade. Mas ele também é histórico e, portanto, mutável.

Enquanto as contradições básicas da sociedade, aqui mencionadas, permanecerem existindo, a integração das consciências "pelo alto" será irrealizável, alertava Adorno, num dos seus últimos textos. Por mais que os meios de comunicação se esforcem por integrá-las.

Ao se fixar nos seus próprios dogmas, desprezando o real, o poder dos partidos midiáticos tende ao enfraquecimento. Ao se descolarem da realidade perdem credibilidade e apoio, cavando sua própria ruína. Confrontados com a internet desabam. Trata-se de um caminho trilhado de forma cada vez mais acelerada pela mídia tradicional brasileira. Sem falar na contribuição dada a esse processo pela queda da qualidade editorial, tema que fica para outro momento.

* sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.

Reproduzido de Carta Maior.

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