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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Roseli Goffman: “Precisamos incluir os excluídos e trabalhar pelos direitos coletivos à comunicação”


“Precisamos incluir os excluídos e trabalhar pelos direitos coletivos à comunicação”

Na visão da psicóloga Roseli Goffman, a liberdade de expressão não é possível sem a liberdade de pensamento, e isto é um processo que precisa ser construído simultaneamente à universalização do acesso, na capacitação e na leitura crítica para a mídia, que deverá tornar-se um tema transversal na educação

Entrevista de Graziela Wolfart e Márcia Junges a Rosely Goffman 

Convidada a refletir sobre a realização da Conferência Nacional de Comunicação, a conselheira do Conselho Federal de Psicologia, Roseli Goffman, considera que todos vamos ao debate “para ampliar o circuito dos financiamentos públicos para realizadores regionais, criando cotas que implementem a pluralidade e diversidade, garantindo a criação de critérios que legitimem os direitos de distribuição dos novos produtores”.

Na entrevista que nos concedeu por e-mail, Roseli afirma que “é preciso incentivar a participação pública, através de seus diversos segmentos na gestão destes financiamentos, democratizando o acesso para estes realizadores, ampliando a cadeia produtiva audiovisual, criando um novo modelo de negócios”. Para ela, “é urgente a criação de um novo marco regulatório, que dilua a alta concentração de propriedade dos meios de comunicação, colocando no mesmo nível de importância os sistemas público, privado e estatal”. Goffman também defende a implementação do uso de software livre nas escolas. E entende que “o direito individual à comunicação não pode ser abordado sem incluir o direito coletivo à comunicação”.

Ela explica sua posição: “no Brasil, ainda precisam ser garantidos não só os direitos individuais à comunicação como direitos de acesso dos coletivos à informação, um bem tão importante no processo da cidadania quanto saúde, educação e trabalho. Não basta garantir a livre circulação de ideias para a generalização da liberdade de expressão individual. Num país em que apenas 10% da população acessa a banda larga, e somente cerca de 10% tem TV por assinatura, falar de liberdade de expressão individual acaba resultando na exclusão da maioria da população brasileira”.

Roseli Goffman é representante do Conselho Federal de Psicologia(CFP) na Coordenação Executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação - FNDC. Psicóloga clínica, é consultora em análise institucional, desenvolvimento e gestão de projetos, com especialização em Gestão de Empresas pela Universidade Federal do Rio De Janeiro - UFRJ.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Como é possível desconcentrar o sistema de comunicação, assegurando a pluralidade e a diversidade?

Roseli Goffman - O Estado precisa estimular a produção de conteúdo independente por pequenas empresas, pontos de cultura, jovens realizadores. Também é preciso criar editais e concursos para prover fundos de financiamento para estas ações, pensando também nas formas de garantir a distribuição do conteúdo. Vamos ao debate para ampliar o circuito dos financiamentos públicos para realizadores regionais, criando cotas que implementem a pluralidade e diversidade, garantindo a criação de critérios que legitimem os direitos de distribuição dos novos produtores. È preciso incentivar a participação pública, através de seus diversos segmentos na gestão destes financiamentos, democratizando o acesso para estes realizadores, ampliando a cadeia produtiva audiovisual, criando um novo modelo de negócios.

IHU On-Line - O que fazer para que os segmentos populares tenham condições de se expressar de fato na arena midiática?

Roseli Goffman - A Conferência Nacional de Comunicação tem caráter deliberativo, e a partir de suas resoluções, serão encaminhadas as propostas no âmbito do legislativo e do executivo, de maneira a regulamentar o caos regulatório nesta área, e, em particular, os capítulos da Constituição de 1988 que se referem à Comunicação. É urgente a criação de um novo marco regulatório, que dilua a alta concentração de propriedade dos meios de comunicação, colocando no mesmo nível de importância os sistemas público, privado e estatal.

Precisamos implementar o uso de software livre nas escolas, e qualificar os professores para o ensino de informática, criando condições de oferecer equipamento e banda larga às populações mais desfavorecidas, voltando às políticas públicas para os excluídos da convergência digital. E não adianta disponibilizar o serviço e o equipamento, sem as condições de treinamento e suporte necessárias à qualificação no uso do software livre. Devemos também pleitear a descriminalização do uso da cópia de arquivos e programas com uso exclusivamente educativo.

Uma nova geração do software livre

É preciso criar uma nova geração do software livre, ou livre do software hegemônico, para não ficarmos na dependência exclusiva da tecnologia e equipamentos estrangeiros, provendo condições de pleno emprego com o crescimento da indústria brasileira de software e equipamentos de informática. A Banda Larga não é a resposta que liberta os segmentos populares para a participação. A liberdade de expressão não é possível sem a liberdade de pensamento, e isto é um processo que precisa ser construído simultaneamente à universalização do acesso, na capacitação e na leitura crítica para a mídia, que deverá tornar-se um tema transversal na educação.

Não é por acaso que, a partir de 2002, houve uma expansão dos negócios lucrativos dos milicianos que atuam nas comunidades, em especial no Rio de Janeiro. A população das favelas passou a ser um atraente mercado para oferecimento de gás, do canal pirata de TV e transporte alternativo. A demanda reprimida de TV a cabo nas comunidades é um importante indicador de que as leis de mercado e a excessiva privatização do sistema privado de radiodifusão não dão conta das reais necessidades da população brasileira. Os indicadores que garantirão a legitimidade da representação da sociedade civil, em todos seus segmentos, poderão ser construídos em parceria com governo, universidades e os movimentos sociais.

IHU On-Line - Em que sentido a comunicação pode ser discutida como um direito humano?

Roseli Goffman - O direito individual à comunicação não pode ser abordado sem incluir o direito coletivo à comunicação. No Brasil, ainda precisam ser garantidos não só os direitos individuais à comunicação como direitos de acesso dos coletivos à informação, um bem tão importante no processo da cidadania quanto saúde, educação e trabalho. Não basta garantir a livre circulação de ideias para a generalização da liberdade de expressão individual. Num país em que apenas 10% da população acessa a banda larga, e somente cerca de 10% tem TV por assinatura, falar de liberdade de expressão individual acaba resultando na exclusão da maioria da população brasileira. Precisamos incluir os excluídos e trabalhar pelos direitos coletivos à comunicação.

IHU On-Line - Como a questão do direito autoral e da propriedade intelectual devem aparecer no debate da Confecom?

Roseli Goffman - Temos que construir novas propostas sobre direito autoral e propriedade intelectual (http://www.e-commerce.org.br/direito_autoral_na_internet.php), incentivando a capacidade inventiva humana.

A solução do gratuito na Internet precisa ser debatida. Só pode ser grátis aquilo que se pode oferecer e que não dependemos para a sobrevivência. Quando o Oasis ou a Madonna disponibilizam faixas de seu último CD, é algo completamente diferente do caso de uma banda de garagem. São situações díspares e que precisam ser tratadas caso a caso. Pelos dados da Associação Brasileira dos Produtores de Discos, em 2007, a venda de CDs digitais via Internet cresceu 40% mundialmente com movimento de US$ 2,9 bilhões e alcançando cerca de 15% do mercado.

Aqui, no Brasil, o patamar foi de 157% no mesmo ano, movimentando R$ 24,5 milhões e chegando a 8% do mercado nacional, o que não compensa o enorme prejuízo do modelo de negócios de CDs e DVDs, com o crescimento exponencial dos CDs e DVDs piratas, apontando para a nossa demanda reprimida no consumo de música, pois os preços são inviáveis para a grande maioria da população. É preciso construir políticas públicas de incentivo à inovação cultural e à distribuição destes produtos.

Precisamos pesquisar e incentivar a opção do Creative Commons,  que flexibiliza os direitos autorais, como também prover a geração de renda e a sustentabilidade destes produtores de cultura, usando a Internet como um sistema de distribuição de conteúdo. Não podemos esquecer, dentro deste tema, de criar licença aberta de direitos autorais para rádios comunitárias, implementando a parceria entre rádios comunitárias e artistas independentes.

Reproduzido de IUH online
315 . Ano IX
16 nov 2009

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Em busca da cidadania informativa


Em busca da cidadania informativa

Por Eduardo Silveira de Menezes
27/03/2012 na edição 687

Ao explicar a formatação dos chamados “corpos dóceis”, Foucault alerta para o aprisionamento dos homens às proibições e obrigações impostas pela sociedade de controle. A tendência em sujeitar-se aos mecanismos de poder advém, segundo ele, da formação disciplinar aplicada pelas instituições de ensino desde a mais tenra infância. O aprendizado procedente do ambiente escolar – identificado por Paulo Freire como um processo de “educação bancária”, no qual o conhecimento é meramente depositado na mente dos estudantes –, está voltado para o mercado, e não para a construção do verdadeiro saber. Este último preza pelo pensamento crítico-reflexivo, utilizando-se do diálogo e da participação de toda a comunidade acadêmica em sua concepção.

Segundo a lógica dominante, caso uma criança deixe de ir à aula para ficar em casa apropriando-se da linguagem digital – única capaz de atraí-la, por estar diretamente relacionada à sua materialidade social e psíquica – deverá ser punida pela escola e pelos pais. Contudo, ao gravar áudios, produzir e editar vídeos, ler sobre temáticas de seu interesse e escrever sobre experiências pessoais em blogs, ela está exercitando potencialidades cognitivas, e não – como equivocadamente se pensa – deixando de fazê-lo. Somente quando se consegue compreender que a educação não requer sofrimento e rigor disciplinar pode-se colaborar para a formação de indivíduos capazes de interpretar a realidade que os cerca.

Alternativas ao modelo

O avanço tecnológico influi diretamente na constituição dos códigos educacionais. Sendo assim, ao invés de proibir o uso do aparato digital no ambiente escolar – prática comum entre as instituições de ensino –, seria mais interessante utilizá-lo como ferramenta pedagógica. Hoje, quando a criança está em contato direto com a tecnologia digital, construirá um espaço de conformação dos bens simbólicos de seu interesse independente do incentivo de pais e professores. Daí a necessidade de aceitar a naturalidade desse processo e associá-lo aos conteúdos trabalhados em sala de aula. Conforme revela o legado deixado por Paulo Freire, somente pela ação dialógica se constrói, de fato, o conhecimento teórico e prático, com vistas à transformação social.

Em meio a esse cenário, chama a atenção uma pesquisa realizada pelaONG Ação Educativa, de São Paulo, intitulada “Que Ensino Médio Queremos?”. Ao serem questionados sobre o interesse no conhecimento adquirido na escola, 59% dos entrevistados disseram que nem sempre se sentem instigados pela didática oferecida. O principal anseio dos jovens não é aprender, mas sim, “aprender a querer aprender”. Cabe aos profissionais da área ajudá-los a pensar por si próprios, o que só é possível desenvolvendo junto aos educandos métodos de aprendizagem condizentes às suas aptidões.

Em 2008, a partir de uma iniciativa do Ministério da Educação (MEC), passaram a ser ofertadas oficinas de educomunicação nas escolas da rede pública de ensino. Através do projeto “Mais Educação”, estão sendo promovidas ações sócio-educativas durante o contra-turno escolar, as quais incluem a educação para a mídia. O uso da rádio-escola, por exemplo, representa mais do que a simples apropriação da técnica de transmissão radiofônica, pois coloca em evidência a possibilidade de promover novas propostas de comunicação. No entanto, tal prática requer uma conjugação de esforços. Além de ser capaz de identificar a ideologia presente nos conteúdos midiatizados, é preciso que os jovens se sintam motivados a construir alternativas ao modelo apresentado pela mídia hegemônica.

A regulamentação da comunicação

Nos final dos anos 1970, através da Comissão Internacional para o Estudo dos Problemas da Comunicação, a Unesco formulou um relatório que discutia essa questão. A NovaOrdem Mundial da Informação e da Comunicação (Nomic) preocupou-se em desenvolver estratégias capazes de libertar os países latino-americanos do imperialismo cultural estadunidense. Com esse intuito, emergiram inúmeras iniciativas, com destaque para a Associação Brasileira de Vídeo Popular (ABVP), que se fez presente em todo o país durante a década de 80. Se, ainda hoje, as mobilizações em torno de uma comunicação mais justa e solidária não se consolidaram – devido à forte influência ideológica que as indústrias de comunicação exercem sobre o público – é preciso evidenciar, ao menos, o mérito dos movimentos sociais em inserir o debate sobre a democratização da mídia na agenda política nacional, como ocorreu, em 2009, por intermédio da Conferência Nacional de Comunicação(Confecom).

O projeto proposto pelo MEC, somado a alguns outros – de âmbito local ou estadual – tem, ao menos, modificado a relação estabelecida entre a escola e as tecnologias de informação e comunicação. O programa do governo federal está sendo implementado em ambientes de ensino com baixo IDEB – índice que mede o desenvolvimento das escolas brasileiras. Quando teve início, em 2008, eram apenas 55 municípios e 386 mil estudantes participando das oficinas. Dois anos depois, já contabilizava mais dois milhões de jovens cadastrados. Em 2012, a meta é agregar 4,5 milhões de estudantes, fazendo-se presente em aproximadamente 3,5 mil municípios.

Cabe ao Estado, portanto, promover a inserção de disciplinas específicas para a análise critica da mídia nas escolas, aliando a esse processo uma renovação nos métodos de ensino, os quais precisam estar voltados para a atual realidade tecnológica. Mesmo longe de solucionar a demanda por uma comunicação livre e independente, projetos que incluam a educomunicação no macro-campo das ações pedagógicas possibilitam a conscientização dos jovens quanto à necessidade de regulamentação da comunicação no Brasil. Assim, torna-se possível o avanço das políticas nesta área, pois se retira a discussão do âmbito legislativo realocando-a ao principal espaço capaz de influir na tomada de decisões do governo.

***
Eduardo Silveira de Menezes é jornalista graduado pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).


Leia também:

“MacBride, a NOMIC e a participação latino-americana na concepção de teses sobre a democratização da comunicação”, por José Marques de Melo em LOGOS 28: Globalização e comunicação internacional. Ano 15, 1º semestre 2008, p. 42-59. Clicando aqui.

Pelos 30 anos do Relátorio MacBride, “Concentração midiática, mídia alternativa e Internet”, por Laércio Torres de Góes, na página da revista PJ:BR da ECA/USP clicando aqui, ou divulgado na página do autor clicando aqui.

domingo, 25 de março de 2012

Autorregulamentação não exclui controle público e social


Autorregulamentação não exclui controle público e social

Valério Cruz Brittos e Luciano Gallas
Para o Observatório da Imprensa
19.03.2012

O conceito de autorregulamentação voltou à cena nos últimos meses, a partir da pressão social em torno da necessidade de implementação de um marco regulatório para as comunicações. Agora, no momento em que o Ministério das Comunicações anuncia que colocará em consulta pública a proposta regulatória que estava engavetada, fica claro que o empresariado quer é evitar a todo custo qualquer iniciativa de fiscalização às suas atividades.

Desde 1978, existe o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), com a prerrogativa de barrar campanhas consideradas agressivas aos direitos do consumidor ou ao próprio mercado. Também a Associação Nacional de Jornais (ANJ) aprovou, em 2011, a criação de um conselho de autorregulamentação para a área do jornalismo gráfico. Iniciativas deste tipo são bem-vindas, mas demonstram antes uma reação do mercado à incipiente mobilização da sociedade civil (e ao ensaio do poder público em criar estruturas de fiscalização dos meios) do que um efetivo interesse em qualificar a comunicação oferecida à população.

A tese de que entidades de classe são capazes de fazer com que as empresas representadas sigam normas e condutas éticas comuns é discutível. Fundado pelas associaçõesbrasileiras de Anunciantes (ABA), de Agências de Publicidade (Abap) e de Emissoras de Rádio e TV (Abert), além da própria ANJ, o Conar é um exemplo disso: uma olhada nas campanhas publicitárias exibidas na mídia resultará em vários apontamentos sobre comerciais que poderiam ser questionados por desrespeito às diversidades de gênero, etnia, credo, gerações e orientação sexual. Portanto, há uma certa distância entre a orientação do Conar e os valores éticos empregados na produção destas campanhas.

A supremacia do privado sobre o público

Nem sempre a opinião do mercado coincide com a posição do consumidor e com a avaliação do cidadão. Além do mais, a implementação de medidas de autorregulamentação não exclui iniciativas de controle público e social sobre os meios de comunicação. Também não inibe a necessidade de mecanismos legais capazes de colocar obstáculos à concentração de propriedade de emissoras de rádio e de televisão, jornais e revistas, portais e sítios eletrônicos por uma mesma companhia de comunicação. Assim como não elimina a necessidade de que as emissoras contempladas com concessões deem conta da pluralidade cultural da sociedade brasileira na programação e promovam a descentralização da produção.

Desta forma, a autorregulamentação é apenas uma das medidas passíveis de serem adotadas na defesa do direito à comunicação. Se o pleito é alcançar uma comunicação mais democrática e inclusiva, a autorregulamentação não resolve. As emissoras de rádio e de TV operam mediante concessão pública, faturando com campanhas publicitárias e merchandising que ocupam o espaço público do espectro radioelétrico. Uma atividade com estas características deve estar disponível a prestar contas ao público, o que é diferente de negociar regras entre os pares, mesmo que essas normas tenham algum nível de resultado social positivo.

Uma regulamentação construída a partir do mercado será necessariamente submissa aos interesses do capital. Uma empresa é planejada para gerar dividendos, ao que deve estar adequado todo ordenamento que tenha origem nela. Os valores destas regras obedecerão à lógica de supremacia do privado sobre o público. Em consequência, a regulamentação pelo mercado não basta por si, devendo a sociedade civil assumir sua prerrogativa de fiscalização sobre os meios de comunicação, por mais bem intencionados que sejam seus dirigentes.

Valério Cruz Brittos e Luciano Gallas são, respectivamente, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos; e mestrando no mesmo programa e associado ao coletivo de comunicação Intervozes

Via Vilson Vieira Júnior . Mídia Aberta

Leia também:

“Dos monopólios à democratização: caminhos e lutas por uma outra  comunicação no Brasil”, monografia por Vilson Vieira Júnior, clicando aqui.

“Autorregulamentação e liberdade de expressão, a receita do Conar”, clicando aqui.

domingo, 6 de novembro de 2011

Ignacio Ramonet: "Hoy los medios de comunicación constituyen un poder"


Ignacio Ramonet: "Hoy los medios de comunicación constituyen un poder"

La manipulación de los grandes medios

- Ante esta sensación de frustración que vive la gente, ¿cómo se transmiten distintos sentidos a una opinión pública que es manipulada a través de los grandes medios de comunicación?

Hay un enorme condicionamiento intelectual. La comunicación, los medios de comunicación de masa, se ligan, casi juntos, para cualquiera que sea su opinión, defender un esquema según el cual la solución neoliberal no sólo es única sino que es la mejor. La idea es hacernos creer que estamos en el mejor de los mundos y, aunque vayamos mal, probablemente en otros países se está peor y si aplicásemos otra política sería aún peor. Esta es la maqueta. Ahí los medios de comunicación juegan un papel ideológico. Defienden una concepción de la sociedad, defienden una concepción del mundo en la que ellos creen porque los medios de comunicación están, ellos mismos, muy implicados en la nueva economía.

- ¿Los medios de comunicación cambiaron su situación en la pirámide de poder?

De hecho, los medios de comunicación que antes aparecían como un cuarto poder, porque podían criticar el funcionamiento del poder desde el exterior, hoy constituyen un poder, y siguen sin querer aceptar la idea que son un poder y que por consiguiente tienen que ponerse en causa de ellos mismos. Veamos lo que acaba de ocurrir en Estados Unidos con América Online (AOL) y Times Warner: es una verdadera revolución, empresas muy antiguas de prensa que defendían el cuarto poder como el Time, que existe desde los años ´20, o la Warner, de la cual todo el mundo ha visto sus películas, han sido absorbidas por una empresa que no tiene ni 10 años de antigüedad.

Y por otra parte una empresa que tiene menos cifras de negocios que Time Warner, una empresa que gana mucho menos dinero que Time Warner, una empresa que tiene menos empleados que Time Warner. Y entonces ¿cómo una empresa que tiene menos capital, menos beneficios, menos asalariados que Time Warner ha podido comprar Time Warner? Unicamente porque lo que cuenta hoy es la valorización bursátil de la empresa y America Online a pesar de los resultados muy mediocres, es una de las empresas de Internet que gana dinero, tiene una valorización bursátil gigantesca, seis veces superior a la Time Warner, entonces la ha podido absorber tranquilamente. Esta empresa tiene ahora una valorización bursátil por ejemplo, que es superior al PBI de Argentina y pesa más que la Argentina en la Bolsa, que toda la Argentina con todas las empresas argentinas, pesa exactamente el 60 por ciento del PBI de España, que es la undécima potencia industrial del mundo.

- ¿Cuál es el rol de los grandes medios de comunicación? ¿Entiende que modificaron sus objetivos originarios?

El rol no es el de comunicar. Antes la comunicación en su sentido amplio tenía tres objetivos: informar, educar y distraer. Cuando tú observas lo que ha ocurrido con America Online, en realidad ahora lo que busca una empresa de comunicación es, primero, vigilar y saber lo que tú compras, qué es lo que tú consumes, qué es lo que tú lees, etc., porque como lo vas a hacer mediante Internet vas a dejar huellas y voy a poder hacer un retrato robot de quién tú eres para venderte luego lo que yo deseo. Eso es lo que me interesa y es lo que vale dinero, que yo sepa quién tú eres. Cuando es más difícil saber cómo es quien lee un periódico o quien asiste la televisión.

Segundo, el objetivo es anunciar, cuanto más se anuncia mejor. Y tercero, es vender, el medio te vende cosas directamente. Cuando tú compras un periódico, en el periódico también hay publicidad, pero tú no puedes utilizar el periódico para comprar esa publicidad, tienes que utilizar el teléfono, o tienes que tomar tu auto e irte al mercado para comprarlo. Mientras que ahora cuando estás manipulando en Internet, el ordenador te sirve para consumir la publicidad, para dejar las huellas que te hacen vigilar y para comprar. Tú compras con tu ordenador. Esa es una revolución. Y lo que hace AOL, precisamente, haya absorbido a Time Warner es este cambio fundamental. Estamos en una era de información en la que ya no hay contenido, ya no interesa para nada, el contenido además se regala hoy en día. La idea es precisamente vender, instalarnos en un mundo futurista con la idea de que ese mundo es mejor que el precedente y por consiguiente se juega con la ideología de la dicha.

Fuente  02/08/2010 La concentración de las comunicaciones con su consecuente limitación del derecho a la información, la imposición por esa vía de un pensamiento único y el profundo papel ideológico que protagonizan las corporaciones mediáticas para tal fin son, entre muchos otros, los puntos que aborda el ex director del periódico francés Le Monde Diplomatique, Ignacio Ramonet, en una extensa entrevista que concedió al director de comunicación de la Central

Reproduzido de La pista oculta
08 maio 2011

Leia também na página do IHU Unisinos, "Os jornalistas hoje são mais exigidos do que antes" (15/09/2011), clicando aqui.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Os donos da mídia e a resistência necessária


Os donos da mídia e a resistência necessária

Não é nenhuma novidade. O abuso de poder imposto pela propriedade privada dos meios de comunicação públicos é, sem sombra de dúvidas, um atentado à democracia e precisa ser enfrentado. No entanto, a forma com que os agentes políticos e econômicos operam no setor das comunicações, seja no Brasil, seja na Europa, demonstra que o embate a ser feito necessita de uma base social sólida; autônoma das decisões do Estado e do mercado e, sobretudo, consciente do seu papel decisivo para a transformação social. Neste sentido, é preciso apontar na direção de outras esferas de extensão da vida em sociedade, as quais ultrapassam o domínio político para se legitimarem em ações de cunho coletivo, mesmo as de pouca visibilidade.

Confere-se, assim, papel de destaque às iniciativas midiáticas essencialmente independentes. Em âmbito acadêmico, comunitário ou sindical, não são poucas as experiências de caráter não hegemônico o que, por si só, não representa uma ameaça ao modelo comercial, mas indica o avanço da comunicação que se reivindica alternativa. Por falta de incentivo do governo e considerando as amarras da legislação brasileira, que não permite o apoio comercial e ameaça a sustentabilidade destes veículos, provoca-se um anonimato estratégico, colaborando para a manutenção da ordem conservadora.

Na Europa, os exemplos de Rupert Murdoch e Silvio Berlusconi atestam para os riscos da liberalização do capital, principalmente quando está direcionada ao uso do poder exercido através dos meios de comunicação. A legislação italiana também se mostra falha, pois permite que o atual primeiro-ministro, no cargo há mais de 16 anos, mantenha o controle dos principais meios de comunicação do país. Através do grupo audiovisual de maior expressão na Itália, o Mediaset, Berlusconi promove a marketização de projetos pessoais, tanto a nível institucional, quanto ideológico. Na mesma linha atua Murdoch, dono da News Corporation, hoje disputando espaço com os principais conglomerados de mídia do mundo como o The Walt Disney Company e a Time Warner.

Murdoch não enfrentou problemas em concretizar a aquisição do principal concorrente no mercado de serviço de televisão por satélite, tendo, inclusive, o aval do governo Thatcher. A News Corporation obteve o sinal verde para evitar uma análise da operação e começar a negociar os termos do acordo do contrato, efetuando a compra total das ações da transmissora de TV por satélite BSkyB, algo em torno de 14 bilhões de dólares. Os casos europeus comprovam o poder exercido pelos donos das megacorporações midiáticas sobre os governos de turno.

Diferente do que ocorre na Europa, onde existe o predomínio do sistema público, no Brasil, evidencia-se a atuação da propriedade privada dos meios de comunicação. Contudo, esta mudança de paradigma não diminui as ingerências dos empresários de mídia sobre os órgãos deliberativos do Estado, espaço propício para a utilização do serviço de concessões como moeda de troca, sempre que convém ao governo. Fator que acaba sendo reforçado pelo controle exercido sobre alguns veículos ditos comunitários, prática comum entre políticos da base e da oposição.

Diante disso, é preciso reforçar o caráter independente das produções midiáticas, as quais estão contidas no domínio daquilo que se convencionou chamar de comunicação alternativa. A viabilidade de novos agentes no mercado, premissa forte da liberalização, pode ser utilizada como estratégia democratizante quando aplicada tanto ao modelo público, monopolista, quanto ao privado, oligopolista. Empregado para fins particulares, o mercado, mesmo quando regulado, não costuma responder aos interesses públicos mais básicos. Como é o caso da participação social no processo produtivo.

A descentralização na produção de conteúdos e na gestão das emissoras de caráter alternativo permite a autonomia dos sujeitos sociais envolvidos no processo de construção das novas experiências comunicacionais. Tais medidas permitem, ainda, a experimentação, geralmente descartada pelos administradores do modelo público e do privado, já que estão em jogo as regras de sobrevivência e aceitação de cada sistema.


Isto implica a necessidade de opor-se a qualquer medida que procure assegurar o domínio de uma classe sobre a outra. É comum, por meio de pressões políticas ou psicológicas, que um grupo dirigente tente coibir a atividade crítica e a resistência às suas tomadas de decisão. Portanto, infere-se que todo consenso formado em torno destes aparelhos prejudica a livre atividade de expressão e de manifestação dos atores sociais não hegemônicos.

Quando se coloca frente a frente os dois modelos, sem discutir a distribuição de poder, não se estão evidenciando os riscos de fracasso aos quais estão submetidas as experiências alternativas. O simples afastamento da estrutura de mercado não é suficiente para evitar os abusos de poder, que podem assumir uma postura autoritária sob o véu da regulação pública. Esta tomada de posição, sem as devidas ressalvas, poderia equivaler a submeter-se em operar enquanto aparelho privado do Estado, não aderindo às regras de jogo do mercado, mas, também, não exercendo livremente o direito à comunicação. Na verdade, a mídia independente precisa achar as brechas para operar em qualquer um dos casos, pois, no atual contexto, ambos reproduzem uma ideologia particular e estão a serviço das forças dominantes.


Eduardo Silveira de Menezes
CEPOS . Unisinos

Publicado originalmente na Revista do Instituto Humanitas Unisinos
360 - Ano XI 09.05.2011 
IHU ON-Line
Via Exílio Midiático

Leia também "Os magnatas da mídia no mundo e Brasil" clicando aqui.

Veja também a página "Donos da Mídia", no Brasil, clicando aqui.

Os magnatas da mídia no mundo e Brasil


Conheça os principais magnatas da mídia no mundo


Redação
BBC Brasil
16/07/2011

O escândalo provocado pela revelação de que o tabloide News of The World, pertencente ao bilionário australiano Rupert Murdoch, teria grampeado celulares de milhares de pessoas aumentou a preocupação sobre o nível de controle exercido por uma só empresa na mídia britânica.

No entanto, em todo o mundo, empresas de mídia – seja veículos impressos ou de telecomunicações – são dominadas por magnatas que ostentam grandes fortunas e exercem influência considerável.

Crise na imprensa

Conheça alguns dos principais nomes da mídia em diversos países:

Brasil

O mercado de mídia no Brasil é dominado por um punhado de magnatas e famílias. Na indústria televisiva, três deles têm maior peso: a família Marinho (dona da Rede Globo, que tem 38,7% do mercado), o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus Edir Macedo (dono da Rede Record, com 16,2%) e Silvio Santos (dono do SBT, 13,4% do mercado).

A família Marinho também é proprietária de emissoras de rádio, jornais e revistas – campo em que concorre com Roberto Civita, que controla o Grupo Abril (ambos detêm cerca de 60% do mercado editorial).

Famílias também controlam os principais jornais brasileiros – como os Frias, donos da Folha de S.Paulo, e os Mesquita, d’O Estado de S. Paulo (ambos entre os cinco maiores jornais do país). No Rio Grande do Sul, a família Sirotsky é dona do grupo RBS, que controla o jornal Zero Hora, além de TVs, rádios e outros diários regionais.
Famílias ligadas a políticos tradicionais estão no comando de grupos de mídia em diferentes regiões, como os Magalhães, na Bahia, os Sarney, no Maranhão, e os Collor de Mello, em Alagoas.

América Latina

No México, o grupo Televisa tem três canais de TV nacionais, duas operadoras de TV a cabo e um ramo editorial, além de ser dono de três clubes de futebol. O grupo ainda tem 5% das ações da Univisión, o maior canal hispânico dos Estados Unidos.

O diretor-executivo do grupo, Emilio Azcarraga Jean, é um dos mais influentes empresários do país.

Os programas da Televisa concentram 70% do mercado publicitário mexicano televisivo. O restante fica com a principal concorrente, a TV Azteca.

Na América Central, boa parte da mídia é controlada pelo mexicano Ángel González, baseado em Miami. Para driblar as leis que restringem estrangeiros no comando das empresas, ele usa laranjas para controlar 26 canais de TV e 82 estações de rádio em 12 países, o que lhe rendeu o apelido de “Fantasma”.

Na Colômbia, o segundo homem mais rico do país segundo a revista Forbes, Julio Mario Santo Domingo, tem participação nos negócios mais variados, de cervejarias a companhias aéreas. Ele se destaca, no entanto, por ser o dono da TV Caracol (com 58% da audiência e 52% do mercado publicitário, em dados de 2004) e do segundo jornal do país, o El Espectador.

O principal concorrente é o Casa Editorial El Tiempo, dono do maior jornal do país, o El Tiempo, além de várias revistas e de um canal de TV a cabo. A empresa é controlada pelo grupo espanhol Prisa.

África

A Nation Media Group (NMG) é a maior empresa de mídia do leste da África, com braços de mídia eletrônica e impressa. Aga Khan - o líder espiritual da comunidade ismaelita, um ramo do islamismo xiita - é o maior acionista da empresa, com 49% das ações.

No Quênia, o grupo é dono do jornal diário de maior circulação, o Daily Nation, além de outras duas publicações diárias e uma semanal, duas estações de rádio e uma emissora de TV.

Em Uganda, o NMG tem um jornal, o Daily Monitor, uma estação de rádio e uma emissora de TV. Na Tanzânia, Aga Khan se diz proprietário de duas publicações diárias.

O grupo também planeja sua expansão em Ruanda, onde tem planos de comandar um jornal diário e uma emissora de TV. Aga Khan tem o objetivo de estabelecer um conglomerado de mídia pan-africano.

Estados Unidos

A americana Anne Cox Chambers, 91 anos, controla o maior grupo de mídia do país, chamado Cox Enterprises, fundado por seu pai em 1898.

O império controla jornais, emissoras de rádio e TV e canais a cabo em diversos Estados americanos.

Segundo a revista Forbes, o patrimônio de Anne em 2010 estava em US$ 12,4 bilhões, duas vezes maior que o de Rupert Murdoch, dono da News Corporation.
Emilio Azcarraga, da Televisa

A Televisa de Emilio Azcarraga é dona de 70% do mercado publicitário das televisões no México

Rússia

O governo russo continua a ser o maior controlador da mídia local desde que o ex-presidente e atual primeiro-ministro Vladimir Putin reestatizou o maior canal de TV do país, o ORT, em 2000. Ele também transferiu o controle privado do canal NTV para a petrolífera estatal Gazpom.

Além disso, o governo comanda o grupo Rossia, controlador das três únicas TVs de cobertura nacional, além de canais a cabo e dezenas de emissoras locais. Atualmente, o Kremlin controla todas as principais TVs russas.

A mídia impressa é menos concentrada. O principal jornal, o Kommersant, é propriedade do magnata Alisher Usmanov, um dos donos do time inglês Arsenal.

Outro magnata, o ex-espião da KGB Alexander Lebedev, é dono do principal jornal de oposição, o Novaya Gazeta. Ele também tem negócios no Reino Unido, onde controla os jornais The Independent e The Evening Standard.

Sudeste asiático

Homem mais rico da Malásia, o empresário de origem chinesa Tiong Hiew King controla cinco jornais diários e 30 revistas nas comunidades de língua chinesa na Malásia, em Hong Kong, nos Estados Unidos e no Canadá.

Reproduzido do FNDC

Veja também a página de "Donos da Mídia", do Brasil, clicando aqui.

Leia também "Os donos da mídia e a resistência necessária", por Eduardo Silva de Menezes na Revista do Instituto Humanitas Unisinos clicando aqui, ou no "Exílio Midiático" clicando aqui. Do mesmo autor, leia "O que Murdoch, teixeira e a Seleção Brasileira têm em comum" clicando aqui.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Inovação, não saudosismo: o desafio dos estudos sobre comunicação e mídia


"Inovação, não saudosismo: o desafio dos estudos sobre comunicação e mídia

A epistemologia da comunicação está em crise. A saída defendida por Erick Felinto, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, é passar pelas mídias digitais. Segundo ele, o digital gera uma problematização dos modelos comunicacionais atuais, colocando em questão o cerne da própria comunicação.

Por isso, assim como em outros campos do saber, a comunicação também precisa lidar com a sua crise "através de formas inovadoras e não saudosistas", comentou.

No 20º Encontro Anual da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação - Compós, realizado em Porto Alegre, Felinto afirmou que uma das preocupações centrais da comunicação hoje é, muitas vezes, disciplinar, demarcar sua fronteiras. Isso, segundo ele, manifesta claramente a infância-adolescência da comunicação hoje. "A comunicação é muito mais um campo do que uma disciplina", afirmou, já que é composta por problemas que são atravessados por diversas áreas, trans ou interdisciplinares.

O digital, para Felinto, coloca em xeque noções como a própria comunicação, a mensagem e o sentido. Historicamente, afirmou, os estudos sobre comunicação foram muito marcados pelo paradigma emissor-mensagem-receptor, característico da mass media research, assim como pelos estudos de recepção, que propunham uma investigação de ordem hermenêutica, ou seja, de interpretação de sentidos.

"Assim, o componente propriamente tecnológico e material dos meios foi quase que inteiramente esquecido", disse. "O digital coloca como questão central a materialidade, os impactos da dimensão material da comunicação", afirmou, a partir da obra de Friedrich Kittler. E questionou: "Como pensar em meios no contexto da cultura digital?".

Felinto afirmou que, nos estudos do paradigma emissor-mensagem-receptor, o ruído era considerado problemático. Porém, citando estudos de Jussi Parikka, o ruído tem função produtiva, constitutiva da própria comunicação. "Já se pensou muito no sentido. Cabe agora pensar o ruído, a perturbação", afirmou.

Para Felinto este também seria o momento de investigar não apenas quais significados circulam pelos sistemas midiáticos, mas sim como, em tais sistemas tecnológicos, pode-se dar a emergência de sentidos em geral. "Ou seja, como a partir do não sentido – a dimensão material dos meios – surgem as condições para a manifestação do sentido".

Para isso, é preciso abandonar uma metafísica fundada em pressupostos humanistas, "na qual o sujeito humano ocupa posição absolutamente central, como senhor e mestre da tecnologia e do significado". "A cultura é um fenômeno tecnológico desde suas origens, mas hoje, mais que em qualquer outra época, a tecnologia se torna tema central de debate. Os atores não humanos ocupam uma posição tão decisiva que nossos pudores humanistas não tem mais onde se sustentar", explicou.

Assim, pode-se passar de uma preocupação central na hermenêutica para uma preocupação com a dimensão material da comunicação. Mas, para isso, é preciso abandonar, segundo Felinto, um ranço ou preconceito humanista, segundo o qual pensar o meio é ser determinista tecnológico.

Nesse sentido, outra dimensão importante é promover uma arqueologia da comunicação, ou seja, analisar como o presente surge de um tempo profundo. "São necessários exercícios teóricos imaginativos", afirmou. "A imaginação pode preencher os espaços deixados pelo saber", ou seja, pensar em amplitude, não microscopicamente.

E, para exemplificar, desafiou a se estudar a comunicação como fizeram os "pensamentos proféticos" da comunicação promovidos pelo filósofo canadense Marshall McLuhan e pelo filósofo tcheco e naturalizado brasileiro Vilém Flusser."

Erick Felinto
Instituto Humanitas Unisinos
16/06/2011

Leia o artigo de Erick Felinto na íntegra aqui.

Reproduzido do FNDC

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A internet muda os paradigmas da relação entre comunicação e poder. Entrevista com Manuel Castells


Entrevista com Manuel Castells por Juan Cruz do Jornal El País, sobre o livro "Comunicación y Poder"

"O que a internet te proporcionou?

Fundamentalmente, a capacidade de pesquisar da maneira que nunca pude fazer. A capacidade de estar informado ou de poder estar informado simultaneamente em que as coisas acontecem no mundo, do que aconteceu no mundo ou do que aconteceu há cinco mil anos. Na internet temos a capacidade de acessar todas as informações e todas as expressões culturais produzidas no planeta desde que o mundo é mundo.

Para um pesquisador, a internet é preciosa porque em grande medida não necessitas de biblioteca. Para os pesquisadores em ciências sociais, mas também para os pesquisadores de outras áreas, o fundamental é poder acessar as pesquisas mais recentes. Acabei as pesquisas sobre o meu livro há um ano e o imprimiram rapidamente, mas mesmo assim demorou. Um pesquisador necessita estar a par do que acontece em cada momento, tanto nas ciências sociais como em qualquer outro tipo de ciência porque as mudanças científicas são tão rápidas que podes estar repetindo coisas sem sabê-lo.

Agora, com a internet, se sabes onde buscar – o que é a grande condição – e o que buscar, podes estar sempre atualizado.

Segunda coisa. Me permitiu estar em comunicação ininterrupta – já falando pessoalmente e de mim – com qualquer pessoa com quem quero estar em comunicação, cada minuto, cada dia. Minha filha vive em Genebra, a filha da minha mulher na Sibéria, dois netos em Genebra, outra neta em Los Angeles, minha mulher e eu viajamos muito. Sempre estamos em contato. A família está absolutamente em contato. Minha irmã mora nos arredores de Barcelona, esteja onde estiver, sempre estamos em contato. Com a minha filha falamos diariamente. Não apenas por e-mail, mas pelo Skype, gratuitamente".

Leia a entrevista completa na página do IHU/Instituto Humanitas Unisinos clicando aqui.


Leia "Quem tem medo do Wikileaks", de Manuel Castells clicando aqui.