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terça-feira, 11 de novembro de 2014

Juliana Doretto: Por que gosto de crianças


Por que gosto de crianças.

Por Juliana Doretto
Coluna Ruth de Aquino
Época

Esqueça essa história de que elas são puras, angelicais e ingênuas. O ser humano não é assim; e elas não são alienígenas. Também não quer dizer que perto delas nos sentimos mais jovens. Balela: elas têm uma energia que nos faz lembrar como já tivemos mais fôlego. Elas são engraçadas o tempo inteiro? Ao contrário. As menores não se constrangem em mostrar a tristeza e, como num drama televisivo mexicano, aprofundam a dor enquanto podem.

Eu gosto de crianças porque elas são um desafio. Pouco treinadas na arte das regras sociais, subvertem os códigos das respostas esperadas, dos comportamentos aceitáveis, do contrato de boas maneiras. Eu não quero dizer que adoro crianças birrentas e mimadas. Aliás, é comum ouvirmos hoje que os “miúdos”, como se diz cá em Portugal, estão cada vez mais terríveis. Mas não há nada de errado ou diferente com os meninos e meninas de hoje. O que parece ter mudado é o crescimento de uma dificuldade profunda dos pais em mostrar a seus filhos que a vida cotidiana é formada também por tijolos de frustração, entremeados por incompletude em massa.  O processo de educar, no sentido doméstico do termo, é mostrar que fazemos o possível, e conseguimos o que podemos.

A subversão a que me refiro é a resposta malandra, a esperteza de se saber mais inteligente do que seu interlocutor, mas esconder isso. Ou melhor: estar acostumado a sempre ser subestimado, e dar a volta, com brilhantismo, nessas situações. Eu, como pesquisadora e como jornalista, entrevisto meninos e meninas há uns bons anos. Já cansei de contar em quantas situações me senti uma estúpida, depois da argumentação brilhante da criança à minha questão – que eu achava muito bem articulada, até o seu desmonte total.

Não comece, caro leitor, com o discurso de que são as tecnologias que as fazem mais brilhantes do que nós éramos quando crianças. Você e eu já não nos lembramos muito bem das situações vividas na nossa infância. E, pelo que eu saiba, todo pai e mãe babões dizem ter filhos superdotados até que o contrário seja mostrado. E isso desde muito antes do telefone de disco.

Além disso, em minha pesquisa de doutoramento, entrevisto crianças com diferentes graus de uso das tecnologias. E não houve, nesse ponto em questão, nenhuma diferença berrante. A criança é esperta porque está aprendendo a viver num mundo onde poucos acham que ela tenha algo importante a dizer: e isso se refere sobretudo ao lugar que lhes é atribuído por excelência, a escola. Que o digam os bravos professores que lutam contra essa ditadura do silêncio infantil na sala de aula.

Vamos a exemplos, para clarificar meu ponto. Dou um livro a um menino e pergunto se ele gostou: “Não sei, ainda não li”. Pergunto a outro se ele é amigo de todas as pessoas que ele tem no Facebook: “É claro que não. Desde quando amigo do Facebook é amigo de verdade?”. Pergunto à menina se o celular dela já tocou no meio da aula: “Já, foi sem querer, mas eu tento cumprir as regras. Já minha professora atende sempre...” E, no meio da entrevista, a garota disse que o papo estava muito chato, e resolve parar a conversa para tocar violão.

Já o adulto resiste bravamente à entrevista moribunda, e responde a todas as questões do entrevistador, mesmo com ar enfadonho. Afinal, é preciso ser educado. Falar mal de outra pessoa numa conversa com um jornalista? É preciso pensar bem nas consequências do ato. Mostrar que a pergunta do investigador foi estúpida? Melhor não ser rude, ainda que a expressão facial do entrevistado não esconda (por mais que ele queira) sua opinião.

Por isso, para se relacionar bem com crianças que não são nossas filhas ou alunas (ou seja, com quem não temos muita convivência) é preciso, em primeiro lugar, ter respeito. Porque dali não virá o tipo de comportamento a que estamos acostumados. Dali virá uma esperteza refinada e uma sinceridade ponderada: elas já sabem que não podem contar tudo, mas a forma como escolhem o que dizem não está no nosso catálogo social. Faz parte da maneira como elas descobrem o mundo, dos códigos que já absorveram ou não.

Por isso eu gosto de crianças. Porque elas são tão mais bem-humoradas do que os adultos. Elas tiram sarro na nossa cara, e fingem que não têm consciência do que estão a fazer. Com as bobagens que andamos ouvindo em época pós-eleitoral, seria bom aprender com a brejeirice das crianças.


Juliana Doretto . Paulista, jornalista e faz doutorado em Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa

Reproduzido de Época
09 nov 2014

Conheça a página “O Jornalzinho” (Diário de uma pesquisa de jornalismo infantil) de Juliana Doretto, e o perfil da jornalista/pesquisadora, clicando aqui. Mais informações sobre seu livro "Pequeno leitor de papel", clicando aqui.


Comentário de Filosomídia:

Gostei muito de sua crônica e das cutucadas que nos dá para refletirmos a respeito de como nos relacionamos com as crianças - filhas e mesmo as desconhecidas - na vida, em casa, na escola e na pesquisa nesses dias atuais. Nossa "desconcertância" em frente a elas coloca esse desafio de apurarmos nossas percepções e superarmos limites que colocamos nessa relação eventualmente marcada por preconceitos, presunção na "vontade de dominação" delas e, decerto mal humor.

Lembrei de Jorge Larossa em "O enigma da infância" no "Pedagogia Profana" e algumas citações bem provocativas dele, por exemplo, Peter Handke: "nada daquilo que está, constantemente, citando a infância é verdade; só é aquilo que, reencontrando-a, a cita". Você, Juliana Doretto, citou e mandou bem. Obrigado e, vamos que vamos nos desconcertando, des-cobrindo essa criançada e nos des-cobrindo com elas em meio a esse mundo, digamos, tão complicado, que nós insistimos em viver...

Bem ver, bem ouvir e bem falar com as crianças é difícil, é fácil...

Paqonawta

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Pequeno leitor de papel – Um estudo sobre jornalismo para crianças, de Juliana Doretto


Pequeno leitor de papel

Observatório da Imprensa
29/07/2014 na edição 809

Pequeno leitor de papel – Um estudo sobre jornalismo para crianças, de Juliana Doretto, 116 pp, Alameda Casa Editorial, São Paulo, 2014; R$ 38

[Do release da editora]

O campo do jornalismo impresso responde por um espaço importante nos discursos midiáticos contemporâneos, especialmente com os desafios trazidos pelas injunções tecnológicas na produção, na distribuição e na recepção dos mais variados produtos. Diferentes modos de difusão da informação, e sua interface com a produção audiovisual e digital, alargam o campo de abrangência das notícias e dos seus modos narrativos.

A segmentação de públicos cada vez mais específicos é forte marca da produção jornalística atual, especialmente em sua feição escrita. Nesse cenário, um novo perfil se destaca por seu dinamismo e singularidade, e também no que diz respeito à inventividade de sua proposta: o jornalismo infantil, que, mesmo não sendo propriamente novo, adquire cada vez mais visibilidade e importância. As variadas formas dessa prática editorial, bem como o complexo processo de sua concepção, criação e divulgação, são o tema deste livro.

Em Pequeno leitor de papel – Um estudo sobre jornalismo para crianças, Juliana Doretto busca delinear esses leitores, e seu contexto, em dois suplementos infantis brasileiros, a “Folhinha” e o “Estadinho”, definindo-os como as crianças entrevistadas pelos cadernos, cujas falas aparecem nos textos publicados. Foram analisadas capas e reportagens principais de 25 edições de cada um dos dois suplementos, no segundo semestre de 2009, e os resultados apontam para a concentração de temas, para a pouca variação no perfil dos entrevistados e para o uso abusivo de textos imperativos, por meio de levantamento abrangente e minucioso.

Sobre a autora

Juliana Doretto é professora e jornalista. Atualmente, desenvolve pesquisa de doutoramento em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova Lisboa, onde investiga a participação do leitor nos veículos impressos produzidos para a audiência infantil. Defendeu mestrado pela USP. Como repórter, passou pelo portal UOL e por diversos suplementos da Folha de S.Paulo.

29 jul 2014

Saiba mais sobre o tema no blg da autora, O Jornalzinho, clicando aqui.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Em vídeo, Crianças falam sobre a crise em Portugal



Em vídeo, Crianças falam sobre a crise em Portugal

A Rádio Renascença, de Portugal, fez um vídeo apenas com crianças (“miúdos”, em Portugal), em que eles falam sobre a crise econômica pela qual o país passa. Sem narração e sem as perguntas feitas pelos repórteres, são as frases dos meninos e das meninas que constroem a narrativa: elas falam sobre os efeitos da crise, o medo do que pode vir a acontecer por conta da recessão (que não são pequenos), o que pode ser feito, como os que os políticos portugueses devem agir…

Um belo exemplo de jornalismo com crianças e, ao mesmo tempo, para as crianças [aina que não direcionado a elas, já que a rádio tem um caráter generalista). Um vídeo feito com respeito pela opinião dos "miúdos", sem tratá-los como pessoas ingênuas, que nada sabem da sociedade em que vivem. Luís, 9 anos, diz que "não gosta de ouvir falar disso [da crise]… Porque preocupa-me”. E dá um grande suspiro… Já Alexandre, 8 anos [na foto acima] resume assim o cenário mundial (ou, pelo menos, europeu): “Uns conseguem saltar por cima do buraco e os outros afundam-se”.

Assista ao vídeo:

Reproduzido de O Jornalzinho
03 jul 2014

Leia também:

"Pesquisa diz que 38% das crianças leem notícias, mas entrevista pais" (14/10/13) por Juliana Doretto, clicando aqui.

"Jornais do Brasil e de Portugal ouvem pouco as crianças, diz estudo" (05/06/14) por Juliana Doretto, clicando aqui.

"Criança de jornal: representações de infância e juventude no Brasil e em Portugal", por Juliana Doretto (artigo), clicando aqui.


terça-feira, 10 de abril de 2012

Entrevista com Michel Teló é notícia mais vista em telejornal para crianças da Holanda


Entrevista com Teló é notícia mais vista em telejornal para crianças da Holanda


Por Juliana Doretto*


Pelo que você pode ler no texto aí ao lado, embaixo da minha foto, eu faço doutorado em comunicação social. E o tema da minha pesquisa é jornalismo feito para as crianças. Pois bem. Eis que descubro um telejornal destinado a meninos e meninas da Holanda, o Jeugdjournaal – algo que não temos no Brasil, infelizmente. Vasculhando o site, encontro o “top 10″ de março, com as notícias mais populares do último mês. E qual não foi minha surpresa ao ver que a campeã é uma entrevista com Michel Teló, na qual o cantor fala em português e manda beijo para as crianças da Holanda. O resto do vídeo está em holandês, e mostra garotos cantando e dançando “Ai se eu te pego”. Veja abaixo:



E as crianças da Holanda não estão sozinhas. Alguns meninos e meninas da República Tcheca também já arriscaram alguns passos da dança. Nos dois casos, eles não parecem saber o que cantam. Não falo holandês, mas, pelo que se pode entender com tradução automática, o texto do telejornal diz algo como ”Michel Teló canta em português sobre como a garota mais bonita na discoteca o deixa louco”. Ainda segundo a tradução, a notícia relata que “a maioria das pessoas não entende nada da música, mas muitas crianças cantam”.

Reproduzido de Cidades do Leste . Notícias da Europa de lá, pela jornalista Juliana Doretto (05/04/2012)


  Juliana Doretto é jornalista e vive em Praga, na República Tcheca. Doutoranda na Universidade Nova de Lisboa e mestre em ciências da comunicação pela USP (Universidade de São Paulo), trabalhou como repórter e redatora do portal UOL, de suplementos da "Folha de S.Paulo" e do jornal "Agora". Fez parte do Curso Abril de Jornalismo de 2003.


Leia também:



Na República Tcheca, “Ai se eu te pego” vira coreografia infantil

Em vídeo, crianças imitam os passos originais e até cantam em português


Por Juliana Doretto

Parece que a “praga” chegou à República Tcheca. E atingiu as crianças. Uma professora tcheca,  Lucie Tvrdoňová (especializada em Zumba, um programa intenso de ginástica com dança), resolveu criar uma coreografia para seus alunos a partir da canção brasileira.

Na apresentação, meninos e meninas esticam os braços e os trazem juntos ao corpo, ao som de Michel Teló proferindo a frase “ai, se eu te pego”. E, no final, os garotos e as garotas cantam, em bom português, “Delícia, delícia. Assim você me mata…”. O resultado se vê aqui:



Se os pais dos alunos de Tvrdoňová quiserem saber do que se trata a música, podem achar a tradução numa página tcheca: afinal, o trabalho de Teló, assim como em outras partes da Europa, também faz sucesso por aqui, como indicam os rankings de “mais pedidas” em rádios tchecas, como a 107FM e a Jih Radio.

Reproduzido de Cidades do Leste . Notícias da Europa de lá, pela jornalista Juliana Doretto (02/01/2012)


Veja mais vídeos no Youtube do canal para crianças da Holanda - Jeugdjournaal - clicando aqui, e a página dele na Internet clicando aqui.


Comentários de Filosomídia:


Tsc... tsc...