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quarta-feira, 15 de junho de 2011

A mídia como freio social


A mídia como freio social

Na semana passada, durante debate na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, estudantes questionavam por que razão a imprensa tradicional funciona como um freio na sociedade, embora se esforce por parecer moderna e vanguardista.

Os participantes do evento não avançaram na discussão, mas o tema merece alguma reflexão.

De fato, se observarmos os movimentos sociais, iremos constatar que, de modo geral, a imprensa, como instituição, não atua de modo constante como força mobilizadora de mudanças. Quase sempre faz conjunto com as forças mais conservadoras da sociedade.

Há exceções, condizentes com os papéis que assume este ou aquele veículo de comunicação, principalmente no temas comportamentais ou mundanos.

Mas, no que se refere aos assuntos centrais do noticiário, como a política e a economia, pode-se perceber que a primeira resposta de jornais, revistas e meios eletrônicos associados às empresas dominantes de comunicação é sempre a mais conservadora.

Continuidade

Mesmo quando algum evento extremo ou escandaloso evidencia a necessidade de reformas, por exemplo, a imprensa se omite no aprofundamento dos debates e deixa esfriar o ânimo da mudança. Nesse sentido, pode-se alinhar uma série de acontecimentos que nunca merecem continuidade ou destaque no noticiário.

Por exemplo, as propostas legislativas de iniciativa popular, as consultas públicas e outras formas de suprir deficiências do sistema representativo são apenas pontualmente noticiadas mas nunca merecem o tratamento de alternativas válidas para as omissões do Parlamento.

Da mesma forma, os crimes na fronteira agrícola da Amazônia saem nos jornais mas logo desaparecem e nunca se discute o conflito agrário e as possíveis relações entre mandantes de assassinatos.

Instituição a serviço da imobilidade

Mesmo que rotineiramente se dedique a expor as mazelas do sistema, a imprensa se nega a colocar em debate público a possibilidade de mudanças estruturais, ainda que cabíveis no regime democrático e republicano.

Uma das causas pode ser o fato de que a mídia, em sua natureza, seleciona e oferece padrões, dita modas e modos, incorporando novos comportamentos às estruturas sociais e culturais já consolidadas, domesticando a novidade para que caiba nos padrões convencionais. Trata-se de uma instituição a serviço da imobilidade, ou de uma mobilidade relativa e sempre sob controle.

Como todas as instituições que fiscaliza e critica, a mídia tem ojeriza a rupturas. Por essa razão, é vista mais como freio do que como acelerador de mudanças na sociedade.

Por Luciano Martins Costa em 14/06/2011 na edição 646
Comentário para o programa radiofônico do OI, 14/6/2011

Reproduzido do Observatório da Imprensa

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Cobertura jornalística de tragédias vs. Publicidade para criminosos vs. Manifestações de leitores e telespectadores


COBRINDO TRAGÉDIAS

Publicidade para criminosos

Por Luciano Martins Costa em 15/4/2011

Comentário para o programa radiofônico do OI, 15/4/2011

A imprensa de modo geral deu publicidade a manifestações antissociais que pipocam desde o início desta semana em comunidades da internet, relacionadas ao assassinato coletivo ocorrido numa escola do Rio de Janeiro.

Do Cratonotícias, no Ceará, à redação da Folha Online, em São Paulo, editores decidem que é bom jornalismo dar repercussão a criminosos que se expressam no anonimato da rede.

Desde pelo menos o dia 10 deste mês, portanto apenas três dias após o massacre que deixou 12 crianças mortas, tais notícias se reproduzem na internet, para glorificação de seus autores.

Na quinta-feira, dia 14, quando se completava uma semana do crime hediondo, as manifestações de desequilibrados em apoio ao assassino ganharam espaço em sites de grande reputação.

Ainda que os textos, de modo geral, condenem liminarmente tais manifestações, informando que a polícia especializada está investigando sua autoria, a questão permanece: a imprensa, seja através de seus sites, blogs, seus diários de papel ou revistas semanais, deve dar platéia a esses indivíduos?

Delicadeza e bom senso

Há muito se discute o que deve fazer o jornalista diante de pessoas ou grupos que têm comportamentos claramente patológicos associados à necessidade de publicidade.

Aprende-se nas escolas de jornalismo que notícias sobre suicídio, quando publicadas com destaque, podem estimular ações semelhantes.

Da mesma forma que não se deve divulgar nomes completos de crianças e adolescentes quando envolvidos em episódios degradantes, também é ponto comum ao bom jornalismo que não se reproduz o nome de vítimas de ações deletérias quando a notícia, em si, representa um agravamento da injúria.

Os casos de estupro, por exemplo, exigem extrema delicadeza por parte dos jornalistas.

No caso desse episódio que ainda choca a opinião pública, a publicação do nome do criminoso não poderia estimular outras mentes doentias a repetir o gesto insano? Não seria o caso de um pacto entre os jornalistas para omitir, daqui para a frente, o nome ignominioso?

Esse é um assunto para reflexões cuidadosas nas redações e nas diretorias das empresas de comunicação.

Reproduzido do Observatório da Imprensa

Leia também no Blog "Notícias da TV brasileira": "Fantástico e Domingo Espetacular perdem a mão ao disputar detalhes escrabosos da chacina", e outros textos  clicando aqui.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A pressa que desinforma


"A rapidez com que "envelhecem" as revistas semanais de informação é um dos sintomas de como os novos meios, reestruturados pelas redes sociais virtuais, afetam o jornalismo tradicional. Observe-se, por exemplo, como, já na segunda-feira desta semana, as reportagens publicadas nas revistas brasileiras sobre a revolução contra a ditadura no Egito pareciam superadas em relação ao que traziam os jornais.

O fenômeno ainda merece estudos mais aprofundados, mas é de se questionar que recursos precisarão inventar as publicações de periodicidade semanal para manter a atenção de seus leitores diante da dinâmica dos fatos.

Já se disse, nos anos 1990, quando começou a era da Internet, que jornais e revistas seriam obrigados a oferecer mais reflexão do que informação, mas não se pode afirmar que a profusão de colunas, artigos e outros penduricalhos esteja ajudando o leitor a entender melhor o contexto do noticiário. Persiste ainda, nos meios impressos, certa afobação em definir e explicar os acontecimentos, quando na verdade talvez esteja em curso a valorização gradual e segura do significado em lugar do opiniário puro e simples.

(...) As notícias de um retrocesso não combinavam com o relato do "front", transmitido dos telefones celulares de manifestantes para as redes da internet, dando conta de que Mubarak havia sido alijado da cúpula do governo. Só mais tarde, quando o comando militar divulgou o comunicado oficial informando sobre a destituição do ditador, a imprensa ocidental assumiu que o tirano havia caído.

Entretanto, desde a manhã as redes sociais refletiam o clima de festa no Cairo, porque os manifestantes haviam entendido que, ao ser deixado de fora da reunião da cúpula de governo, Mubarak estava claramente destituído. A imprensa tradicional só assumiu esse fato como verdadeiro após a divulgação de uma nota oficial do comando militar.

Quando a pressa em interpretar os fatos se sobrepõe ao cuidado na apuração e na análise, corre-se o risco de antepor a opinião do jornalista ao verdadeiro significado do acontecimento".

Por Luciano Martins Costa em 15/2/2011
Comentário para o programa radiofônico do OI, 15/2/2011

leia o texto completo no Observatório da Imprensa clicando aqui.