Mostrando postagens com marcador Polititica. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Polititica. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 2 de outubro de 2012

As notititícias da dieta informacional de cada dia...



As notititícias da dieta informacional de cada dia...

Leo Nogueira Paqonawta
Filosomídia

O que digerimos do que a “mídia” histérica – mas sagaz – nos “alimenta” cotidianamente fermenta esse “angu de caroço” numa sociedade que devora a notititícia como se fosse morrer caso não chupasse, até à medula, do osso duro de doer da receitinha dos “jornais do almoço” que estão por aí, Brasil e mundo afora...

Essa sociedade midiaticamente obesa está adoentada e vidiotizada, sem perceber isso quando se põe à frente das telinhas e páginas dessas empresas de anti-comunicação definindo gostos, paladares e o menu da discussão que vai engasgando a todos 24 horas por dia, sete dias por semana, ano após ano...

Quantos de nós já paramos para ver – e re-ver, re-fletir, re-pensar - como as redes de anti-comunicação anunciam o prato do dia desde a noite anterior e seguem pela madrugada e manhãs, requentado a marmita do vomitório dos especialistas de plantão em assuntos de toda e qualquer ordem?

Quem são esses homens e mulheres, apresentadores e porta-vozes de uma maneira de ver o mundo que nos impõem como única maneira de crer?

Para a população ingênua e adestrada no consentir ao discurso da ordem do dia, como não acreditar nessas pessoas bem apessoadas e vestidas nos trinques que desfilam das “antigas” bancadas de locutores para o passeio pelas telinhas, em geral esfregando as mãos como querendo expressar que “já estamos no papo”, deles?...

Aquela infeliz adolescente de Florianópolis com o seu “Diário”, alçada ao estrelato nos programetes que fazem sucesso nas grandes redes - e na “Rede Social” da hora - é uma dessas vítimas da dieta informacional que nos enfiam goela abaixo pelo dia inteiro, por todas as formas. O caso é que, de vítima, ela (e com certeza seus familiares) passaram (talvez) inconscientemente à condição de co-autores dos crimes perpretados em nome da liberdade de expressão por essas companhias produtoras e distribuidoras de informação como entretenimento, cereja do bolo da des-informação em suas receitas sensacionalistas.

O que parece ser democratização das vozes, “pelos”, “através” e “dos” meios de comunicação não é senão demoniocratização, demonização de uns ou alguém, aquela coisa de apontar e achar culpados nisso e naquilo quando todos temos o rabo preso a esse sistema de coisas que impera em nossas vidas: a conveniência, a conivência, o comodismo, a hipocrisia como máscara no modo de ser desse capitalismo.

E, a histeria se retro-alimenta a cada “tocar” no assunto e no passar do dedo/mouse nos links que jorram des-informação, futricas, fofocas, meias-verdades e completas mentiras que fazem a delícia de todos os que consomem essa lavagem cerebral que nem porco aguenta, inclusive dos que também são chamados de PIG, aqueles que são os donos por detrás dessa lambança do chiqueiro midiático.

Haja colesterol ruim nas veias de quem tem sangue de barata que devora tudo isso, esse tititi e dis-que-me-diz disfarçados de “notícias” relevantes, que não podemos deixar de saber, e consumir, de sair de casa sem sabê-las, de tê-las instantaneamente, aonde estivermos, ao toque de um dedo no aplicativo das engenhocas tecnológicas que tantas pessoas têm acesso cada vez mais.

Essa neurose doentia e insana toda é que produz esses infelizes momentos protagonizados por uma adolescente indisfarçavelmente de poucas palavras, e de muitas tecladas, obviamente secundada por um “staff” que lhe apoia, e outro que se aproveita da situação para criar mais e mais des-entendimento e confusão premeditada, calculada milimetricamente como ração de engorda dessa vara desvairada e incauta, ingênua, em-bobecida, vidiotizada, que coloca sua fé naquilo que lhe dizem, justamente por não terem opinião formada sobre nada.

Na ampliação dessa específica fala postada nas redes é que aquelas empresas também engordam seu faturamento, porque elas sobre-vivem das esmolas e dos restos de cada um que consome, ou paga com suas moedinhas para ter acesso a toda essa dieta, os sub-viventes.

Também não é à toa que até nos supermercados as gôndolas próximas aos caixas se enchem de revistas das mesmas companhias monopolizadoras, para que os compradores desse modo-de-vida enfiem nas sacolinhas plásticas a mais recente dica disso e daquilo, os moldes do vestido e do cabelo da fulana de tal, as receitas requintadas, o corpitcho do galã desnudo, os guias de viagem e de carros, os jornalecos com toda sorte de anúncios que vão misturados aos potes de manteiga e salsichas, sacos de arroz e feijão, o pão deles - das mídias - de cada dia. Tudo parece tão normal, essa oferta opressante e agressiva de quinquilharias do mundo do consumo...

Essa liberdade de opressão das empresas chamadas de “mídias”, que monopolizam o discurso, a voz, a fala também em nome a democracia teria limites? Quem dá ou determina os limites contra esse assédio sem fim das mídias? O marco regulatório a partir do governo, as ONGs, a sociedade civil, as donas de casa, os pais e responsáveis, a comadre e o compadre de nossa madrinha ou padrinho, os avós ou tias, as instituições de defesa dos direitos humanos, os sindicatos, as associações de classe, as escolas, os professores?

O caso é que a indigestão midiática está posta como mal do século sem que quase ninguém se aperceba disso muito claramente.

As escolas como aparato ideológico do mercado - capitalista, diga-se de passagem - são no mais das vezes des-merecedoras de recursos constitucionalmente determinados para a Educação, e professores fazem o que podem, e até onde têm forças, para que os projetos políticos pedagógicos de cada unidade escolar contribuam para a boa formação das crianças e adolescentes em nosso país. Tantas outras vezes acabam se rendendo à reprodução desse estado de coisas des-humanizante que muitos polititicos fazem questão de perpetuar, esses mesmos que se fazem vassalos do sistema hegemônico e consagrado ao consumo desmedido. Eles até são pagos para isso...

E, as notititícias, como fofocas e futricas diárias desse mundo agonizante, vão e vêm em todos os horários, nobres e plebeus de todas as classes de consumidores, trazidos pelas empresas e grandes corporações que controlam os meios comunicação.

Salve-se quem puder dessa dieta informacional cada vez mais intragável e, quanto pudermos, muito bom ter os olhos críticos muito maiores que o que nossa barriga, e paciência, possa suportar. Chega um dia, ou uma hora, em que não dá mais pra ficar chupando o dedo, até o osso, olhando tudo isso passar à nossa frente e, é preciso agir e re-agir, indignar-se contra isso, contra qualquer forma de opressão e agressão, seja das mídias e, até mesmo quando no caso ela venha no que aparentemente seja por uma adolescente que age “sozinha” nas redes sociais.

Em sã consciência, nós não devemos ser cúmplices disso, dessa liberdade de opressão e opinião que com o tempo enche tanto o saco - o de plástico do supermercadinho da mídia e o metafórico - que é preciso dizer basta! Basta de re-produzir a opressão, a agressividade legitimada pela mídia que diz saber das coisas e ser a dona da verdade! “Hay que endurecerse” contra qualquer tirania...

No mais, “deixai vir às mídias as criancinhas”, porque vai que aqueles que se fazem mesmo de crianças é que têm algo realmente importante, e digno, de relatar, de falar, de com-partir ao mundo sob os únicos holofotes de uma alegria interior que re-encante e eleve o mundo e suas gentes...

Que isso seja aspirado e possível, também e especialmente, pela escola pública, por sua comunidade compromissada e responsável, engajada e sincera nos esforços pela Educação de qualidade, com dignidade, paixão, bem querer e bem viver para todos.

...

Bem que vejo tudo isso...

Bem te quero, crianças... e adolescentes, homens e mulheres com direitos e deveres nesse mundo que necessita tão urgentemente dessa Educação, e da mais pura alegria de viver, de ternuras e amores tão esquecidos por nós...

...

Leia também:


Postagem de Sérgio Cardoso Morales sobre o "Diário de Classe" no Facebook, clicando aqui.

"Manifesto das Crianças" clicando aqui.

sábado, 30 de junho de 2012

A Voz da Criança do Brasil...



A regulamentação da Voz do Brasil

Por Beto Almeida e Chico Sant’Anna

“Nós somos os cantores do rádio
Nossas canções cruzando o espaço azul
Vão reunindo, num grande abraço
Corações de norte a sul...”
Braguinha

O líder do PT na Câmara Federal, deputado Jilmar Tatto tomou uma atitude corajosa de bloquear a votação do projeto que flexibiliza o horário de transmissão da Voz do Brasil, Cavalo de Tróia que traz consigo o sonho neoliberal de extinguir o programa o proporcionar uma hora a mais de rádio-baixaria, alienante e de um jornalismo precário, comandado pela ditadura do mercado.


Os argumentos do líder petista são corretos: o objetivo e acabar com o programa. Tentaram por via judicial, mas não tiveram êxito. Milhões de brasileiros o escutam assiduamente, para a grande maioria dos municípios brasileiros, sem a presença de jornalismo, nem impresso nem de rádio ou TV local, é a Voz do Brasil a única oportunidade de ter acesso a informações relevantes que decidem na vida do cidadão. Ou seja, as decisões do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Tato tem razão, sobretudo se considerarmos que o rádio comercial não oferece pluralidade informativa alguma, submetido que está aos poderes e interesses econômicos , além de sonegar ou deformar, não informa sobre os atos dos poderes públicos, já que parte de um fanatismo editorial anti-estado.

O grande empresariado de mídia, maior interessado no suculento horário a ser vendido, lança inúmeros preconceitos contra o programa radiofônico, hoje o mais antigo do mundo em veiculação. Entre eles o de tentar criticar, injustamente, criticar sua inutilidade. Certamente não escutam a veiculação já que a Voz do Brasil presta inúmeras informações importantes à sociedade brasileira, em sua maioria sem qualquer acesso à leitura de jornais que, como sabemos, registram credibilidade e circulação decadentes. Alguns exemplos: informações sobre o Fundeb, fazendo com que a população de cada município saiba que os recursos já estão em mãos do prefeito, possibilitando a cobrança cidadã de sua aplicação.

A missão pública do rádio

A Voz do Brasil veicula também, e amplamente, as informações sobre os recursos de cada programa do Ministério da Saúde, possibilitando controle e participação dos conselhos locais. Igualmente, informações sobre os projetos ligados ao Ministério da Pesca chegam, diariamente, ao litoral e às populações ribeirinhas pelo rádio, alcançando as embarcações onde estiverem. Há ainda a divulgação sistemática, pela Voz do Brasil, de informações sobre programas como o Pronaf, o PAA, ou sobre o Pronera, todos destinados à famílias que vivem no campo, nos assentamentos ou em grotões isolados, alcançados , em horário adequado, pelo sinal do rádio. O camponês também se informa sobre os preços mínimos. Basta que se consulte aos parlamentares da região amazônica que divulgam o preço da borracha da tribuna porque sabem que a Voz do Brasil será captada pelos seringueiros. Tem ou não utilidade social, cumprindo a missão pública do rádio.

Que pode ser aperfeiçoado, não há a menor dúvida. Mas, certamente não serão os editorialistas do Estadão ou da Fundação Milenium os maiores interessados neste aperfeiçoamento democrático do rádio, num país onde , recorde-se, é praticamente proibida da leitura de jornais. Aliás, sobre o Estadão, vale recordar que o inesquecível Monteiro Lobato, levou aos proprietários do jornalão a proposta de que aderisse e veiculasse uma nobre campanha para combater o analfabetismo. A resposta de um de seus proprietários é lapidar e deve ser para sempre lembrada: “ô Lobato, mas se todos aprenderem a ler e a escrever, quem é que vai pegar na enxada??” Não surpreende que argumentem agora contra o papel social desenvolvido pela Voz do Brasil.

Aperfeiçoar, não flexibilizar

O aperfeiçoamento da Voz do Brasil tem por base o fato de ser uma bem sucedida experiência de regulamentação democrática, podendo, por exemplo, ter sua versão televisiva, tal como foi o Diário da Constituinte, de 10 minutos diários na TV quando se escrevia a Constituição Cidadã. E pode também, sempre apoiada do fato de que é uma regulamentação, permitir que a Voz de mais brasileiros ecoe pelo Programa. Criar uma espécie de Direito de Antena na Voz do Brasil, por meio da qual seja ouvida também a voz das entidades da sociedade brasileira.

Talvez seja este um dos fatores a tirar o sono da oligarquia midiática brasileira, pois em vários países da América Latina, por meio da regulamentação democrática e apoiados no voto popular, governos estão possibilitando a prática da pluralidade informativa, sonegada quando a mídia é exclusivamente e ditatorialmente comercial. Para compensar o predomínio esmagador do rádio comercial, uma hora de programação diária, e apenas no rádio, é até uma cota tímida, embora democrática.

Conspiração?

Também para aperfeiçoar, pode-se por meio de medidas administrativas no âmbito da EBC fazer os ajustes necessários para que a veiculação do programa seja para o horário mais adequado nos estados com fuso horário. Não é necessário alterar a lei para isto. Fica claro que o objetivo é outro: tornar impossível a fiscalização sobre 7 mil emissoras de rádio - a Anatel não tem a mais mínima estrutura para isto - e levar o programa a ser inaudível, esquecido, facilitando sua extinção posterior.

Sobre dificuldades de fiscalização, basta dizer que a esmagadora maioria das rádios brasileiras hoje não cumprem a legislação no que toca a produzir, obrigatoriamente, um percentual de programação jornalística local. A Voz do Brasil é , para a maioria das emissoras, o único espaço jornalístico. Sua estrutura e redação deveriam ser ampliadas, com sucursais em todas as capitais, trazendo ao conhecimento de toda a sociedade, a multifacética aventura sócio-economica do povo brasileiro em todos os quadrantes deste continente.

A palavra de ordem justa não é flexibilizar mas, sim, fortalecer, qualificar, aperfeiçoar, expandir o jornalismo público. Exatamente na linha contrária do defendido por certas fundações financiadas por recursos de sinistras instituições estrangeiras, como a Usaid, de países que querem a diluição do estado nacional, que interferem na vida de outros povos e até mesmo podem conspirar com a ideia da fragmentação do Brasil.

Era Vargas

É tola a argumentação de que a Voz do Brasil seria resquício da Era Vargas como se isto fosse negativo. Também a CLT é um “resquício” salutar da Era Vargas, tanto é que aquele ex-presidente pretendeu demolir a Era Vargas e , até hoje, periodicamente, surgem tentativas conspirativas do grande capital para “flexibilizar” a CLT. Também são produto desta mesma Era Vargas o Instituto Nacional do Cinema Educativo, dirigido pelos geniais Roquete Pinto e Humberto Mauro, aRádio Nacional, o Instituto Nacional de Música, dirigido por Villa-Lobos, gênio da raça.

E claro, é também fruto da Era Vargas o direito de voto à mulher, a licença maternidade que agora foi expandida para 6 meses, a Escola Nova de Anísio Teixeira, a indústria naval, a Cia Siderúrgica de Volta Redonda, a Petrobrás, a Vale do Rio Doce, cuja reestatização vem sendo defendida aplicadamente pelo MST, numa dialética aliança histórica com o baixinho dos pampas.

Assim, afirmar que é resquício da Era Vargas não desqualifica, ao contrário, como vimos é parte de um processo de conquistas do povo brasileiro. Claro, não é o que pensa o capital estrangeiro, as oligarquias e os novos sucedâneos da UDN. Que já se deram conta de que o presidente Lula fez importantes e significativas revisões sobre a avaliação que tinha sobre o papel de Vargas na história. A presidenta Dilma também valoriza sobremaneira o papel de Vargas, como tantas vezes já declarou.

Esta investida dos empresários do rádio não é a única. Há anos deixaram de veicular o Projeto Minerva, dedicado à nobre causa da alfabetização à distância, via rádio, com 30 minutos diários, que era veiculado logo após a Voz do Brasil. Em troca, temos hoje mais meia hora de rádio comercial e alienante.

Água potável

Vale lembrar ainda que quando pleitearam a concessão para a exploração de serviços de radiodifusão, os empresários firmaram contratos comprometendo-se a cumprir com todas as obrigações deles decorrentes. Estariam tentando agora uma quebra de contrato, o que pode ensejar uma perda da concessão. Comparando: como reagiria a sociedade se uma concessionária para o fornecimento de água potável, no meio do contrato, deixasse de adicionar flúor ou cloro no produto?

O projeto de lei que flexibiliza a Voz do Brasil , como apontou o líder petista, precisa ser muito melhor examinado. Ele não foi submetido ao plenário na Câmara e teve sua tramitação no Senado durante o ano eleitoral em que a Casa encontrava-se com menor atividade. Além disso, padece de um problema de técnica legislativa crucial: toda matéria legislativa sobre comunicação deve obrigatoriamente ser examinada peloConselho de Comunicação Social, e isto não foi observado até o momento.

Finalmente, não pode ser mais passional e fanático o argumento do campo do grande empresariado da comunicação afirmando que a Voz do Brasil humilha o povo brasileiro. O que humilha e desrespeita o povo brasileiro é um rádio comercial que agride a constituição diuturnamente, com práticas de anti-jornalismo, com o culto ao mórbido e à violência, muitas vezes casos xenófobo aos países sul-americanos, com os quais querente uma integração solidária. Ou, simplesmente, com a regular ausência de informações educativas, civilizatórias e humanizadoras. Em muitos casos, apenas durante a exibição da Voz do Brasil se vê algo de informativo, real e não aviltante.

Reproduzido de Blog do Miro, por Altamiro Borges
30 jun 2012

Comentários de Filosomídia:


Concordo plenamente com o deputado Jilmar Tatto na necessidade se aperfeiçoar e, segundo Altamiro Borges, Beto Almeida e Chico Sant'Anna "fortalecer, qualificar (...) expandir o jornalismo público" na Voz do Brasil, qualificando essa experiência de modo a aprofundar as questões da democratização dos meios de comunicação.


Do mesmo modo, a partir dessa regulamentação necessária para o setor, é importante destacar da possibilidade de maior participação de outras vozes da população brasileira, além do serviço prestado no noticiário dos poderes públicos. Se estes já têm os seus próprios canais televisivos na divulgação de suas ações, é imprescindível que a Voz do Brasil, na voz de seus cidadãos e cidadãs, também tenha espaço na programação deste horário nobre enquanto jornalismo público, feito pelo público, ampliando o alcance das rádios comunitárias espalhadas no país.

A Voz da Criança do Brasil

Eu defendo, inclusive, que haja espaço para a Voz da Criança do Brasil, ou seja, que a meninada brasileira se utilize do horário para também marcar presença e exercitar seus direitos, entre eles, o do reconhecimento da comunicação como um direito humano, na forma e conteúdo adequados ao entendimento infantil. Na falta de jornalismo e telejornalismo para crianças no Brasil no meio dessa programação infantil reconhecidamente estupidificante, é imperativo garantir às crianças um espaço para que também soltem, libertem suas vozes e sejam ouvidas em todas as faixas do espectro possibilitado pelas ondas da radiodifusão.

E, isso para que sejam não tão somente ouvintes, mas também produtoras de notícias na possibilidade de tornarem públicas as suas aspirações infantis nesse mundo que tantas vezes lhes nega a voz e participação, desde o lar até à escola, e nos demais espaços de convivência social.

É preciso aprofundar tal debate nas relações que se dão entre Educação e Comunicação, envolvendo profissionais das áreas, a sociedade civil organizada, laboratórios, universidades e cursos de formação de professores.

Conselhos Escolares de Comunicação Social

Quiçá de nossas instituições públicas e privadas de ensino nasçam osConselhos Escolares de Comunicação Social, onde a comunidade escolar participe criticamente incentivando para que desde a mais tenra infância os brasileirinhos e brasileirinhas participem ativa e criativamente na proposição e defesa de políticas públicas que lhes garantam a plena cidadania.

Essas são ideias lançadas ao ar... e, se temos naquele dístico da Bandeira Nacional a ordem por base e o progresso por finalidade, não nos esqueçamos do amor por princípio, algo que soa tão esquisito ainda hoje quando estamos tão distanciados na construção de uma sociedade na ótica do Bem Viver para todos... 

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Programas noticiosos na TV brasileira que as crianças assistem: a ridicularização e humilhação dos “entrevistados” como entretenimento


Programas noticiosos na TV brasileira que as crianças assistem: a ridicularização e humilhação dos “entrevistados” como entretenimento

A infeliz matéria da incauta e despreparada jornalista da Band, Mirella Cunha, é uma ponta do iceberg do que mal se revela como a falta do marco regulatório para o setor. Esse mau exemplo de (tele)jornalismo além de ser óbvio descumprimento do Código de Ética do Jornalista que ela e colegas juram defender, é desrespeito às cartas de direitos humanos, claro abuso de poder midiático dos donos dos meios de comunicação e, ostensiva demonstração do que os monopolizadores dos meios da produção das notícias pela televisão prestam como desserviço à nação. Entretanto, eles têm respaldo num consenso.

A começar do nome do programa onde a reportagem é exibida, vê-se o que as grandes redes de televisão "escolhem" ser urgente para o Brasil, e para o telespectador ter conhecimento: a exploração da violência como entretenimento a título de informação. Coube a essa “entrevistadora” a infelicidade de ser a gota d'água que entornou escandalosamente de um oceano de barbaridades do telejornalismo sensacionalista e burlesco. Boris Casoy e Datena que o digam. Ironia do destino e rumo que toma esse tipo de abordagem, também da mesma emissora...

A ridicularização e humilhação dos “entrevistados”, compreendidos como infratores detidos ali na delegacia, não justifica que haja mais violência em cima do suposto delito cometido. Telejornais e telejornalescos chamam de “bandidos” aqueles que, no final das contas, são as vítimas de um sistema econômico que produz a exclusão social e educacional, os marginalizados à beira do caminho da vida com um mínimo de dignidade humana.

Entendido assim, não seria mais apropriado dizer que aqueles que contribuem para esse estado de coisas são os que deveriam ser chamado de malfeitores. Essas pessoas que se mostram de colarinho branco e ternos escuros, ora trajando vestidinhos com decote bem talhado não se associam e são comparsas feitos porta-vozes da “bandidagem” proprietária das mídias eletrônicas? Essência, conteúdo e forma retransmitidos à exaustão por detrás das bancas ou cenários de apresentação das notícias, isso não caracteriza associação criminosa para fins escusos?

Tanto telejornalismo quanto programas de esportes, eleitorais e “noticiosos” não passam pela Classificação Indicativa, que no mínimo poderia diminuir os efeitos negativos que causam às crianças que assistem a esse tipo de programa. Caso do “Brasil Urgente” da Band e programas similares - os noticiosos - são “desclassificados” no duplo sentido: passam na TV em qualquer horário e, se fazem de exemplo do que seja repreensível pela total anti-ética e des-compromisso com o Capítulo V da Comunicação Social da Constituição Federal, Artigos 220 a 224.

Debatida intensamente por alguns setores da sociedade nesses anos recentes, a Classificação Indicativa, marco regulatório para o setor, a outorga, renovação, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão no país encontra poucos defensores para a democratização dos meios de comunicação no Congresso - como a Frentecom - e entre a população em geral, enquanto os donos das grandes mídias fecham trincheiras quase que intransponíveis na perpetuação dessas situações que vão se tornando insustentáveis.

Se consideramos esse tipo de jornalismo uma afronta para com a sociedade, o bom jornalismo e os direitos humanos no país temos de ir à luta contra esse tipo de abuso, relembrando que fazem décadas que a des-regulação e relativa “passividade” dos telespectadores contribui para que esse crime midiático seja cometido todos os dias pela televisão.

Há que se participar mais do debate político e, fazer isso pelas redes sociais pode ser considerado um avanço, quando se escancaram e se dão a conhecer esses casos que ilustram o desrespeito de donos das mídias e maus jornalistas produzindo o anti-jornalismo.

A população não pode mais ser tão conivente com esse tipo de crime que é legitimado pelas infindáveis firulas do debate jurídico que se dá a respeito do que seja liberdade de expressão e comunicação como um direito humano. As urnas e as ruas são outros caminhos de participação e visibilidade dessa insatisfação crescente entre o povo ante os crimes de tortura e terrorismo midiáticos, que deveriam ser inafiançáveis e imprescritíveis, de lesa humanidade. Por não ser de bom senso, aquilo que é "consenso" para os donos das mídias no monopólio da voz nas grandes redes de televisão exige uma postura dos que reconhecem a comunicação como um direito humano. As grandes mídias perderam, há muito, a legitimidade que mantêm à força de maracutaias com outros poderosos da polititica.

Chegará o dia em que veremos nos tribunais e nas cadeias aqueles que perpetraram esses atos contra a população em níveis globais. Exemplos desses crimes temos aos montes pela questionável programação da televisão que existe por aí. Pessoas como aquela jornalista e seus patrões certamente deveriam pensar sobre isso, pois a voz do povo crescendo nas ruas e nas redes vai naquele conhecido dito popular: “aqueles que humilharam serão humilhados”. Essas matérias desclassificadas são apenas pontinhas do iceberg do que vai pelos bastidores da política, das salas de chefes e editores, das salas de aula dos cursos de jornalismo. A sujeira vai mais fundo, mas a mobilização contra isso vai mais forte.

As redes de televisão são apenas “territórios” de impérios de comunicação, informação e entretenimento e, todas competem entre si pela supremacia e liderança do mundo do mercado de verbas publicitárias. Territórios que se alargam aonde chega a audiência. A competição fica apenas por ali.  Os impérios se aliam para ditar as regras do jogo do vale tudo na garantia da privatização do setor e dos serviços, no fazer do interesse privado se passando por interesse/necessidade do público e, por isso, longe da interferência do Estado regulador. Regras que querem imexíveis e defendem a unhas e dentes nas amarrações e armações com os seus próprios representantes comerciais se passando também por representantes do povo que os legitimou nessa nossa sociedade democrática pelo voto.  Será por isso que acontece o que se dá com cinco reles artigos perdidos, e quase despercebidos e esquecidos pela população/audiência na Constituição Federal?

Como direito humano é luta, e não concessão dos conhecidos podres poderes coniventes com tais crimes, veremos num futuro não muito distante nossa Constituição ser re-evolucionada pela vontade direta do povo nas ruas. Se hoje ela é desrespeitada ao extremo pelos próprios “descendentes” dos constituintes que a criaram, junto com os aduladores e bajuladores da corrupção no mau uso das prerrogativas do cargo público que lhes foi conferido, tenho quase certeza de que os movimentos sociais e populares terão o poder que merecem das mãos do próprio Deus que, no preâmbulo da Carta, certamente não protege os que jurando com uma mão sobre a Carta, com a outra roubam as esperanças do povo de um país chamado República Federativa do Brasil.

Mais além do discurso bonito do ideal do Estado Democrático e de Direito para as massas verem, que a Carta Magna brasileira seja cumprida pela boa-vontade dos que realmente sejam representantes do poder que emana do povo, já farto das falcatruas que abençoa tantos mercadores do voto espalhados pelos corredores, salas e plenários do Legislativo, do Executivo e, quiçá do Judiciário que, em última instância, deveria proteger os direitos conquistados pela população. Nesse quesito, em especial sobre a Classificação Indicativa, o poder Judiciário emperra, e segue na (i)lógica do discurso/sofisma da inviolabilidade da liberdade de expressão e, da censura por regulação. Liberdade, qual e de quem e para quem? Censura, qual e de onde e para onde? Regulação é justamente delimitar onde o direito de um termina onde começa o do outro. Onde o direito que as empresas acham que têm de transmitir lixo pela TV e seus impérios afora toca o direito da sociedade ter reconhecida, e respeitada, a comunicação como um direito humano para o exercício da cidadania em plenitude.

Vamos à luta, que existem muitas batalhas pela frente. Se o telejornalismo e programas noticiosos não têm nenhuma categoria e desinformam do que seja urgente para o Brasil, se os programas esportivos distraem e alienam, se os programas eleitorais iludem e ocultam interesses contrários à democratização dos meios de comunicação, o povo é que ganhará essa guerra. Se os impérios do crime organizado dos donos das empresas de comunicação contra atacam na forma de dissimulação do que seja direito e deveres humanos, a sociedade civil avança passo a passo, voz a voz, ampliando nos canais alternativos e nas frentes aonde exista alguma decência

Que nos cursos superiores onde se formam jornalistas, nas escolas e lares as crianças sejam protegidas do que vem pela programação da TV nesse fogo cruzado de interesses do mercado e de audiência se sobrepondo aos imperativos da ética e dos direitos humanos. Que profissionais, professores e pais, consciente e responsavelmente, cuidem para que a infância e adolescência no mundo seja cuidada naquilo que lhes é negado por irresponsabilidade e malversação dos homens e mulheres em cargos públicos, ou sob as vestes de parda eminência, explorando a fé do povo em um mundo de justiça e equidade, vendidos que são ao deus do dinheiro fácil que lhes enchem bolsos, malas, envelopes, urnas, cuecas ou togas.

Basta de sermos ridicularizados, humilhados e expropriados da vontade que emana das ruas, que esse poder não pode, nem deve estar outorgado à má-vontade dos empodrecidos falsos representantes do povo nas diversas tribunas, tampouco nas mãos das concessionárias do bem público que são os donos das mídias que fazem de lixo a programação no palanque da TV brasileira.

Crianças do mundo inteiro, uni-vos! “Nós precisamos libertar as mídias, e vamos fazê-lo”, afirma Amy Goodman, e eu concordo plenamente com ela.

Leo Nogueira Paqonawta

PS: Um parêntese: (caberia aprofundar nesse caso protagonizado pela cinicamente sorridente jornalista e levantar outras questões tais como: onde foi que essa moça se formou em jornalismo, na UFBA? Se ela tem nível superior, mereceria ter o diploma cassado junto com outros tantos jornalistas que se prestam a esse tipo de atitude? A quantas anda a discussão sobre Ética Jornalística nos cursos de formação de comunicadores sociais e jornalistas? Como e quando as regionais da FENAJ se pronunciarão sobre tal fato? Como o Conselho de Comunicação Social da Bahia vê isso tudo?)



Leia também:



"A repórter loira, o suposto negro estuprador e uma sequência nojenta" no Blog do Rovai (21/05/12) que informa que a Band "vai tomar todas as medidas disciplinares necessárias. A postura da repórter fere o código de ética do jornalismo da emissora", clicando aqui.


“Sete de abril é o Dia do Jornalista”, onde a jornalista Mirella Cunha (Band) é uma das convidadas a falar na “grande oportunidade para os estudantes aprenderem mais sobre a história, a importância e as atividades desenvolvidas no jornalismo”, clicando aqui.

“Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros” clicando aqui.

“Sinjorba envia nota de repúdio sobre programa de TV”, abaixo:

A Presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia enviou nota de repúdio sobre a reportagem da jornalista Mirella Cunha exibida no programa Brasil Urgente, da Band Bahia. Segue a nota:

“A reportagem da jornalista Mirella Cunha exibida no programa “Brasil Urgente”, da Band Bahia, na qual um jovem negro que acabara de ser preso acusado de assalto e estupro é sistematicamente oprimido e humilhado é uma pequena amosta de uma luta dura travada nos últimos anos na Bahia contra o desrespeito constante aos direitos humanos praticados por programas de televisão sensacionalistas que invadem as residências dos baianos, principalmente no horário de meio-dia, expondo corpos de vítimas de homicídio, entrevistas intimidantes com suspeitos de crimes em delegacias, famílias de jovens que sofreram abuso sexual, além de outras formas de violência. Como agravante, a maioria dos casos tratados nestes programas são arquivados por falta de provas. A reportagem da Band Bahia ganhou visibilidade graças à internet, mas inúmeras outras, igualmente terríveis são exibidas a cada dia.

Contra esta prática hedionda vem se manifestando constantemente os sindicatos dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) e dos Radialistas, apoiados fortemente pela Associação Bahiana de Imprensa e Ordem dos Advogados do Brasil. Nem mesmo o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) no Ministério Público, oriundo de representações feitas por estas entidades pareceu adiantar. O fato é que o poder econômico, político e até religioso das emissoras que produzem estes programas é tão grande que nem mesmo uma tentativa da Secretaria de Segurança Pública da Bahia para barrar o acesso destas equipes às dependências das delegacias deu resultado e reportagens como essa ajudaram a eleger um delegado Deraldo Damasceno ao cargo de deputado estadual.

Há cerca de dois anos a Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia vem registrando estes fatos através do Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania da Facom/UFBA, resultando no livro A construção da violência na televisão da Bahia: um estudo dos programas Se Liga Bocão e Na Mira, Ed. Edufba, 2011, de Giovandro Ferreira, Daniella Rocha, Adriana Sampaio e Pedro Caribé.

Em funcionamento desde janeiro deste ano, o Conselho Estadual de Comunicação é a nova instância desta luta, não apenas por ser formado por representantes de entidades envolvidas com estas questões, como também por ser presidido pelo secretário estadual de Comunicação, Robinson Almeida, e também ser integrado pelo secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos, Almiro Sena, que já enfrentou esta temática como promotor.

Mas, enquanto os jornalistas não contarem com um Conselho de Classe, os profissionais que não respeitam os direitos humanos mais elementares não poderão ser punidos com moções ou suspensão da atividade, porque, sem esta entidade e sem Lei de Imprensa, cabe à sociedade recorrer aos códigos Civil e Penal. Para quem está a margem desta sociedade, cabe o papel de vítima do mau jornalismo”.

Marjorie Moura
Presidente do Sinjorba

Reproduzido de Correio 24 horas . Blog do Marrom . 22 mai 2012

“Jornalistas da Bahia repudiam atitude da jornalista da Band-BA”, em AL Notícias (22/05/12) clicando aqui. Trecho abaixo:

Carta aberta de jornalistas sobre abusos de programas policialescos na Bahia

  “O demo a viver se exponha,
 Por mais que a fama a exalta,
 Numa cidade onde falta
 Verdade, honra, vergonha.”
 Gregório de Mattos e Guerra
   
Ao governador do Estado da Bahia, Jaques Wagner.
À Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia.
Ao Ministério Público do Estado da Bahia.
À Defensoria Pública do Estado da Bahia.

À Sociedade Baiana.

A reportagem “Chororô na delegacia: acusado de estupro alega inocência”, produzida pelo programa “Brasil Urgente Bahia” e reprisada nacionalmente na emissora Band, provoca a indignação dos jornalistas abaixo-assinados e motiva questionamentos sobre a conivência do Estado com repórteres antiéticos, que têm livre acesso a delegacias para violentar os direitos individuais dos presos, quando não transmitem (com truculência e sensacionalismo) as ações policiais em bairros populares da região metropolitana de Salvador.
A reportagem de Mirella Cunha, no interior da 12ª Delegacia de Itapoã, e os comentários do apresentador Uziel Bueno, no estúdio da Band, afrontam o artigo 5º da Constituição Federal: “É assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. E não faz mal reafirmar que a República Federativa do Brasil tem entre seus fundamentos “a dignidade da pessoa humana”. Apesar do clima de barbárie num conjunto apodrecido de programas policialescos, na Bahia e no Brasil, os direitos constitucionais são aplicáveis, inclusive aos suspeitos de crimes tipificados pelo Código Penal.

 Sob a custódia do Estado, acusados de crimes são jogados à sanha de jornalistas ou pseudojornalistas de microfone à mão, em escandalosa parceria com agentes policiais, que permitem interrogatórios ilegais e autoritários, como o de que foi vítima o acusado de estupro Paulo Sérgio, escarnecido por não saber o que é um exame de próstata, o que deveria envergonhar mais profundamente o Estado e a própria mídia, as peças essenciais para a educação do povo brasileiro.

Deve-se lembrar também que pelo artigo 6º do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, “é dever do jornalista: opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos”. O direito à liberdade de expressão não se sobrepõe ao direito que qualquer cidadão tem de não ser execrado na TV, ainda que seja suspeito de ter cometido um crime.

O jornalista não pode submeter o entrevistado à humilhação pública, sob a justificativa de que o público aprecia esse tipo de espetáculo ou de que o crime supostamente cometido pelo preso o faça merecedor de enxovalhos. O preso tem direito também de querer falar com jornalistas, se esta for sua vontade. Cabe apenas ao jornalista inquirir. Não cabem pré-julgamentos, chacotas e ostentação lamentável de um suposto saber superior, nem acusações feitas aos gritos.

É importante ressaltar que a responsabilidade dos abusos não é apenas dos repórteres, mas também dos produtores do programa, da direção da emissora e de seus anunciantes – e nesta última categoria se encontra o governo do Estado que, desta maneira, se torna patrocinador das arbitrariedades praticadas nestes programas. O governo do Estado precisa se manifestar para pôr fim às arbitrariedades; e punir seus agentes que não respeitam a integridade dos presos.

Pedimos ainda uma ação do Ministério Público da Bahia, que fez diversos Termos de Ajustamento de Conduta para diminuir as arbitrariedades dos programas popularescos, mas, hoje, silencia sobre os constantes abusos cometidos contra presos e moradores das periferias da capital baiana.

Há uma evidente vinculação entre esses programas e o campo político, com muitos dos apresentadores buscando, posteriormente, uma carreira pública, sendo portanto uma ferramenta de exploração popular com claros fins político-eleitorais.

Cabe, por fim, à Defensoria Pública, acompanhar de perto o caso de Paulo Sérgio, previamente julgado por parcela da mídia como “estuprador”, e certificar-se da sua integridade física. A integridade moral já está arranhada.

Salvador, 22 de maio de 2012.

quarta-feira, 7 de março de 2012

O jogo do tabuleiro das corporações do mercado e as crianças-peões descartáveis no mundo do consumo


O jogo do tabuleiro das corporações do mercado e as crianças-peões descartáveis no mundo do consumo

Na esteira dessa discussão sobre "consumo consciente", além de observarmos atentamente os  princípios propostos e divulgados sobre tal, faz-se necessário refletirmos sobre a responsabilidade social das empresas, e também de seus próprios princípios dentro dessa lógica do mercado nas relações que todos estabelecemos dentro dessa sociedade tão bem engraxadamente movida nas rodas do capitalismo, e dessa economia de mercado. E, mais adiante, pensarmos séria, sincera e honestamente sobre o que vai nas linhas e entrelinhas dos debates, vozes e intenções que se entrecruzam em direções muitas das vezes opostas sobre que se considera apropriado às crianças.

Creio que esses esforços e alertas de tantos que lutam verdadeiramente para defender os direitos das crianças e adolescentes são justos e, primeiro e importante passo que vai também na direção à crítica a ser cada vez mais aprofundada sobre as várias peças, regras de jogo e sujeitos desse tabuleiro de interesses entre empresas que almejam lucro e criam necessidades, e consumidores de bens e serviços que mal das vezes nem sabem quem e o que estão ganhando ou perdendo de sua dignidade humana dentro de uma lógica de explícita exploração. Às vezes, exploração da boa-fé e confiança dos consumidores adultos, e da inexperiência e ingenuidade próprias de crianças e adolescentes ante o discurso "consumista" do mercado e da publicidade em geral.

O que pode vir de meias ou falsas verdades embutidas dentro de muitos discursos que se fazem por aí é matéria para intenso debate e, com certeza, esforço por regulação de leis por aqueles que, por dever, se encontram em posição de proteger em especial os direitos de crianças e adolescentes. Quando mesmo entre a classe política/legislativa e judiciária vemos prós e contras duvidosos nesse proteger de verdade o que às custas de muita dedicação se conseguiu historicamente garantir aos cidadãos - como o Estatuto da Criança e do Adolescente/ECA e a própria Constituição Federal - resta àqueles que defendem a dignidade nas relações humanas nos diversos planos da vida a lutar mesmo, cotidianamente pelos "reles" peões vistos tão somente como consumidores (de preferência a-críticos e alienados) pelas corporações que detêm o controle de quase tudo em suas mãos. Estes que, quase sempre se escondem por detrás na linha das figuras social-economicamente privilegiadas como reis, rainhas, bispos, cavalos e torres sugerindo os poderes constituídos a controlar as regras. Estes que, através de todos os seus aparatos e braços manipulando, se posicionam invariavelmente apenas para que se defendam os privilégios dessas classes abastadas e exploradoras das massas.

Se os peões descartáveis dessa massa consumidora é que estão na linha de frente, animados a comprar, gastar, consumir e avançar freneticamente casa a casa, pagando suas contas e tributos com (in)consciência ou não de seus direitos humanos (inalienáveis na teoria), enquanto em pompa e circunstância só se defendem os privilégios (desumanos na prática) dos que detêm posições que deveriam ser de implementar as noções de uma ética universal - e por que não de amor ao próximo - a construir uma sociedade de justiça, será na luta pela cidadania contra a opressão/exploração que veremos a grande diferença entre o que seja “viver bem”, cercado e pagando caro por coisas que o mercado/tributação nos empurra goela abaixo, e “bem viver”, rodeado por seres humanos co-existindo na plenitude e dignidade de seus direitos.

Não é que todos nascemos dotados de razão e consciência, e que devemos agir em relação uns aos outros com “espírito de fraternidade”? Não é isso que foi escrito, assinado e proclamado na Declaração Universal dos Direitos Humanos por tantos homens e mulheres de todas as partes do mundo, por ter sido percebido como condição primeira e suprema para a tal liberdade como seres? “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos”, e têm consciência disso nessa sociedade de consumo? Que dignidade temos nessa roda de morte de produção de coisas que, custe o que custar, significativa “humanidade” paga para morrer à cada dia enquanto mínima parte da população “vive bem”, obrigado, obrigando os demais a atenderem prontamente às suas necessidades e imposições de “donos do mundo”?

Nesse jogo com essas regras de mercado mandando em tudo, e des-regulações e desrespeito a leis que protegeriam a todos, é onde temos percebido que crianças e adolescentes perdem sua infância e juventude, adultos reproduzem as antigas escravidões disfarçadas em empregos/trabalhos assalariados, e mega-corporações em todas as instâncias e castas dos poderes constituídos ganham rios de dinheiro em cima dos discursos enganadores, falaciosos, demagógicos, mentirosos enfim. Nessa lógica de coisa e coisificação de tudo e de pessoas, o “poder” outorgado a “representantes do povo” que poderia libertar a todos para o “bem viver” se reduziu a “desmandos” de uma classe arrogante e egoísta que destrói tudo para construir apenas para si mesma.

O que é isso, de forçar e ter as crianças se digladiando entre si, nas casas, escolas, ruas e shoppings para possuir o que não seja a dignidade delas mesmas? O que é isso de bancos que lucram bilhões ao redor do mundo patrocinando programas "infantis" e (de)formadores de opinião a ensinar como investir a mesada? O que é isso de, deliberada e descaradamente, iludir as novas gerações a ingressar pelas vias dos bancos escolares e bancos de dados distribuídos em mil aparelhos e aparatos à educação e comunicação “bancária”? O que é isso de bancos mundiais promoverem a bancarrota e a fome de justiça generalizada entre povos controlados pelas polícias e exércitos que massacram os que saem às ruas para exigir sua dignidade roubada? Desde quando as crianças têm sua infância também roubada, a começar pelos pais e (i)responsáveis que não têm consciência nenhuma, ou fingem não ter noção do que se passa ao redor de suas casas abarrotadas de contas a pagar?

Se para o mundo dos negócios consumir "é preciso", e técnicas requintadas de persuasão são elaboradas desde as escolas de marketing e publicidade servindo aos interesses dos manipuladores do mercado, inclusive mais contemporaneamente com apoio e consultoria de neurocientistas, psicólogos e pedagogos , por exemplo, faz-se necessário parar e pensar sobre princípios mais elevados a pautar as relações humanas que meros interesses de mercado/consumo, e talvez aventar conceitos não tão novos assim que nossa sociedade precisa mais que nunca de que se "faça ao próximo o que se gostaria que se fizesse a nós próprios".

Essa é a Regra de Ouro de tantas tradições espirituais que, nesse mundo do consumo desenfreado, parece ter quase se perdido de vez...

E, se nós mesmos esquecemos disso, que as crianças e adolescentes do aqui e do agora não sejam privadas de sua voz e sonhos de meninice acossadas que são pela propaganda e publicidade dirigida a elas. A tradução desse insano frenesi em que se metem muitas crianças de hoje não seria à nossa percepção um grito de socorro por uma infância que lhes é retirada sem compaixão nem piedade, impunemente?

Não é possível crer que não haja alternativa nesse jogo do tabuleiro das corporações do mercado e, as crianças sejam os peões descartáveis no mundo do consumo. Criança não é coisa, nem é só nicho de mercado, nem adulto miniaturizado. Criança é um sujeito de direitos, um ser humano em evolução por mil atos e atitudes de seu brincar re-criando formas nessa vastidão universal que muitas das vezes, e infelizmente, lhe é retirada de vista pelas mil necessidades que lhe foram criadas a entorpecer a percepção pelas propagandas e publicidades enganosas nas brincadeiras, salas de aula, telas e em tantos cenários artificiais de sua vida reduzida ao que o mercado interessa vender. Nesse mundo de fazer contas do consumismo, quem é que é (in)consciente?

Há que se refletir mil vezes os discursos que falam de 99 verdades e empurram uma mentira de cada vez, ou 99 mal-entendidos e distorções que se colocam em meio a uma verdade fazendo brincadeira de mau gosto com a (in)consciência das gentes no xadrez de preto no branco de leis, portarias, certificados, artigos, livros e notícias que (des)informam e formatam os planos de nossas relações no mundo.

Regulem-se as leis, protejam-se os meninos e meninas e, de minha parte desejo a eles e elas que joguem esse tabuleiro pelo ar, e re-movam-se as peças re-colocando-se os poderosos dessa entristecida sociedade na linha de frente a defender os direitos, e as alegrias delas. Por ética e amor, há que se sustentar isso - consciente e ativamente - no mundo do bem viver, e que a mais pura e perfeita alegria das crianças seja a medida de todas as coisas. E, que por seu grito de amor e de socorro venha a re-evolução dessa espécie que escolheu numa brincadeira, sem graça nenhuma, o umbigo para ser o centro do universo.

Leo Nogueira – O Nawta


Foto (Invertida): O Peão Vitruviano da Grow . Da Vinci inspirou os boardgames...


Conheça os "12 princípios do consumo consciente"  proposto pelo Instituto Akatu clicando aqui.

Leia também "Sustentabilidade Infantil: como as marcas veem os consumidores do futuro", por Fernanda Salem do Mundo Marketing clicando aqui, e reflita sobre o tema abordado no artigo.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O partido único da mídia tradicional brasileira...


O partido único da mídia

Laurindo Lalo Leal Filho
Carta Maior
02/01/2012

Ao se fixar nos seus próprios dogmas, desprezando o real, o poder dos partidos midiáticos tende ao enfraquecimento. Ao se descolarem da realidade perdem credibilidade e apoio, cavando sua própria ruína. Trata-se de um caminho trilhado de forma cada vez mais acelerada pela mídia tradicional brasileira.

A superficialidade e o descrédito a que chegaram os meios de comunicação tradicionais no Brasil é incontestável. Posicionamento político-partidário explícito e "reengenharias" administrativas estão na raiz desse processo.

Dispensas em massa de profissionais qualificados explicam, em parte, a baixa qualidade editorial. Foi-se o tempo em que ler jornal dava prazer. Mas fiquemos, por aqui, apenas na orientação política.

A concentração dos meios e a identidade ideológica existente entre eles criou no país o "partido único" da mídia, sem oposição ou contestação. Ditam políticas, hábitos, valores e comportamentos. O resultado é um grande descompasso entre o que divulgam e a realidade. Hoje, para perceber esse fenômeno, não são mais necessárias as exaustivas pesquisas em jornalismo comparado, tão comuns em nossas academias lá pelos anos 1980.

Agora basta abrir um jornal ou assistir a um telejornal e compará-los com as informações oferecidas por sites e blogues sérios, oferecidos pela internet. São mundos distintos.

No caso da mídia brasileira essa situação começou a se consolidar com a implosão das economias planificadas do leste europeu, na virada dos anos 1980/90.

Em 1992, no livro "O fim da história e o último homem", ampliando ideias já apresentadas em ensaio de 1989, Francis Fukuyama punha um ponto final no choque de ideologias, saudando o capitalismo como modo de produção e processo civilizatório definitivo da humanidade, globalizado e eternizado.

Tese rapidamente endossada com euforia pela mídia conservadora e hegemônica que, a partir dai, pautaria por esse viés seus recortes diários do mundo, transmitidos ao público. Faz isso até hoje.

Só que, obviamente, a história não acabou. Ai estão as crises cíclicas do capitalismo, neste início de milênio, evidenciando-o como modo de produção historicamente constituído, passível de transformações e de colapso, como qualquer um dos que o precederam. Mas a mídia trata o capitalismo como se fosse eterno, excluindo de suas pautas as contradições básicas que o formam e o conformam. Dai a pobreza de seus conteúdos e o seu distanciamento da realidade, levando-a ao descrédito.

De fomentadora de ideias e debates, fortes características de seus primórdios em séculos passados, passou a estimuladora do conformismo e da acomodação. Para ela o motor história não é a luta de classes e sim o consumo, apresentado em gráficos e infográficos, alardeando números e índices que, muitas vezes, beiram o esotérico.

Se nos anos 1990 essas políticas editoriais obtiveram relativo êxito apoiadas na expansão do neoliberalismo pelo mundo, na última década a realidade crítica abalou todas as certezas impostas ideologicamente. As contradições vieram à tona.

No entanto a mídia, reduzida e conservadora, especialmente no Brasil, segue tratando apenas das aparências, deixando de lado determinações mais profundas. Movimentos anti-capitalistas espalhados pelo mundo são mencionados, quando o são, particularmente pela TV, como "fait-divers", destituídos de sentido, a-históricos. Seguindo rigorosamente a tese de Fukuyama.

Fazendo jus ao seu papel de "partido único", os meios oferecem ao público, como elemento condutor de sua ideologia conservadora, algo que genericamente pode ser chamado de kitsch. Definição dada pelos alemães no século passado para a arte popular e comercial, feita de fotos coloridas, capas de revistas, ilustrações, imagens publicitárias, histórias em quadrinhos, filmes de Hollywood. Atualizando seriam os nossos programas de TV, os cadernos de variedades de jornais e revistas, as músicas e as preces tocadas no rádio.

Esse é o prato diário da mídia, oferecido em embalagens sedutoras e entremeado de informações ditas jornalísticas, apresentando o mundo como um quadro acabado, inalterável. Não existindo alternativas, resta o conformismo anestesiado pelo consumo, ainda que para muitos apenas ilusório.

Claro que esse quadro midiático tem eficácia até certo momento, enquanto realidade e imaginário de alguma forma guardam proximidade. Mas ele também é histórico e, portanto, mutável.

Enquanto as contradições básicas da sociedade, aqui mencionadas, permanecerem existindo, a integração das consciências "pelo alto" será irrealizável, alertava Adorno, num dos seus últimos textos. Por mais que os meios de comunicação se esforcem por integrá-las.

Ao se fixar nos seus próprios dogmas, desprezando o real, o poder dos partidos midiáticos tende ao enfraquecimento. Ao se descolarem da realidade perdem credibilidade e apoio, cavando sua própria ruína. Confrontados com a internet desabam. Trata-se de um caminho trilhado de forma cada vez mais acelerada pela mídia tradicional brasileira. Sem falar na contribuição dada a esse processo pela queda da qualidade editorial, tema que fica para outro momento.

* sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.

Reproduzido de Carta Maior.

Leia outros artigos do autor clicando aqui.