quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Infelizes dias das bruxas nas escolas...


Assédio moral nas escolas - I

Apontamentos sobre tiranias que se veem, falam e se ouvem no reino da fantasia e no mundo real das malvadezas des-humanas

Por Leorry Reportter*

Assédio moral nas escolas é um assunto nada tratado nas fileiras de muitas corporações de professores do país, e sequer passa pela cabeça de algumas pessoas que, Vocês-Sabem-Quem, existem por aí nas unidades escolares, públicas e privadas, mesmo quando aquelas carapuças de carrasco bem serviriam a nomear quem é quem e de que “lado” está nas lutas pela Educação: o lado de baixo ou o lado de cima. Quando certas relações de opressão são praticamente naturalizadas desde os bancos dos colégios - entre os pares mal-formados nos bancos da academia, e seguem de-formados no ambiente de vaidades e mediocridades de escolas que frequentamos pela vida, como estudantes ou trabalhadores - é sinal de que se perdeu algo importante das finalidades, a bússola que dá o rumo do que é proposto por Educação em seus mais altos níveis de compreensão e expressão na reflexão e prática pedagógica.

Não há quem não tenha observado, visto falar ou ouvido em alguma escola pela vida afora, da presença dos Pedagófilos, pessoas que na sua irrefletida atitude são exímios assediadores. Elas são as que literalmente violentam os corações e as mentes de colegas, alunos, funcionários e familiares que passam à sua frente. Estão por todos os lugares distribuindo “elogios” que mal disfarçam as verdadeiras intenções de ludibriar, menosprezar, diminuir, ofender, de colocar “no seu devido lugar” os menos lustrados pelo vernizinho de diplomas que carregam com propalada ostentação. A soberba é uma anti-virtude que os caracteriza.

Essas pessoas têm uma aura ensombrecida, uma aparência de frieza calculada, distribuem olhares complacentes desde a altura de seus narizes e, medem o mundo pela curta distância desde seus umbigos ao corações enregelados. Quando não deslizam pelos caminhos de todos em seus gestos aparentando um balé de cisne negro, braços como asas abertas e às vezes em echarpes esvoaçantes, sentam-se feito paxás nos lugares privilegiados onde todos possam mirá-las. E ficam lá fingindo atenção à voz alheia, meneando a cabeça em negativas de tudo o que se diz, aguardando sua “deixa” para dar sua opinião que quer abalizada, e determinando a conclusão com força de lei para qualquer assunto entabulado.

Tidas como oráculos a quem se recorre para dar seus vereditos finais desde alguma questiúncula às mais altas predições sobre um futuro em que elas próprias se destaquem magnânimas, querem que para dar seus vaticínios e análises se acendam incensos e velas para perfumar e brilhar os altares que só a adulação consegue manter em pé, por algum motivo que a própria razão desconhece.

Além dos adoradores do público em redor de sua presença fazem-se grupelhos pelos cantinhos. Vez ou outra quase todos ficam estremecidos às suas gargalhadas homéricas, e sente-se no ar o medo de muitos quando pressentem aquele aroma fedorento que antecede sua entrada triunfal em algum recinto. Noutras vezes, confabulam-se com seu séquito por sussurros e risadinhas contidas, seguem-se olhares em todas as direções para evitar que lhes ouçam os segredos. Ao final de todas as veementes argumentações sempre têm palavras reticentes e ferinas para arrematar a punhalada de sua verborreia astuta, que flui ora como trovão dos deuses do Olimpo, ora como o sibilar de uma serpente que estrangula a vítima, ou lhe diz o que fazer com finalidades questionáveis.

Esses infelizes, que não perdem uma oportunidade sequer de criar a infelicidade para os outros, vão desde sempre des-tratando as pessoas da comunidade escolar em privado e em público, falando pelos cotovelos como eminentíssimos doutores de uma lei que eles próprios inventam, destilando os venenos que compõem dia-a-dia os artigos e regimentos do famoso “currículo ocultíssimo” com as marcas da violência que a tudo destrói e arrasa.

Num estilo de quem faz e des-faz arrogando-se poder sobre a vida e a morte, como os imperadores romanos no circo abaixando os polegares ao som da turba furiosa - histérica e excitada com o espetáculo de sangue na arena - os Pedagófilos não se apoquentam se o circo pega fogo ferindo vidas e destruindo sonhos depois que as des-graças e boatos que espalham tomam seu caminho entre corações e mentes em formação. Esse tipo de pessoas querendo mandar a torto e a direito também tem semelhança com os poderosos da Santa Inquisição dos tempos medievais, os donos da verdade absoluta, mandatários da vontade divina.

Feito príncipes e princesas da maldade invejosa, se passando por reis déspotas e rainhas da cocada preta, debocham de quem ousa destoar de suas regrinhas que propalam com seus trejeitinhos caricaturizados, ou passam à sua frente atrapalhando a visãozinha míope que têm de seu mundo de desejos e fantasias de poder. Pior ainda, quando em perdendo um “trono” ou os “anéis” em que lhes beijavam as mãozinhas desmunhecadas, eles não se sentem que perderam os dedos da manipulação de tudo e de todos. Esses infelizes seres se fazem como as eminências pardas por detrás de outros que aturam - mas estão no poder por direito - planejando incontáveis intrigas para perturbar, promover a discórdia e o engano para controlar e oprimir o povo.

Figuras que entram para a “história” como heróis, suas condutas trazem ao presente de nossas existências o pior que caracterizou a instituição escolar no decorrer de séculos de autoritarismo e arbitrariedade, de impunidade.

Os Pedagófilos são pessoas que, por princípio de sua necessidade de poder, atraem a si uma força que lhes dão esse poder quase desmedido, e controlam consciências com a facilidade de um maestro que rege uma orquestra para que todos dancem conforme a sua música que faz todos entrarem em transe delirante.

Sarcasmo é o tom percebido em todas as palavras mal-ditas que saem de suas bocas se referindo ao outro, ao completamente diferente de si, ao trabalho dos colegas. Falam sempre com desdém e com aquele jeitinho “blasé” de quem se sente entediado, ou mal suportando a presença alheia que empana o brilho de suas majestades afetadas. Como há sempre uma “corte” a seguir e “cortejar” tal realeza pomposa e cheia de circunstância, a maldição que espalham à sua volta vem também sempre com os salameleques que caracterizam todos aqueles acólitos e paus-mandados que se subalternizam ou veneram tais personalidades, digamos, “magnéticas”, que sabem os segredos do hipnotismo vulgar e pretendem que os demais se sintam mais inferiores que elas próprias na sua auto-significância.

Como de costume, e na sua tática e estratégia de oprimir e explorar o próximo para seus fins de dominação nefasta, falam pelos cotovelos e espalhafatosamente - e quase sempre pelas costas - dos infortunados que caem em seus bicos e garras de rapina que se alimenta da morte. Ou estão invariavelmente à espera e à espreita de uma oportunidade e situação para dar um bote qualquer. Agem sub-repticiamente, sorrateiramente, creem ter o dom de especialistas que opinam sobre tudo naqueles moldes de quem faz futrica e fofoca, querendo se passar por inteligentíssimos em seus proverbiozinhos com tintas sujas da pornolalia que expõem, sobretudo, a própria podridão e escolhas íntimas de quem é vil ou tem gosto e atitudes duvidosas.

Em geral, essas infelizes pessoas têm um discursinho fajuto e superficial que fala e pretende ter ares de responsabilidade, de ética e profissionalismo na prática pedagógica, e defendem com zelo de fariseus hipócritas os direitos inalienáveis dos seres humanos, de crianças, jovens, colegas de trabalho, arrogando-se o dever de em tudo dar palpite como sumo sacerdotes infalíveis em seus pronunciamentos. Mas não admitem, jamais, que seu questionem os seus próprios “direitos”.

Para qualquer assunto têm alguma tolice a dizer e, na mesma medida, algum tolo por perto a se maravilhar com os impropérios disparados feito metralhadora desembestada, aqui e ali, desde a cozinha de suas casas à salas de aula, às salas de professores e corredores, porque estão sempre a vigiar, para punir segundo seus julgamentos sumários em seus estrelismos de divas malvadas das novelas das “8”.

Esbanjam soberba, arrogância, esnobismo, e precisam do palco armado onde for para seus teatrinhos chinfrins sobre uma “aula bem dada” ou a determinação sobre alguma coisa que opinam com aquela categoria duvidosa que só os medíocres conseguem ter. São pessoas que mereceriam o “Oscar” de melhor drama por seus gestos e arroubos cheios de afetação, por suas caras e bocas nas atuações em que se esmeram pretendendo ser fiéis ao papel de atores ou atrizes principais de um filmezinho, obviamente de terror.

Bocas sujas e língua ferina, vão costurando alianças ao longo de sua existência na característica falta de dignidade de quem amarra o rabo em troca de privilégios tolos e mesquinhos aos que lhes adulam em coro, quando lhes deveríamos o apupo e a vaia. Na contraposição às suas atrocidades muitas vezes o silêncio de quem consente, por medo e intimidação. Noutras vezes, as pessoas simplesmente aturam esse comportamento porque também naturalizaram o que se tornou lugar-comum em nossas instituições de exaltação da violência e subserviência a esse tipo de pessoas que se julgam maiores, e melhores que todos.

A seriedade de gabinetes públicos nunca lhes reservaria uma cadeira de responsabilidade porque isso exige lisura e ética, o mínimo de sabedoria para o desempenho das responsabilidades em cargos de relevância. Talvez, por isso, suas atitudes são, via de regra, limitadas a um campo menor de ação, que decerto causam menos estragos do que em multidões que necessitam mesmo é de boa vontade na política. Talvez, também, seja por isso que essa deferência que lhes é obviamente negada se extravase no rancor e despeito de seus ataques ao desempenho dos outros que cita por seus desafetos políticos.

Um exame de seus pensamentos e ações jocosas, mixuruca que fosse, decerto daria pano pra manga num consultório de clínica psiquiátrica, ou uma biblioteca inteira sobre aquilo que dominam muito bem: o saber sem “substância”, sem respaldo na reflexão e no estudo sérios, que acabam por terem um teor igual ao das revistinhas sobre celebridades das mídias e do show business em salas de espera. São metidas a querer se passar por “sábios” conselheiros e suas crendices têm o requinte do cúmulo do mais baixo nível do senso-comum. As idiotices vomitadas a título de opinião formada sobre tudo enjoam aos que têm de ouvir suas declarações. São tidos como temidos por suas posições superficiais e dramáticas sobre qualquer ponto ou conto onde quer que se apresentem estrondosamente, e em sua presença melhor se calar para não encompridar conversas desnecessárias, ou no mesmo teor de vulgaridades e futilidades.

Mesmo quando se esforçam por querer passar uma imagem ou aparência de legitimidade de alguma coisa, quando muito são tidos por de-formadores de opinião. E, se acham o “máximo” porque eles mesmos des-conhecem que são motivos de chacota da opinião alheia quando fazem de tudo por se manterem em evidência, o centro das atenções e das luzes nos muitos palcos de suas encenações de quinta categoria. Assim como acreditam nas próprias banalidades como assuntos do mais alto teor em forma erudita, pensam que suas “críticas” não são de fato a titica de galinha do poleiro dos futriqueiros que cuidam da vida de todos da escola, mas se esquecem de suas próprias imperfeições.

No mundo da fantasia, nas páginas dos contos e fábulas infantis, há personagens incontáveis que retratam pessoas como esses Pedagófilos, desde o Lobo Mau assediando os Três Porquinhos e a tia encruada da Cinderela, à rainha tresloucada que mandava cortar as cabeças no País das Maravilhas. Temos as bruxas malvadas que perseguem reinados inteiros e cada cidadão vivente neles bem como as fadas e anõezinhos, e aquela que fez uma casa com doces para João e Maria se aprisionarem nela. Outras muito conhecidas são a que morre com uma casa caída em sua cabeça e uma outra, se derretendo com uma simples gota de água no final das aventuras em Oz.

Em outra história famosa, o infeliz - Smeagol - que começou a se despencar como ser humano, matando por possuir um anel de ouro que trazia um poder supremo com ele, usou de uma estratégia orientada pelo “Grande Olho do Mal”, e se apresenta como solícito guia de dois jovens que querem libertar sua pequena vila do jugo do opressor. Para possuir “O Precioso” e realizar seus sonhos de grandeza não hesitou em mentir, ludibriar, enganar e matar. Des-humanizou-se todo nesse caminho até se parecer como monstro feito aqueles criados para exército de horrores a serviço do algoz maior, enquanto os que se uniram em torno do “Retorno do Rei” se elevaram, evoluíram, transcenderam, recriaram as esperanças para tornar o mundo melhor. Foi uma jovem guerreira aquela que defende o pai contra o preposto do “olho gordo”, decepando a cabeça daquele bicho voador e espetando a espada para fazer sumir tal coisa ruim.

Mais ainda, outro menininho, desses que ninguém dá nada por ele, humilde e apagado, foi quem teve a verdadeira força interna que remove montanhas, e retirou a espada da pedra, tornando-se o Rei e líder daqueles Cavaleiros da Távola Redonda, a quem outra bruxa horrorosa fazia de tudo para impedir os sucessos.

São tantas histórias que já nos contaram desse tipo de pessoas, dos incrivelmente ruins, odientos e egoístas contra os simples e humildes que querem apenas uma vida melhor...

Talvez uma personagem que resuma e retrate exemplarmente esses atributos de gente que não é do primeiro escalão, mas se acha o supra sumo, manda e quer ser obedecida irrestritamente - no caso, uma escola - seja Dolores Umbridge. A famosa ex-diretora de Hogwarts com seu sorrisinho cínico em jeito de “boas maneiras”, com seu sapatinho e vestidinho cor de rosa choque e seus pratinhos de gatinho nas paredes, faz da sala de aula e da direção, do salão de professores e da escola o seu domínio, de onde exerce seu cargo com esgares de prazer quando tortura algum aluno, ou impõe sua ordem a serviço do Lorde das Trevas. Ela própria que é o capacho de Você-Sabe-Quem, vive a espezinhar os estudantes e professores tolhendo sua liberdade de expressão, expedindo regras e regras para atender à vontade de quem a também serve, controlando tudo com sua mãozinha de ferro cor de rosa, impondo o silêncio, controlando a escola.

Os livros e filmes das peripécias de Harry Potter descrevem muito bem aquela figurinha empertigada de mãozinhas postas e pezinhos bem juntos, desde dando um falso “bom dia” cantarolado aos alunos até ser escorraçada da escola pelos próprios estudantes revoltosos com sua presença de falsa dignidade. Xingando e exigindo soltura, depois foi levada pelos centauros e, finalmente, conduzida a Askaban, a prisão guardada pelos Dementadores que chupam a energia vital das pessoas.

Nessa mesma série, Você-Sabe-Quem, o morto-vivo, malvado por excelência da literatura de ficção infanto-juvenil nunca enfrentava diretamente os personagens “do bem” e, em sua covardia, sempre mandava alguém servil a ele a fazer isso ou aquilo em troca de posição de poder ou favores em seus planos diabólicos para dominar tudo. Em todas as reuniões e encontros com seus asseclas, é aquela figura execrável que cria a pauta, fala primeiro, no meio e por último, determinando sua vontade que quer soberana acima da vontade dos outros. Coage, insinua, ameaça, chantageia, enfim, seduz os incautos e em insana consciência para servi-lo e cumprir suas vontades.

Esse “inimigo número um” da Escola de Bruxos é daqueles covardes que nunca enfrentam os que se fizeram seus opositores, jamais se coloca face a face com eles, nunca dá a cara a bater, mesmo porque não tem condições de se defender em pé de igualdade com as pessoas do “bem”.


Bruxos e bruxas assalariados pelo ”lado negro da força”, no reino da fantasia e no mundo real como mal-amados, temidos e odiados, des-carados por detrás de suas máscaras, com suas duas caras - as deles e as dos outros de que se servem - famintos de bajulação, escondendo-se sob as sombras do próprio “chapéu seletor” feito radar à procura de outros sonsos  que lhes adulem.

São essas pessoas os assediadores morais que, em sua i-moralidade ou a-moralidade, em suma, em sua falta de ética, todos um dia já tivemos a malfadada oportunidade de encontrar em meio a nossas lidas no campo da Educação, ou ler em algum romance em que os antagonistas sempre perdem, e os protagonistas sempre vencem no final. O mal tem limites, e a indignação, individual e coletiva, um dia chega para colocar a harmonia em meio ao desequilíbrio que geram.

O que fazer com elas? O que fazer por elas? O que fazer apesar delas?

Mesmo rindo melancolicamente diante de tantos fatos entristecedores, não há como não ter piedade dessas pessoas que, por serem tão histriônicas, se tornam infelizmente cômicas, confirmado isso pelos sorrisos amarelos e estupefação de muitos ante suas bobagens e idiotices faladas, vistas e ouvidas. E, na tragicidade e em todos as cenas da farsa em que vivem como mortos assombrando a vida alheia, quem quer que seja que tenha o mínimo de sentido de decência deve a essas pessoas a mais pura com-paixão, esperando que um belo dia essas pessoas possam acordar do pesadelo em que se metem, e fazem os outros se apavorar com elas, ou por elas.

No entanto, por mais que num plano de vivência de valores humanos e espirituais devamos ser com-passivos com tais criaturas infelizes e infelicitadoras, é necessário e urgente denunciá-las à comunidade escolar, desmascará-las de sua condição de tiranos e autoritários mal-disfarçados de lobos em pele de cordeiros. É preciso levar ao conhecimento da população tais fatos, fazendo isso em alto e bom tom, porque já vivemos em uma sociedade de direitos, democrática, plural em que os direitos de uns não podem ir além dos limites dos direitos dos outros.

Leis existem para proteger aqueles que são submetidos a esse tipo de força opressora e abusiva e, à aparente fragilidade de muitos que sofrem tal abuso de autoridade, podemos e devemos nos reunir em nome da solidariedade pela defesa da justiça e do Bem Viver.

Tais comportamentos já não são aceitáveis nem toleráveis por essa atual geração de crianças e jovens, e dos adultos que real e verdadeiramente lutam, trabalham e vivem por construir um mundo livre de tais situações de dominação, por uma escola livre de tais imposições, por uma Educação que se pretenda de qualidade e promova a paz entre as pessoas.

Não é de se espantar que nas histórias que parecem ser contos de ninar, ou mero entretenimento para as horas de folguedos de meninos e meninas, são as personagens infantis que sabem, e fazem a mágica transformadora de toda situação de tristeza em alegria e libertação das opressões a que foram submetidas. São as crianças, e as pessoas simples do cotidiano dos contos de fadas dos antigos e contemporâneos que sempre salvam a situação da catástrofe iminente se não se freasse o desmedido poder dos prepotentes desalmados.

Histórias que encantaram milhões e milhões de pessoas ao redor do mundo foram crianças e jovens, pais e professores dedicados de “almas claras” que só “clarividentes podem ver” que, por exemplo, se uniram co-movidos pela indignação junto a Harry Potter - menino órfão, simples, puro, de bom coração - e salvaram a todos da ganância do Lorde das Trevas em submeter uma humanidade à sua crueldade e truculência.  Belas, simples e singelas mensagens para inspirar nós outros à tomada de consciência contra as atrocidades praticadas cotidianamente sob o manto da falsa dedicação e os interesses disfarçando a auto-promoção.

As varinhas de condão de hoje são os lápis coloridos que fazem barulho ao sacolejo das mochilas carregadas alegremente para as salas de aula, e crianças e jovens nas escolas anseiam por se expressarem na plenitude de seus direitos humanos na rebeldia sumariamente sufocada pela enxurrada de afazeres sem sentido a que são compelidas a cumprir em nome de se adaptarem à sociedade adoentada que as rodeia.

Gritos estridentes de quem só sabe mandar para querer ser obedecido, e ríspidos “psius” à agitação daquilo que não pode ser jamais controlado - o sonho humano de liberdade e ventura - querem calar nas crianças e jovens o dom inato de não quererem se ajustar à uma maquinaria que tritura qualquer vontade que não siga na linha de produção escolar ou acadêmica que se consolidou como “mal necessário”.

Ainda estamos envolvidos pelos resquícios de uma época de controle da palavra, dos pensamentos e sentimentos, de uma educação moldada para criar exércitos de autômatos a silenciosa e obedientemente servirem de novos escravos de um mundo de consumismo para enriquecer uns poucos mandatários.

Pouco a pouco, aquém e além do arco-íris, outras forças poderosas se movem, novas palavras de ordem, amor e progresso humanizadores reluzem, e piscamos os olhos como que adquirindo redobrado ânimo para tudo suportar, porque a liberdade vem, ainda que tardia.

As crianças e jovens, ora melancólicos ante o infortúnio que as tenta cercear os devaneios, ora incômodas em seus barulhos e agitação nas salas de aula fechadas como prisões do pensamento, parecem nos relembrar a cada dia, hora e segundo, que é chegado o tempo de acordar dos pesadelos para a realização daquele sonho de liberdade. Se a carapuça preta serve a muitos entristecidos, também cabe a cada um que tenha coragem e boa vontade as asas de um anjo ou os chapéus dos magos e mágicos para as grandes realizações em nome do amor e da alegria.

É preciso repudiar todos os comportamentos e atitudes inadequadas, os ab-surdos, ab-mudos e ab-cegos que se veem, falam e se ouvem no mundo real das malvadezas des-humanas, em devido respeito que devemos à infância e juventude e, seus direitos inalienáveis garantidos em documentos forjados pela luta de muitos. Isso requer de todos nós uma responsabilidade extraordinária para que cada um saiba separar o que é justo e injusto quando devemos ser firmes nas atitudes de encorajamento para a realização de seus sonhos, sem jamais perder a ternura para com eles. Os contos de fadas desde sempre nos inspiram a isso...

As Escolas e a Educação precisam se libertar do assédio moral que se dissemina feito praga, precisam ser libertadas de seus carrascos, precisam se re-construir de seus escombros, precisam renascer de suas cinzas pelos mesmos feitos daqueles  indignados e de boa vontade reunidos em torno da "Ordem da Fênix"**. Que as Escolas e a Educação sejam re-en-cantadas pelo Poder da Alegria e do Amor, e da Sabedoria de todos.

O assédio moral nas escolas é tema incômodo, que abala estruturas carcomidas, mas fortes o bastante para se manterem e se quererem impunes.  Faz-se urgente o debate em todas as rodas e fóruns de discussão, em todos os diálogos nas ruas, nas casas, nas universidades, nos gabinetes das autoridades públicas, nas mídias, nas redes sociais, nos espaços da luta política, nas delegacias e boletins de ocorrência, nos camburões e locais de tratamento ou correção a tal tipo de abuso, assim como nas salas de aula, nas salas de professores, nos corredores e em todos os cantos de nossas instituições escolares.

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* Leorry Reportter é (Tele)Jornalista Escolar, ex-aluno e estagiário de escolas místicas e lendárias nos quatro cantos do mundo, também esteve em Hogwarts colaborando com as mídias piratas que faziam a comunicação popular e libertária nos tempos da censura e ditadura do Vocês-Sabem-Quem. Escreve para o “Novo Profeta Diário”, e atua como correspondente de vários periódicos do mundo da realização dos Sonhos das Estrelas,  dos Anjos,  das Fadas, dos Loucos e dos Palhaços da Alegria, dos Magos do Bem e dos Mágicos por uma Escola da mais pura Imaginação.

Personagem in-vestido e apresentado por Leo Nogueira Paqonawta.

** "Harry Potter e a Ordem da Fênix", quinto livro da saga do bruxo de Hogwarts, de autoria de J.K. Rowling. O filme baseado nessa obra estreou em 2006/2007, produção de Heyday Films e distribuição de Warner Bros. Pictures.

Reprodução permitida para fins educacionais e não comerciais, pede-se citar a fonte.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Dia das Crianças e Movimento Infância Livre de Consumismo: "Somos o que defendemos"


Somos o que defendemos

Ligia Moreiras Sena*

Durante todo o ano, o pessoal do Movimento Infância Livre de Consumismo dedica seu tempo e seu esforço a algo que, na verdade, todos nós precisávamos estar fazendo, pelo menos nós que reconhecemos a infância como fase fundamental na formação de um ser humano íntegro e saudável: proteger as crianças dos efeitos nefastos do consumo, evitar que as crianças sejam vistas como peças de manobra no jogo injusto do consumismo.

São mulheres que poderiam dedicar o tempo que dedicam à causa às suas questões estritamente particulares, mas fizeram uma escolha que ultrapassa os limites de suas casas e que se baseia em uma coisa muito simples: no fato de que se uma criança pode e merece ser protegida, então todas podem e merecem. Não faz sentido algum protegermos nossos filhos dos ataques publicitários – que são, na verdade, uma das expressões de outros tipos de ataques, tão ou mais danosos – enquanto seus amiguinhos e amiguinhas continuam a ser massacrados todos os dias pelos apelos do consumo.

Muita gente acha que isso é uma grande bobagem. E não é raro ver pessoas que detêm espaços amplos de divulgação desperdiçarem a grande oportunidade de contribuírem para o bem coletivo e substitui-la pelo discurso senso-comum que, muito claramente, serve somente para atrair ainda mais gente, geralmente pessoas imersas no senso-comum, vivendo vidas senso-comum, numa sociedade senso-comum, moldada pelo capitalismo massacrante senso-comum.

Nós vivemos em um mundo capitalista. Embora eu não tenha iPhone, iPad, tablets e outras tecnologias, escrevo agora do meu computador, que foi comprado. Visto uma roupa que foi comprada. Meu café está agora em uma caneca que foi, também, comprada. Mas viver em um mundo capitalista não significa ser moldado e domado por ele. Não significa tornar seus os valores de consumo que delineiam as relações de consumo. Relações humanas não podem ser interpretadas como relações de consumo.

E é aí onde muitas pessoas se perdem: na confusão entre valores de consumo e valores humanos. Entre valores de consumo e valores individuais. E a prova cabal disso é que nos tornamos pessoas que acreditam que amor, integridade, senso de responsabilidade, reflexão crítica e tantas outras coisas fundamentais podem ser compradas. Porque, afinal, comprar é muito mais fácil que ensinar. É muito mais fácil que orientar. É muito mais fácil que dedicar tempo e atenção a mostrar o que é ou não adequado, coerente, responsável. Por isso, tantas e tantas pessoas compram seus filhos desde a mais tenra infância.

“Se você não for à escola, ou se atrasar, ou reclamar, vai pagar R$ 1,00”. O preço por não estar moldado a um sistema: R$ 1,00.

“Se você não jantar ou não almoçar, vai pagar R$ 0,75”. O preço pelo não entendimento da importância do alimento e de se alimentar bem: R$ 0,75.

“Se você ofender, xingar, brigar ou bater, vai pagar R$ 2,00”. O preço pela agressividade não orientada, pela não compreensão de que bater, xingar ou ofender dói no outro tanto quanto em si próprio: R$ 2,00.

 Além de mostrar a essas crianças que quase tudo na vida pode ser comprado (e que para o resto existe Mastercard), o que estamos fazendo quando agimos assim? Estamos dizendo: “eu não sei te ensinar, mas te comprar eu sei”. Estamos dizendo: “você é uma mercadoria e, como tal, posso te comprar”. Não há, nessa relação, noções de educação e orientação. Há uma relação mercantil onde um detém o poderio econômico e ou outro… é uma mercadoria.

Vamos pensar na relação estabelecida entre um presente e uma criança.

O que um presente produz na criança?

Satisfação. Alegria. Brilho no olhar.

Satisfação, alegria e brilho no olhar podem ser produzidos sem objetos, pela relação que se estabelece entre ela e as pessoas que a rodeiam? Podem. Devem.

Por que, então, transformá-los em capital?

Por que então comprar aquilo que pode ser produzido sem necessidade de colocar, sobre ele, o peso do capital?

Por que achar que datas específicas, criadas exclusivamente para fins capitalistas, pensadas para explorar pessoas, são momentos perfeitos para presentear nossos filhos?

Quem estimulou esse pensamento em você?

Que tipo de valores você está comprando e estimulando que outros comprem?

Por que sentir orgulho e satisfação por sua condição de explorado? E, pior, porque permitir que seus filhos também o sejam?

O Dia das Crianças não foi um dia criado para lembrar que toda e qualquer criança merece ser respeitada, cuidada, protegida – e não ser alvo da exploração capitalista. Não foi um dia criado para lembrar que toda criança tem direitos reconhecidos por uma Declaração Universal. Esse não seria o dia 12 de outubro, mas 20 de novembro, dia em que a Unicef oficializou a Declaração dos Direitos da Criança, em 1959.

O Dia da Criança é apenas uma data comercial, ganhou força no Brasil em 1955 como parte de uma campanha de marketing da Estrela, aquela empresa de brinquedos, que criou a “Semana do Bebê Robusto” (que nome…) com o único objetivo de impulsionar as vendas. E vendeu tanto que o país incorporou a data em seu calendário comemorativo.

Então você, que faz questão de incentivar o consumo nessa data e que se vê como dotado de opinião “própria”, está, na verdade, apenas reproduzindo aquilo que querem que você reproduza: que crianças podem ser exploradas comercialmente por um sistema que não pensa em você nem neles, e que não há mal nenhum nisso.

Muitas mães e pais estão combatendo os apelos desenfreados, antiéticos e cruéis do consumo que vê na infância um alvo perfeito. E enquanto isso, suas crianças estão crescendo. É provável que se tornem adultos antes que o apelo ao consumismo infantil seja vencido.

Se assim for, o que terá sido importante a essas crianças?

Algo que deveria ser muito simples de supor: os valores transmitidos ao longo de toda sua infância. Crianças que cresceram imersas em um outro modelo, um modelo que não valorizou o COMPRAR, mas o SER.  Que não envolve apenas combater o apelo ao consumismo e à publicidade infantil. Que envolve uma compreensão absolutamente diferente do que é a vida, que perpassa a crítica ao consumo exagerado mas, também, a qualidade da alimentação, o tipo de educação, as relações humanas, as relações familiares, o cuidado com o outro, entre todos os demais fatores que, em conjunto, podem ser chamados de vida.

Isso nos leva à frase daquele pacificador tão conhecido: “A felicidade está no caminho”. E ela não pode ser comprada de nenhuma forma. Mesmo que você esteja fazendo muita força para achar que sim.

Quando fazemos as crianças acreditarem que “um dia dedicado a elas” está fundamentalmente atrelado a um “poder de compra” e ao consumo, estamos estimulando a associação entre “ser alguém e ter algo”, o que se traduz em um vazio emocional e na perda da importância das pessoas por seus valores intrínsecos. Pessoas se tornam importantes porque algo é comprado para elas, e não pelo simples fato de que são pessoas. E isso, feito de maneira repetida ao longo de toda sua vida, faz com que a construção de sua identidade esteja associada a compra e a produtos. E é exatamente isso que a sociedade capitalista deseja.

É compreensível que muitas pessoas tenham resistência a problematizar a questão e que não enxerguem o problema do apelo ao consumo que o dia das crianças traz, principalmente quando consideramos a sua própria infância. É muito provável que essa pessoa também tenha crescido em um ambiente sem essa problematização. Mas isso não é um círculo impossível de ser quebrado, todos nós podemos interrompê-lo a qualquer momento e não permitir que nossos filhos sejam mais um elo dessa cadeia.

“A criança aprende que consumir é bom e prazeroso, principalmente quando há exemplo dos pais, a quem imita.

(…) A inserção da criança de dois a sete anos no mundo do consumismo é diretamente proporcional à qualidade e às configurações dos relacionamentos estabelecidos entre os pais e os filhos, de forma que há atitudes dos pais que podem estimular o consumo infantil e atitudes que podem desencorajá-lo. Nesse cenário, é absolutamente relevante considerar o sentimento da infância dos pais, ou seja,

quais percepções e concepções de criança eles têm, como tratam a infância e como estabelecem as relações com os filhos. O ambiente familiar como lugar de transmissão é geralmente o primeiro grupo social no qual a criança se insere, e, nesse sentido, as percepções dos pais sobre o que é ser criança são indissociáveis dos relacionamentos estabelecidos com os filhos.

 (Tiago Bastos de Moura, Flávio Torrecilas Viana e Viviane Dias Loyola, em “Uma análise de concepções sobre a criança e a inserção da infância no consumismo”)

 Que até o próximo 12 de outubro, no intervalo de um ano, nós possamos refletir sobre o que de fato é importante estimular em pessoas que criam outras pessoas e sobre qual nosso papel, de fato, na formação de uma sociedade que realmente respeite a infância. Que possamos mudar hábitos e reivindicar o respeito à infância, como forma de melhorar as relações humanas.

Crianças não precisam de bonecas que fazem xixi e cocô. Crianças precisam de gente que as defendam sempre, o ano inteiro.

Ainda que, ao fazer isso, sejam chamadas de patrulheiras, chatas e radicais. Afinal de contas, foram sempre os patrulheiros chatos e radicais os que conseguiram mudar o que precisava ser mudado. Não os que não veem problema em comprar e vender a infância.

Deixo aqui, nesse pós dia das crianças, meu agradecimento a duas turmas que estão constantemente na luta por seus e nossos filhos: os coletivos Infância Livre de Consumismo e Bater em Criança é Covardia.

Obrigada por tudo, amigos e amigas.

Um grande abraço

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(*) Ligia é mãe da Clara, mora em Florianópolis, estuda a violência no parto e escreve o blog Cientista Que Virou Mãe.


13 out 2013