sexta-feira, 26 de agosto de 2011

"Evitar que os cidadãos pensem é uma tarefa permanente dos media"...



O mundo à beira do caos*


Miguel Urbano Rodrigues


A crise do capitalismo é tão profunda que até os líderes dos EUA e da União Europeia e os ideólogos do neoliberalismo assumem essa realidade. Estão alarmados por não enxergarem uma solução que possa deter a corrida para o abismo. Esforçam-se sem êxito para que apareça luz no fim do túnel.

Apesar das contradições existentes, os EUA e as grandes potências da União Europeia puseram fim às guerras interimperialistas – como a de 1914-18 e a de 1939-45 – substituindo-as por um imperialismo colectivo, sob a hegemonia norte-americana, que as desloca para países do chamado Terceiro Mundo submetidos ao saque dos seus recursos naturais.

Mas a evolução da conjuntura mundial demonstra também com clareza que a crise do capital não pode ser resolvida no quadro de uma «transnacionalização global», tese defendida por Toni Negri e Hardt no seu polémico livro em que negam o imperialismo tal como o definiu Lenine. Entre os EUA e a União Europeia (e os países emergentes da Ásia e da América Latina) existe um abismo histórico que não foi nem pode ser eliminado em tempo previsível.

A crescente internacionalização da gestão não desemboca automaticamente na globalização da propriedade. O Estado transnacional, a que aspiram uma ONU instrumentalizada, o FMI, o Banco Mundial e a OMC é ainda uma aspiração distante do sistema de poder (*).

O caos em que o mundo está cair ilumina o desespero do capital perante a crise pela qual é responsável.

A ascensão galopante da direita neoliberal ao governo em países da União Europeia ressuscita o fantasma da ascensão do fascismo na Republica de Weimar. A Historia não se repete porem da mesma maneira e é improvável que a extrema-direita se instale no Poder no Velho Mundo. Mas a irracionalidade do assalto à razão é uma realidade.

O jogo do dinheiro nas bolsas é hoje muito mais importante na acumulação de gigantescas fortunas do que a produção. O papel dos «mercados» – eufemismo que designa o funcionamento da engrenagem da especulação nas manobras do capital – tornou-se decisivo no desencadeamento de crises que levam à falência países da União Europeia. Uma simples decisão do gestor de «uma agência de notação» pode desencadear o pânico em vastas áreas do mundo.

O surto de violência em bairros degradados de Londres, Birmingham, Manchester e Liverpool alarma a Inglaterra de Cameron e motiva nas televisões e jornais ditos de referência torrentes de interpretações disparatadas de sociólogos e psicanalistas que falam como porta-vozes da classe dominante.

Em Washington, congressistas influentes manifestam o temor de que, o «fenómeno britânico» alastre aos EUA e, nos guetos das suas grandes cidades, jovens latinos e negros imitem os das minorias da Grã Bretanha, estimulados por mensagens e apelos no Twitter e no Facebook.

Mas enquanto a pobreza e a miséria aumentam, incluindo nos países mais ricos, a crise não afecta os banqueiros e os gestores das grandes empresas. Segundo a revista «Fortune», as fortunas de 357 multimilionários ultrapassam o PIB de vários países europeus desenvolvidos.

Nos EUA, na Alemanha, na França, na Itália os detentores do poder proclamam que a democracia política atingiu um patamar superior nas sociedades desenvolvidas do Ocidente. Mentem. A censura à moda antiga não existe. Mas foi substituída por um tipo de manipulação das consciências eficaz e perverso. Os factos e as notícias são seleccionados, apresentados, valorizados ou desvalorizados, mutilados e distorcidos, de acordo com as conveniências do grande capital. O objectivo é impedir os cidadãos de compreender os acontecimentos de que são testemunhas e o seu significado.

Os jornais e as cadeias de televisão nos EUA, na Europa, no Japão, na América Latina dedicam cada vez mais espaço ao «entretenimento» e menos a grandes problemas e lutas sociais e ao entendimento do movimento da Historia profunda.

Os temas impostos pelos editores e programadores – agentes mais ou menos conscientes do capital – são concursos alienantes, a violência em múltiplas frentes, a droga, o crime, o sexo, a subliteratura, o quotidiano do jet set, a vida amorosa de príncipes e estrelas, a apologia do sucesso material, as férias em lugares paradisíacos, etc.

Evitar que os cidadãos, formatados pela engrenagem do poder, pensem, é uma tarefa permanente dos media.

As crónicas de cinema, de televisao, a musica, a critica literária reflectem bem a atmosfera apodrecida do tipo de sociedade definida como civilizada e democrática por aqueles que, colocados na cúpula do sistema de poder, se propõem como aspiração suprema a multiplicar o capital.

Em Portugal surgiu como inovação grotesca um clube de pensadores; os debates, mesas redondas e entrevistas com dóceis comentadores, mascarados de «analistas», são insuportáveis pela ignorância, hipocrisia e mediocridade da quase totalidade desses serventuários do capital. Contra-revolucionários como Mario Soares, António Barreto, Medina Carreira, Júdice; formadores de opinião como Marcelo Rebelo de Sousa, um intoxicador de mentes influenciáveis que explica o presente e prevê o futuro como se fora o oráculo de Delfos; jornalistas his master voice, como Nuno Rogeiro e Teresa de Sousa; colunistas arrogantes que odeiam o povo português e a humanidade, como Vasco Pulido Valente, pontificam nos media imitando bruxos medievais, servindo o sistema em exercícios de verborreia que ofendem a inteligencia.

O Primeiro-ministro e o seu lugar-tenente Portas, exibindo posturas napoleónicas, pedem «sacrifícios» e compreensão aos trabalhadores enquanto, submissos, aplicam o projecto do grande capital e cumprem exigências do imperialismo.

Desde o inicio do primeiro governo Sócrates, o que restava da herança revolucionaria de Abril foi mais golpeado e destruído do que no quarto de século anterior.

Ao Portugal em crise exige- se o pagamento de uma factura enorme da crise maior em que se afunda o capitalismo.

Nos EUA, pólo hegemónico do sistema, o discurso do Presidente Obama, despojado das lantejoulas dos primeiros meses de governo, aparece agora como o de um político disposto a todas as concessões para permanecer na Casa Branca. A sua ultima capitulação perante o Congresso estilhaçou o que sobrava da máscara de humanista reformador. Para que o Partido Republicano permitisse aumentar de dois biliões de dólares o tecto de uma divida publica astronomica- já superior ao Produto Interno Bruto do país – aceitou manter intocáveis os privilégios indecorosos usufruídos por uma classe dominante que paga impostos ridículos e golpear duramente um serviço de saúde que já era um dos piores do mundo capitalista. A contrapartida da debilidade interior é uma agressividade crescente no exterior.

Centenas de instalações militares estadounidenses foram semeadas pela Ásia, Europa, América Latina e África.

Mas «a cruzada contra o terrorismo» não produziu os resultados esperados. As agressões americanas aos povos do Iraque e do Afeganistão promoveram o terrorismo em escala mundial em vez de o erradicar. Crimes monstruosos foram cometidos pela soldadesca americana no Iraque e no Afeganistão. O Congresso legalizou a tortura de prisioneiros. A «pacificação do Iraque», onde a resistência do povo à ocupação é uma realidade não passa de um slogan de propaganda. No Afeganistão, apesar da presença de 140 000 soldados dos EUA e da NATO, a guerra está perdida.

Os bombardeamentos de aldeias do noroeste do Paquistão por aviões sem piloto, comandados dos EUA por computadores, semeiam a morte e a destruição, provocando a indignação do povo daquele país.

O bombardeamento da Somália (onde a fome mata diariamente milhares de pessoas) por aviões da USAF, e de tribos do Iémen que lutam contra o despotismo medieval do presidente Saleh tornou-se rotineiro. Como sempre, Washington acusa as vítimas de ligações à Al Qaeda.

Na África, a instalação do AFRICOM, um exército americano permanente, e a agressão da NATO ao povo da Líbia confirmam a mundialização de uma a estratégia imperial.

O terrorismo de Estado emerge como componente fundamental da estratégia de poder dos EUA.

Obviamente, Washington e os seus aliados da União Europeia, tentam transformar o crime em virtude. Os patriotas que no Iraque, no Afeganistão, na Líbia resistem às agressões imperiais são qualificados de terroristas; os governos fantoches de Bagdad e Kabul estariam a encaminhar os povos iraquiano e afegão para a democracia e o progresso; o Irão, vítima de sanções, é ameaçado de destruição; o aliado neofascista israelense apresentado como uma democracia moderna.

A perversa falsificação da Historia é hoje um instrumento imprescindível ao funcionamento de uma estratégia de poder monstruosa que, essa sim, ameaça a Humanidade e a própria continuidade da vida na Terra.

O imperialismo acumula porem derrotas e os sintomas do agravamento da crise estrutural do capitalismo são inocultáveis.

O capitalismo, pela sua própria essência, não é humanizável. Terá de ser destruído. A única alternativa que desponta no horizonte é o socialismo. O desfecho pode tardar. Mas a resistência dos povos à engrenagem do capital que os oprime cresce na Ásia, na Europa, na América Latina, na África. Eles são o sujeito da História e a vitoria final será sua.

Vila Nova de Gaia, 15 de agosto de 2011.

1 - Estes temas são tratados em profundidade pelo economista argentino Claudio Katz num livro a ser editado brevemente


* Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 1969, de 25.08.2011


Reproduzido do Diario.Info
26 ago 2011.


Grifos de Filosomídia

Leia outros artigos de Miguel Urbano Rodrigues, um dos editores do Diario.Info, clicando aqui.



Vídeo de 05 jun 2008.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Dia da Infância: Ária da Liberdade às Crianças castradas em seus sonhos...



Pela Infância ao redor do mundo e a todas assuas menininices...

O Filho do Homem lamentavelmente apresenta: As crianças castradas em seus sonhos e suas vozes...

Les Fils et filles oubliés du la Liberté, Égalité et Fraternité du l'ancien et le nouveau régime du le monde capitaliste...

Lascia Ch'io Pianga

Antitelejornal: hoje dançarei nos braços da vida...


Antitelejornal

Skank
Composição: Samuel Rosa e Rodrigo F. Leão

Hoje nasce meu filho
Hoje vou me casar
Hoje dentro do espelho
Vou poder enxergar
Pais, mães, irmãos
Ruas, bairros, cidadelas
E o quintal dos corações
Onde moram as coisas belas
Hoje vou namorar
As solteiras e as casadas
As jovens, as carquebradas
As lindas e as descuidadas
Meu amor vai se espalhar
Pelas camas e calçadas
Nas prisões e condomínios
Nas favelas e esplanadas

Sem farsa, conchavo, sem guerra
Sem malta, corja ou trapaça
A vida é um drible ágil
Entre as pernas da desgraça
Hoje eu vou inventar
O antitelejornal
Pra passar só o que é belo
Pra passar o essencial

Hoje andarei sobre as flores
Amarelas do ipê
Espalhadas pelo chão
Antes de anoitecer
Cantarei no meu velório
Dançarei nos braços da vida
Dormirei com a minha amada
Vida boa de ser vivida

Sem farsa, conchavo, sem guerra
Sem malta, corja ou trapaça
A vida é um drible ágil
Entre as pernas da desgraça
Hoje eu vou inventar
O antitelejornal
Pra passar só o que é belo
Pra passar o essencial


Breve, um clip filosomidiático sobre a música

Vídeo disponível clicando aqui.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Televisão na liderança como fonte de informação



Televisão ainda lidera como fonte de informação

Redação
Revista no Varejo

Em meio a um “boom” digital e tecnológico, as brasileiras ainda preferem a televisão quando o assunto é obter informações sobre novos produtos. É o que confirma o estudo “Mulheres do Amanhã”, realizado pela Nielsen. A internet aparece em segundo lugar, seguido pelo boca a boca.

A preferência pela TV como fonte de informação ocorre inclusive em dez dos dez países emergentes que foram pesquisados - deste público, 54% preferem TV, contra 11% que optam pelo buzz marketing (boca a boca) e 7% que recorrem às revistas.

Já nos países desenvolvidos, sete dos 11 que foram analisados alegam que preferem a TV (24%), contra apenas 15% que continuam optando pelos sites de buscas na internet e 14% que recorrem ao buzz marketing.

“O grande destaque nesta questão é não subestimar o poder da propaganda boca a boca e enfatizar plataformas digitais combinadas a veículos tradicionais de alto alcance”, explica Olegário Araújo, diretor de atendimento da Nielsen.

Grau de confiança das mulheres

Das 22 formas de propaganda, a Nielsen constatou que as “recomendações de conhecidos” é a fonte mais confiável para as entrevistadas nos países desenvolvidos (73%) e emergentes (82%), seguida de websites de marcas (60% nos países emergentes) e opiniões de consumidores na internet (49% nos países desenvolvidos).

A pesquisa, que também analisou a fidelidade do público feminino em relação à marca, foi realizada entre fevereiro e abril de 2011, com quase 6.500 mulheres entrevistadas em 21 países, nas regiões da Ásia-Pacífico, Europa, América Latina, África e América do Norte.

Apesar do preço ter uma grande influência nas decisões de compras para a maioria das categorias, ele é citado como o terceiro atributo de fidelização entre as brasileiras. Já o ponto número um de lealdade à marca, entre 12 fatores, é a qualidade, seguida da confiança na marca.

Mídias sociais

De acordo com o instituto, o uso das mídias sociais alcançou altas taxas de penetração em países como Estados Unidos (73%), Itália (71%), Coréia do Sul (71%), Austrália (69%), França (64%), Brasil (63%) e Alemanha (50%). Mas isso não significa que elas consigam influenciar a decisão de compra das consumidoras.

No Brasil, por exemplo, 10% das mulheres são influenciadas por propaganda normal e apenas 13% pelas propagandas nas redes sociais (com contexto social, que mostra quais os amigos curtiram ou seguiram determinada marca anunciada).

Reproduzido da Revista no Varejo (22/08/2011) via clipping FNDC.

En la actual crisis: gobernados por ciegos e irresponsables



En la actual crisis: gobernados por ciegos e irresponsables

por Leonardo Boff
20/08/2011

"Afinando los muchos análisis hechos acerca del conjunto de crisis que nos asolan, llegamos a algo que nos parece central y sobre lo que toca reflexionar seriamente. Las sociedades, la globalización, el proceso productivo, el sistema económico-financiero, los sueños predominantes y el objeto explícito del deseo de las grandes mayorías es consumir y consumir sin límites. Se ha creado una cultura del consumismo propalada por todos los medios. Hay que consumir el último modelo de celular, de zapatillas deportivas, de ordenador. El 66% del PIB norteamericano no viene de la producción sino del consumo generalizado.

Las autoridades inglesas se sorprendieron al constatar que, entre quienes promovían los disturbios en varias ciudades, no solamente estaban los habituales extranjeros en conflicto entre sí, sino muchos universitarios, ingleses desempleados, profesores y hasta reclutas. Era gente enfurecida porque no tenía acceso al tan propalado consumo. No cuestionaban el paradigma de consumo sino las formas de exclusión del mismo.

(...) He aquí una solución del despiadado capitalismo neo-liberal: si la orden que es desigual e injusta lo exige, se anula la democracia y se pasa por encima de los derechos humanos. Y esto sucede en el país donde nacieron las primeras declaraciones de los derechos de los ciudadanos.

Si miramos bien, estamos enredados en un círculo vicioso que puede destruirnos: necesitamos producir para permitir el tal consumo. Sin consumo las empresas van a la quiebra. Para producir, necesitan los recursos de la naturaleza. Estos son cada vez más escasos y ya hemos dilapidado un 30% más de lo que la tierra puede reponer. Si paramos de extraer, producir, vender y consumir no hay crecimiento económico. Sin crecimiento annual los países entran en recesión, generando altos índices de desempleo. Con el desempleo, irrumpen el caos social explosivo, depredaciones y todo tipo de conflictos. ¿Cómo salir de esta trampa que nos hemos preparado a nosotros mismos?

(...) ¿Cómo hacer? Existen varias sugerencias: el «modo sostenible de vida» de la Carta de la Tierra, el «vivir bien» de las culturas andinas, fundado en el equilibrio hombre/Tierra, la economía solidaria, la bio-socio-economía, el «capitalismo natural» (expresión desafortunada) que intenta integrar los ciclos biológicos en la vida económica y social, el ecosocialismo y otras.

(...) Urge tener valor, osadía para cambios radicales, si es que todavía nos tenemos un poco de amor a nosotros mismos."

Leia o texto completo na página de Leonardo Boff clicando aqui.

sábado, 20 de agosto de 2011

As novas “fontes de arranjo dos fatos” na fronteira entre a política e a mídia


Serão mesmo os fatos subversivos?

Muniz Sodré

“Os fatos são subversivos” – é o que nos garante o escritor inglêsTimothy Garton Ash desde o título de seu livro que acaba de ser publicado em português (Companhia das Letras, 430 pp.). Ash pratica um misto de jornalismo e historiografia, combinando reportagens com a pesquisa e a reflexão acadêmicas. Como professor é “top-model”: ensina em Oxford e em Stanford. O grande interesse de seu trabalho para a atividade jornalística de hoje é a sua insistência na categoria dos fatos, cuja realidade procura elucidar tanto nas questões políticas como nas culturais. Mesmo considerando que “já houve tempos piores para os fatos” (por exemplo, na década de 30, o aparato totalitário da mentira organizada nas ditaduras tecnológicas), ele chama a atenção para as novas “fontes de arranjo dos fatos”, que se encontram principalmente na fronteira entre a política e a mídia.

A questão tem importância prática e teórica. Mais de uma vez, frisamos em textos publicados aqui no OI, assim como em trabalhos acadêmicos, que o jornalismo implica um tipo particular de “conhecimento de fato”, nos termos da definição de Hobbes:

“Há dois tipos de conhecimento: um é o conhecimento de fato, e outro o conhecimento da conseqüência de uma afirmação a respeito de outra. O primeiro não é outra coisa senão sensação e memória, e é conhecimento absoluto, como quando vemos realizar-se um fato ou recordamos o que se fez; deste gênero é o conhecimento que requer uma testemunha. O último se denomina ciência (....)”.

O conhecimento dos fatos redunda, na verdade, em História, em torno da qual sempre girou o jornalismo, mesmo sem pretensões de essência ou sequer de sistematização de seus registros. O que os fatos, em si mesmos, nos transmitem são conhecimentos contingentes, isto é, que poderiam ser de outra forma, relativos, não necessários. Entenda-se: não necessários em si próprios, como o conhecimento científico, mas absolutamente necessários à atividade jornalística, onde vigora a frase lendária “os comentários são livres, mas os fatos são sagrados”.

Imprensa em transformação

A preocupação de Ash deriva da evidência de que, com a transformação da imprensa pelas novas tecnologias da informação e da comunicação e por suas conseqüências comerciais, a frase tenha sido modificada para “os comentários são livres, mas os fatos são caros”. Ele é categórico:

“Com a mudança da economia da coleta de fatos, encontram-se novos modelos de receita para muitas áreas do jornalismo –– esportes, negócios, diversão, interesses especiais de todo tipo ––, mas os editores ainda tentam descobrir como sustentar o caro negócio do noticiário internacional e do jornalismo investigativo. Enquanto isso, as sucursais no estrangeiro de respeitados jornais estão fechando como luzes de escritório que um zelador apaga em sua ronda noturna”.

Observatório da Imprensa
08/08/2011 na edição 654

Leia o texto completo na página do Observatório da Imprensa, clicando aqui.

“Los poderosos medios de comunicación han perdido credibilidad”



“Los poderosos medios de comunicación han perdido credibilidad”

Entrevista a Pedro Brieger

Por Luis Cuello . Otra Prensa
18 August, 2011

Una agitada agenda desarrolló el periodista y sociólogo argentino Pedro Brieger en suelo chileno, que incluyó visitas a universidades y colegios movilizados. En la víspera de su regreso a Buenos Aires, Brieger nos habló de su interés por el proceso que se vive en Chile y sobre el papel de los grandes medios en los nuevos escenarios políticos.

Se dice que los medios hegemónicos argentinos presentan una imagen ejemplar de Chile y de su modelo económico. ¿Cambió el enfoque de estos medios con la crisis en la educación?

Hay medios que han tenido una afinidad ideológica con el modelo económico y social de Chile, como el diario La Nación, no necesariamente Clarín. Pero si es verdad que en los grandes medios se suele citar a Chile como un ejemplo. En realidad hay un problema que va más allá de Chile, y es que muchos medios, políticos y comunicadores sociales hablan bien de Chile para hablar mal del gobierno argentino. No es que sepan mucho de Chile. Suelen decir “el gobierno argentino hace todo mal, no somos un país serio como Brasil, Chile y Uruguay”. Y no explican en que es serio Chile, Uruguay o Brasil. Es más una consigna. He tenido la oportunidad de entrevistar a políticos y cuando elogiaban el modelo chileno les preguntaba ¿qué está elogiando?

En este tiempo se habla mucho más de Chile. Sin pedantería ni falsa modestia, creo que instalé el tema de las protestas sociales en Chile en los medios argentinos, porque fui el primero que comenzó a hablar, porque lo seguía de cerca.

Cómo decía ayer en la Casa Central de la Universidad de Chile, no me conformo con los despachos de las agencias. Sigo Otra Prensa, El Ciudadano, El Mostrador, El Clarín de Chile, la prensa del sur, cuando fue el conflicto de HidroAysén.

En tu última columna te preguntas si caminamos hacia una refundación. ¿Es posible transformar un país con los mismos medios de comunicación herederos del autoritarismo, esencialmente conservadores, que ejercen una suerte de monopolio ideológico? ¿Hasta que punto funcionan como un dique de contención a los procesos de cambio?

Si bien esto es cierto, también es verdad que muchos medios de comunicación -no todos- se acomodan. Cuando cayó el gobierno de Ben Alí en Túnez o Mubarak en Egipto, casi de la noche a la mañana medios que eran afines a un gobierno que estaba hace treinta años, se convirtieron en grandes demócratas, en periódicos abiertos, casi como si siempre hubieran estado a la vanguardia en contra del régimen. Otros no, porque responden a cuestiones ideológicas muy profundas.

Creo que el rol de los medios alternativos es muy importante.

Hay que tomar en cuenta que Evo Morales tiene a todos los medios en contra y gana una elección tras otra, Rafael Correa tiene a la inmensa mayoría de los medios en contra y gana las elecciones. También ocurre con Chávez, Lula, con Cristina Fernández, y ganan.

Crisis de los médios

Creo que hoy hay una crisis en los medios de comunicación, en los poderosos medios de comunicación, entre otras cosas porque han perdido credibilidad. Esta consigna “la tele miente” que se levanta en Chile es similar a la que se levanta en Argentina, “Clarín miente”. Clarín ha perdido una parte importante de sus lectores. Hoy Clarín casi se ha convertido en un partido político opositor al gobierno de Cristina Fernández, ya no es un diario.

Cuando se dice que algunos medios de comunicación reemplazan a los partidos políticos desacreditados, eso es real.

Leia a entrevista completa na página de Otra Prensa! clicando aqui.

Conheça a página de Pedro Brieger clicando aqui.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O estranho mundo que se mostra às crianças: Fanny Abramovich


O estranho mundo que se mostra às crianças

Fanny Abramovich

No artigo sobre a televisão a autora traz uma discussão realizada com diversas crianças sobre os programas televisivos destinados a elas. O objetivo era mostrar àqueles que fazem televisão a necessidade de considerar a opinião das crianças, antes de produzir algo para elas. Ainda sobre esse tema, Fanny propõe um teste para que os adultos pensem sobre a programação dirigida às crianças. Segundo ela, tais programas apresentam uma visão deformada de infância e não estimulam em nada seus espectadores.

Nesse livro, a autora reúne alguns de seus artigos publicados, em diferentes momentos, a respeito do amplo universo dos produtos culturais dirigidos ao público infantil, como a literatura, a música, o teatro, a televisão e os brinquedos, convidando-nos a uma leitura crítica de tais produtos. Inicia sua análise pela literatura infantil, descrevendo os modelos seguidos pelas principais editoras da época, revelando os diversos conceitos, valores, padrões éticos e culturais difundidos por essas entre as crianças.

Uma das propostas literárias mais focadas e discutidas pela autora no livro é a de Monteiro Lobato, publicada pela editora Brasiliense. Esta parece ser uma das únicas obras que não critica negativamente, pelo contrário, em suas descrições Fanny se revela uma grande fã de seus pensamentos e produções, inclusive escreve um artigo exclusivamente sobre o autor, apontando diversas opiniões encantadas de leitores a respeito de Lobato.

Apresenta um artigo sobre o que as crianças sabem sobre os livros escritos para elas, trazendo um registro de depoimentos realizados com várias crianças sobre os livros já lidos por elas e um outro artigo sobre literatura juvenil, baseado também numa seleção de entrevistas e depoimentos sobre essa literatura.

Nesse livro ainda, comenta criticamente sobre os discos e as músicas destinadas às crianças, demonstrando um panorama desolador, pois diz que as produções musicais infantis não apresentam renovação e nem criatividade, prevalecendo produções da década de 40. Assinala também, através de depoimentos, o que as crianças pensam sobre as músicas destinadas a elas.

No artigo sobre teatro infantil, Fanny analisa várias peças, descrevendo-as, literalmente, como tragédia para o público infantil. Fala sobre a falta de imaginação dos autores do gênero e pesquisa várias opiniões sobre o mesmo. Insiste que seria necessária uma grande melhora dessa produção, para realmente interessar as crianças.

No artigo sobre a televisão a autora traz uma discussão realizada com diversas crianças sobre os programas televisivos destinados a elas. O objetivo era mostrar àqueles que fazem televisão a necessidade de considerar a opinião das crianças, antes de produzir algo para elas. Ainda sobre esse tema, Fanny propõe um teste para que os adultos pensem sobre a programação dirigida às crianças. Segundo ela, tais programas apresentam uma visão deformada de infância e não estimulam em nada seus espectadores.

O último capítulo do livro é destinado à análise dos brinquedos: de que materiais são feitos e com qual finalidade. Para a autora, cada vez estes objetos conseguem “brincar sozinhos”, pois não incentivam a criatividade das crianças. Fanny ressalta que os brinquedos devem ser de materiais resistentes e convidativos, devem encantar, despertar experiências, permitir que a criança invente.

De acordo com ela, aqueles que mais se aproximam desse ideal são os brinquedos da cultura popular. Assim como na análise da televisão, Fanny apresenta as críticas e sugestões do público infantil sobre os brinquedos.

Na parte final, também analisa os brinquedos situados no espaço externo, verificando praças de diversas cidades e consultando arquitetos e crianças, bem como as possibilidades que propõem.

Deixamos a todos o convite que a leitura de Fanny Abramovich nos fez: desenvolver um olhar crítico sobre esse “estranho mundo que se mostra às crianças”, buscando transformá-lo para melhor. E isso demanda, sempre, ouvir o que elas têm a nos dizer.

Resenha extraída de Roda de Leitura Virtual (2009) 

"Nunca desliga": repercussões da "entrevista" com o sociólogo Silvio Caccia Bava


GloboNews e a “visão de cobertura”

André Raboni
Observatório da Imprensa
16/08/2011

Depois do caos que se instalou em algumas cidades inglesas, ficou ainda mais visível o lado estreito da “visão de cobertura” de parte significativa dos nossos jornalistas. O que chamo de “visão de cobertura” é aquela que sentencia a pluralidade do mundo a partir de uma análise tacanha, caolha, reflexo de um mundo visto de cima e que revela certo descolamento da realidade lá de baixo.

Na matéria da GloboNews, três jornalistas forçaram a barra para introjetar na fala do entrevistado (o sociólogo Silvio Caccia Bava) as próprias vulgaridades que carregam nas suas “cabeças de cobertura”, que simplesmente não conseguem enxergar a insatisfação das classes baixas da Inglaterra, sem que para isso taxe todos esses jovens (em sua maioria, negros e pobres) de “marginais”.

O primeiro jornalista começa a entrevista:

“Ô Silvio, como a gente vê nessas imagens, me parece que o estopim foi o protesto contra a morte do jovem nesse tiroteio com a polícia. Mas o contexto social parece ter perdido o fundamento nessas manifestações. O que está acontecendo, agora, na sua visão, é que pessoas e jovens estariam aproveitando o caos para praticar crimes?”

“Não, eu não vejo assim”, inicia o entrevistado, que precisou rebater os entrevistadores durante toda a entrevista.

“Como é que fica a sociedade?”

Depois do terceiro minuto, uma segunda jornalista pergunta ao entrevistado:

“Acho que o que impressiona o mundo todo nesse conflito é o grande número desses jovens e a violência toda. Se eles não são marginais,como você está falando, quem são esses jovens? São estudantes que estavam de férias e seguiram o fluxo da violência?”

“Não...”

“Quem são esses jovens? São estudantes que estavam de férias...” Ou seja, pode-se traduzir a “visão de cobertura” no discurso da jornalista da seguinte forma: ou esses jovens são marginais, ou são vagabundos sem nada o que fazer. Esta é a sentença que não cabe recurso. Depois do quarto minuto do vídeo, a coisa vai ainda mais longe. Outra jornalista expõe sua “visão de cobertura”. Ela pergunta o seguinte:

“Silvio, você coloca aí: `Não é, não são marginais´, né? Mas eles estão cometendo crimes e é preciso agir contra esses crimes. Quer dizer, como que a polícia ou o governo vai agir diante de uma população que está fazendo uma, promovendo um quebra-quebra desses, mas ao mesmo tempo não são `marginais´, e sim, jovens que estão revoltados com a situação? Quer dizer, como é que fica a sociedade nesse momento, pois é muito angustiante você ver pessoas de bem promovendo ataques como esse, né?”

“Basta matar todos os pobres”

“Você também chamaria de marginais os 100 mil jovens estudantes do Chile que se enfrentaram ontem com a polícia?”, questiona, de pronto o sociólogo.

Um trecho da fala da jornalista é revelador dessa “visão de cobertura”. Quando ela enuncia “como é que fica a sociedade nesse momento...”, me pergunto: que sociedade será esta de que ela fala? Nota-se que nessa “visão de cobertura” (muito comum, por sinal, aqui no Brasil), existem duas sociedades – num tom claramente maniqueista: a boa e a ruim. A boa, no caso, é a própria “sociedade”. A ruim é aquela composta de marginais, os negros dos guetos, das periferias – e toda essa gente diferenciada que só existe para causar estorvo.

Daí, a pergunta da jornalista: “Como que a polícia ou o governo vai agir?”

A sugestão que eu faço para clarear essa “visão de cobertura” é a seguinte: que o governo inglês chame rapidamente as forças armadas para bombardear as periferias de Londres e as cidades que estão em caos...

Quem sabe, assim não se aplica, de uma vez por todas, aquela velha máxima que diz: “Para se acabar com a pobreza no mundo é simples: basta matar todos os pobres.”

Reproduzido do Observatório da Imprensa Via clipping FNDC



Leia também por Silvio Caccia Bava "A crise e as oportunidades" (2009), em Crises e Oportunidades, clicando aqui.

Trecho: “Hoje, depois de algum alvoroço que pretendia atribuir a crise à falta de regulação e supostos excessos, tudo continua como antes. Nem mesmo nos paraísos fiscais se tocou. Vivemos, portanto, um impasse, em que o Estado, capturado pelo poder das grandes corporações, não tem capacidade de operar a regulação democrática em defesa do interesse público.

As consequências sociais da crise são alarmantes. O seu maior impacto é o aumento da pobreza, tornando ainda mais pobres os que já são pobres e trazendo também para baixo da linha de pobreza setores das classes médias. Esta situação se traduz concretamente em falta de alimentos, água potável, saneamento básico, saúde, moradia, educação e, por fim, de cidadania.

(...) Com a doutrina neoliberal e a regulação pública desacreditadas, abre-se um novo cenário de conflitos e disputas, um novo cenário de possibilidades históricas. Passa a ser da maior importância, para alguns, a recuperação da legitimidade das instituições políticas existentes; para outros, a criação de uma nova institucionalidade democrática, orientada para a construção de uma outra sociedade, com novos padrões de produção e consumo.

(...)Já se percebe em vários países, fruto da crise atual, um crescimento das mobilizações sociais e das lutas por direitos. E é de esperar que surjam novos movimentos sociais, cada vez mais importantes, de resistência à destituição desses direitos e à precarização da vida. Ainda mais agora, que o socorro ao sistema financeiro mostrou que os Estados dispõem de enormes somas de recursos que antes não se supunha sequer que existissem ou estivessem disponíveis.”

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Duas opiniões sobre Classificação Indicativa: Ministério das Comunicações e ABERT



Classificação não é censura, quem censura é o mercado

Redação . Midia News
15/08/2011

Responsável pela classificação indicativa de filmes e programas de TV diz que critério é técnico e que não há arbitrariedade

Numa sala no terceiro andar do edifício anexo do Ministério da Justiça, o advogado Davi Pires comanda uma equipe de 30 pessoas cujo trabalho é assistir filmes, ver televisão e jogar videogame. Sua missão, no entanto, está além da crítica cinematográfica ou da análise da qualidade dos programas. Ele é o responsável pela classificação indicativa das obras audiovisuais. De seu escritório saem decisões que dizem a quem cada atração é indicada a depender da faixa etária.

Em entrevista ao iG, Davi rechaçou as críticas sobre a possível censura promovida por seu departamento, uma vez que a idade que eles carimbarem numa atração vai determinar se a mesma poderá passar na televisão às 20h, 21h ou só depois das 23h. Para ele, a liberdade de expressão é prejudicada não pela classificação, mas pelo mercado.

"Temos que nos perguntar qual é o direito de expressão? Do autor ou da empresa? Pois também há coisas que o autor quer colocar no ar e a empresa não permite. Se for falar em censura, digo que quem censura é o mercado".

Leia o texto completo no clipping do FNDC clicando aqui.

“Fixar horário de acordo com classificação é inconstitucional”

Severino Motta . Último Segundo
16/08/2011

Segundo Gustavo Binenbojm, classificação dá poder de barganha ao governo, que pode interferir na linha editorial das emissoras

O advogado Gustavo Binenbojm é um dos críticos à fixação de horários para a exibição de programas na TV aberta de acordo com a classificação indicativa atribuída à atração pelo Ministério da Justiça. De acordo com ele, tal situação é inconstitucional e dá poder de barganha ao governo, que pode interferir até mesmo na linha editorial das emissoras.

“Não posso dar dados concretos pois estou no caso, mas há barganha. A emissora precisa do horário para passar seu programa. Se o Ministério diz que vai reclassificar, ela perde esse horário. Isso dá poder ao governo, que pode negociar até mesmo o jornalismo da emissora para que ela mantenha uma atração no horário que quer”, disse.

O advogado é o representante da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) numa ação que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) visando acabar com a fixação dos horários para os programas de acordo com a classificação indicativa.

Leia o texto completo no clipping do FNDC clicando aqui.

Saiba mais sobre o debate clicando aqui em Cultura Digital, ou em Classificação Indicativa no Marcadores da coluna à direita no blog.

... Os indignados ainda vão virar o planeta de cabeça pra baixo...


... Os indignados ainda vão virar o planeta de cabeça pra baixo...

Marcelo Semer*

Desta vez não são os emergentes asiáticos que expõem a risco o sistema econômico internacional, mas os filhos da tradicional família europeia.

Não foi uma república de bananas que teve sua nota rebaixada pela agência de investimentos por um possível calote, mas a toda-poderosa pátria de Tio Sam.

O quebra-quebra urbano depois da violência policial não se deu nas estreitas vielas das favelas do Rio de Janeiro, mas na Londres dos lendários policiais desarmados.

E o terrorista fundamentalista que matou dezenas num acampamento de jovens, em nome da fé e da pureza, é um cristão nórdico, branco e de olhos claros.

Que surpresas mais nos aguardam nesse admirável mundo novo, um planeta de cabeça para baixo?

Revoluções no mundo árabe buscaram abrir alternativas de liberdade que superassem ditaduras e teocracias, mas não comoveram aqueles que sempre pretenderam exportar, à força, seus modelos prêt-à-porter de democracia.

As praças da Espanha se encheram de indignados, descontentes com a falta de perspectivas e de empregos, e os políticos se espantam e desprezam os movimentos espontâneos, apenas por que não os atingem nas primeiras urnas.

Na Grécia, as ruas explodiram de revolta pela contrariedade ao sacrifício de quem já vem sofrendo. Cortes sociais permanecem sendo a única resposta formulada pelos agentes que produziram as crises. Por incrível que pareça, são justamente os alunos reprovados que continuam impondo as regras, que, por óbvio, jamais os atingem.

O documentário Trabalho Externo (Inside Job), vencedor do Oscar, explicou bem porque a maioria dos economistas norte-americanos não foi capaz de enxergar a crise brotando na frente de seus olhos. Boa parte da intelligentsia econômica estava na folha de pagamento do sistema financeiro que a criava.

Quando a imprensa tenta nos alertar desesperadamente sobre os riscos advindos da web, à custa de alguns poucos crackers em ações inexpressivas, eis que a vida real mostra que o perigo mora em cima.

A Inglaterra descortina grampos e desmandos da grande mídia e as relações para lá de incestuosas entre Murdoch e os governos.

Mas nem é preciso tantos crimes expostos, para entender os riscos que o excesso de poder e concentração pode provocar.

Quando a imprensa toma partido e faz políticos reféns, resguardando-se o direito de influir na política com o peso desproporcional de quem cria celebridades, destrói reputações e instaura pânicos, qualquer processo democrático se vicia.

Bom, nem tudo é novidade no globo.

Crianças africanas seguem morrendo escandalosamente de fome expondo a crueldade insensível de uma distribuição injusta de riquezas, enquanto os países ricos encontram mecanismos mais eficientes de fechar suas fronteiras para novos imigrantes. Se for o caso, que eles morram de fome à distância.

Cairo, Santiago, Londres, Tel Aviv. Parece cada vez menos crível que a paciência dos indignados se eternize.

Com o tempo, vai ser preciso mais do que comentaristas econômicos de jornais e TVs para convencer o povo que reverenciar o sistema financeiro e seus estratosféricos lucros, é a melhor forma de proteger o planeta e salvar nossas almas.

10 ago 2011

* Marcelo Semer, 45 anos, juiz de direito em São Paulo e escritor. Membro e ex-presidente da Associação Juízes para a Democracia, autor do romance "Certas Canções". Colunista no Terra Magazine.

Assista também a entrevista de Eduardo Galeano sobre a juventude na Espanha.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Consulta pública sobre Marco Regulatório sai em até 90 dias



Consulta pública sobre Marco Regulatório sai em até 90 dias

Rosa Leal
Instituto Telecom
15/08/2011

Foi o que afirmou o secretário executivo do Ministério das Comunicações, Cesar Alvarez, durante palestra no Seminário O Futuro das Telecomunicações, realizado no Rio no dia 12 de agosto, promoção do Clube de Engenharia e da revista Carta Capital com apoio de várias entidades, dentre as quais o Instituto Telecom.

Alvarez enfatizou que as políticas de telecomunicações e comunicações foram estratégicas para o governo Lula e são estratégicas para o governo Dilma. Mas, ressaltou, apesar de ser uma política pública necessária precisa ser conquistada, “pois está além de um partido, de uma coligação. É uma dinâmica social”. Ao responder a uma pergunta do Instituto Telecom, que cobrou definição do governo sobre a exploração do serviço de banda larga em regime público, Cesar Alvarez disse que embora esta não seja uma discussão irrelevante, “é equivocada”. E listou uma série de procedimentos burocráticos que, segundo ele, seriam necessários para tornar possível a banda larga em regime público. Ele defendeu a posição do governo, de assinar o Termo de Compromisso com as operadoras, estipulando velocidade de 1 mega e custo da assinatura em 35 reais, como forma de massificar a banda larga. Disse ainda que a Anatel está trabalhando no incremento de indicadores de qualidade que possam medir a velocidade de conexão efetivamente oferecida ao usuário.

O secretário executivo destacou também a necessidade do Brasil voltar a produzir conhecimento e inovação na área de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Ele lembrou que a partir dos anos 1990 o país praticamente parou de produzir conhecimento em TICs, o que pode ser constatado pela redução brutal no número de patentes registradas e de artigos indexados em publicações internacionais. “Como não houve políticas públicas que permitissem a produção do conhecimento e o patenteamento de produtos, não será em dois governos que voltaremos ao patamar anterior”, disse ele, acrescentando que o governo trabalha com visão de que as TICs são estratégicas para a soberania do país.

O presidente da Telebrás, Caio Bonilha, endossou as afirmações de Alvarez informando que, em parceria com a PUC, o Centro de Pesquisas da Telebrás está sendo remontado. A intenção é criar núcleos no país para dar oportunidade a que os inventores possam patentear seus produtos com a Telebrás.

Reproduzido do clipping do FNDC

sábado, 13 de agosto de 2011

BBC: outro jornalista surpreendido pelas declarações do entrevistado



BBC ou Globo: Lá, como cá, o jornalismo é o mesmo

"Não há diferença essencial entre a Rede Globo e a BBC. Os que querem “mídia” podem perder suas últimas ilusões liberalóides conservadoras. Nenhum jornalismo-que-há sempre será melhor que o jornalismo-que-há". Artigo assinado pelo coletivo Vila Vudu, reproduzido a partir do blog Redecastorphoto.

A matéria abaixo esteve no ar. Nunca aconteceria no Brasil, porque a Rede Globo nunca entrevista gente que seja realmente contra a posição da “mídia” e as convicções pessoais dos jornalistas.

Aliás, fazem todos muito bem, porque ouviriam o que não querem ouvir nem querem que ninguém ouça e vivem para impedir que as pessoas digam e, se alguém disser, para impedir que a opinião pública ouça. Mas o horror do jornalismo-que-há, que só existe para impor opiniões feitas, é muito parecido.

Para os que pensem que só a Rede Globo faz o que faz e que algum outro tipo de jornalismo-empresa seja algum dia possível ou pensável, aí vai bom exemplo de que a Rede Globo é, só, a pior do mundo, mas faz um mesmo e idêntico “jornalismo”, feito por jornalistas autistas, fascistas sinceros, absolutamente convictos de que “sabem mais”, só porque são donos da palavra e nunca ouvem o “outro lado”, sobretudo se o outro lado quiser falar DELES e das empresas para as quais trabalham.

O problema do mundo não é a Rede Globo (ou, pelo menos, não é mais a Rede Globo que a BBC). O problema do mundo é que o jornalismo (que é aparelho ideológico criado e mantido para uniformizar as opiniões e constituir mercados homogêneos, seja para o consumo uniforme de sabão em pó e remédio antipeido, seja para o consumo uniforme de ideias sobre ética e democracia e justiça) é o único dono da palavra social. Se se inventar mídia que não seja única dona, feudatária, da palavra social, acaba-se o jornalismo-que-há.

Leia a tradução e  assista ao vídeo via Portal Vermelho clicando aqui.

Trecho:

BBC: Posso interrompê-lo, por favor... O senhor está dizendo que não condena o que houve ontem? Que não está chocado com o que houve em nossa comunidade ontem à noite?

Entrevistado: É claro que não condeno! Por que condenaria? A coisa que mais me preocupa é que havia um jovem chamado Mark Dogan, tinha casa, família, irmãos, irmãs. E a poucos metros de sua casa, um policial rebentou sua cabeça com um tiro.