"Temos um sistema em que a grande mídia se esforça para ser ética pela mesma razão que o governo e as grandes empresas o fazem: o advento de nova tecnologia torna impeditivo o controle da informação da maneira como estávamos acostumados a ver.
(...) A internet torna possível que milhões de pessoas (eu, por exemplo) "criem" seu próprio veículo de comunicação, garantindo maior repercussão para sua voz. O resultado é uma explosão de jornalismo de ponta e de crítica de mídia que, se antes não tinha como se manifestar, hoje parece algo mais que natural ler alguém comentando que a revista X pecou por excesso de parcialidade (sim, excesso de parcialidade!) e o jornal Y resolveu se engajar de vez na promoção de seu candidato à presidência da República abandonando por completo qualquer idéia de isenção, de interesse pelo contraditório.
Pode parecer paradoxal, mas podemos também afirmar que a grande mídia tem ajudado a tornar esta uma época de ouro do jornalismo, porque só ela dispõe dos meios para realizar grandes negócios – e de maneira consistente – com os governos federal, estadual e municipal. A escolha do modelo de tevê digital no Brasil tem as digitais da grande imprensa. A proibição do comércio de armas de fogo mediante plebiscito tem também suas digitais: que interesses a grande imprensa deseja atender quando se posiciona contra esta proibição?
(...) A grande imprensa tem também o olhar no termômetro da opinião pública. Divulga o que o público deseja ou tem interesse em saber. Não à toa alguns dos grandes jornais dispõem até de seu próprio instituto de pesquisa, como é o caso no Brasil do Datafolha, que é uma costela do grupo Folha. Se por um lado todo governo deseja agradar a opinião pública – afinal é daí que deriva sua legitimidade (e sua carreira política) – , a grande imprensa também está sempre sequiosa para atender seus leitores, sua audiência.
Sem leitores e sem audiência não existe imprensa e, menos ainda, grande imprensa. O que não impede que existam "conglomerados de mídia", empresas que mesmo distanciadas de seu objetivo principal – divulgar informação, ajudar a formar opinião etc. – servem como escoadouro natural para informes publicitários, o que em outras palavras significa o que o jargão popular chama "dinheiro entrando no caixa". E também não impede seu intento para atuar como grupo de pressão político-partidário sobre o governo, analisando suas políticas públicas, criticando duramente aquelas com que não concorda ou as que não servem para criar condições de alternância no poder."
Washington Araújo
15 abr 2011
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