A praça é nossa!
Redação
Revista do Instituto Telecom
02/04/2012
Projeto Praça do Conhecimento prova que lugar de tecnologia, banda larga e cultura é na periferia!
Inaugurada em dezembro do ano passado, em pouco tempo a Praça do Conhecimento, no Complexo de favelas do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro, já é exemplo de inclusão social e digital para o país. Só no primeiro mês de funcionamento, a área de livre acesso à internet recebeu 1592 visitantes e, num único dia, bateu recorde - cerca de 250 pessoas. E isto antes mesmo do início dos cursos que passaram a ser oferecidos no final de fevereiro.
Criada para fomentar o acesso à educação, tecnologia, cultura e banda larga aos moradores da comunidade de Nova Brasília, uma das maiores do Complexo do Alemão, a Praça faz parte do programa Morar Carioca, da Secretaria de Habitação Municipal do Rio de Janeiro. Para que o projeto fosse viabilizado houve toda uma reestruturação urbana. Duzentas e vinte famílias, cujas casas ficavam na área de seis mil metros quadrados hoje ocupada pela Praça, foram removidas e indenizadas pela Prefeitura.
Gerida pelo Cecip (Centro de Criação de Imagem Popular), a Praça oferece seis cursos nas áreas de multimídia - web design, design gráfico, computação gráfica, produção de áudio digital, vídeo e fotografia – e de Tecnologia da Informação. Os primeiros com duração de quatro meses e meio e o de TI com duração de três meses, desenvolvido em parceria com a Cisco, via Networking Academy. A previsão deste último é formar 300 jovens já no primeiro semestre de 2012.
Os cursos estão abertos para os moradores do Complexo e das comunidades vizinhas e o processo seletivo é feito por sorteio. Para se ter ideia do sucesso da iniciativa, só na primeira chamada 600 pessoas se inscreveram para as 240 vagas oferecidas. Embora o público alvo sejam alunos a partir do último ano do Ensino Fundamental, o perfil acabou sendo estendido para pessoas entre 40 e 60 anos, que pediram para ser integradas ao projeto.
A Praça conta também com um anfiteatro destinado tanto a atividades culturais como exposições e teatro, quanto à realização de eventos, reuniões e outras demandas da própria comunidade.
Um ano após a pacificação do Morro do Alemão, esta parece ser, de fato, a primeira ação mais consistente e efetiva na melhoria de vida da comunidade local.
Aos poucos, a Praça do Conhecimento vai se tornando modelo de cidadania para um país que até hoje não universalizou serviços essenciais para a qualidade de vida da população, como saneamento básico e acesso à internet em banda larga.
NOVAS PRAÇAS
De acordo com o secretário municipal de Habitação, Jorge Bittar, o investimento na Praça foi de R$ 5 milhões e o custo mensal de manutenção é de R$ 400 mil. A intenção da Secretaria é estender o projeto para outras seis comunidades: Colônia Juliano Moreira, Pedreira, Complexo do Turano – todas com previsão de entrega para início de 2013-, Complexo da Penha, da Mangueira e o Bairro Carioca. Este último está sendo erguida num terreno que pertencia à Light, empresa de energia elétrica da cidade do Rio, bem ao lado da estação de trem de Triagem. No novo bairro estão sendo construídas mais de duas mil habitações que vão receber cerca de nove mil moradores. Para estas últimas comunidades ainda não há previsão de data de entrega.
Para o secretário Jorge Bittar a urbanização de uma favela não é só uma questão estrutural, destacando a importância desta parcela da população ser assistida por projetos sociais com alto nível de tecnologia e inovação. "As Praças são, na verdade, centros de cultura digital. Espaços de excelente qualidade abertos à visitação e à participação da comunidade. O projeto de urbanização de uma favela não é só físico. Ele é, antes de mais nada, um projeto que permite a emancipação das pessoas e das famílias", afirma Bittar.
Aposta na economia local
Um dos diferenciais do projeto é pensar também no incentivo à economia local, dando oportunidade para que os alunos sejam absorvidos pelo mercado de trabalho. O coordenador da Praça do Conhecimento, Naylton de Agostinho Maia, ressalta que a iniciativa de preparar os próprios moradores para ocuparem as vagas de trabalho disponíveis é pioneira na comunidade de Nova Brasília. "Uma das maiores queixas, da população é que a maior parte deste tipo de projeto não absorvia a mão-de-obra local", diz ele.
Para Maia, a preocupação em criar uma ponte entre os futuros prestadores de serviço e o comércio da região é uma tendência mundial. "A economia local é uma economia forte hoje e o mundo está se dando conta disso, aumentando as possibilidades de acesso desses profissionais aos estabelecimentos locais. A Praça do Conhecimento parte daí. É comunhão, compartilhar, não diferenciar. E os moradores precisam se apropriar deste local, deste espaço", incentiva o coordenador.
“Só quem vive na comunidade sabe como ela é”
Lucas Severo de Souza, 15 anos, morador do Morro do Adeus e estudante do Ensino Fundamental no Colégio Pedro II, em São Cristóvão, mal começou a oficina de produção de vídeo e já sabe o que vai fazer com o conhecimento adquirido no curso. "Na escola tem um jornal, mas é impresso e está meio caído. Então eu pensei em usar a habilidade de vídeo e dar uma melhorada nele. Tem muita coisa que acontece no colégio e ninguém capta, tipo briga entre professores e alunos, discussões internas." Ele já prevê o flagrante no dia-a-dia dentro e fora da comunidade: "a ideia é criar um telejornal na página do colégio. Porque a gente precisa do vídeo, para dar uns flagras", fala empolgado.
Já para o morador Felipe Mello Fonseca, monitor de TI da Praça do Conhecimento e bacharel em Ciência da Computação, não dá mais para pensar em inclusão social sem inserir as comunidades nos meios digitais e no conhecimento da utilização das novas tecnologias. "A importância que isso tem aqui é a inclusão digital. Eu sei que as pessoas precisam desta ferramenta para chegar a algum lugar. Não tem como você fazer nada hoje sem o uso da tecnologia, sem o uso da informação", constata Felipe.
Reproduzido de Instituto Telecom
Via Clipping FNDC
02 abr 2012
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Leia também:
"RJ lança campanha de Banda Larga", no Blog de Altamiro Borges (26/04/2011) clicando aqui.
"Banda Larga é ficção nas escolas públicas", na página do Movimento Cultura Digital (22/09/2011) clicando aqui e na página do Instituto Telecom (20/09/2011) clicando aqui.
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