Que educação para a mídia quero em meu país?
Cristiane Parente
Em 1982, representantes de 19 nações assinaram o que ficou conhecido como Declaração de Grunwald, durante o Simpósio Internacional sobre Educação para as Mídias da Unesco, realizado na cidade de Grunwald, na Alemanha. Em 2005, veio a Declaração de Alexandria, sobre competência informacional e aprendizagem ao longo da vida e, em 2007, a Agenda Unesco* comprometeu-se novamente com 12 recomendações para a educação para a mídia.
Trinta anos após a Declaração de Grunwald, vale a pena lembrar os passos dados até hoje para a concretização de uma educação para a mídia no mundo e, em especial, no Brasil.
Cabem as seguintes questões: que educação para a mídia queremos em nosso país? Como podemos contribuir para o debate sobre a implementação dessas ações? Que papel estão tendo as faculdades de comunicação e educação nesse processo?
A Unesco acaba de assinar, no último dia 19/3, um plano de trabalho**com o Ministério da Justiça brasileiro para implementar ações na área ao longo dos próximos anos. Em 2011, já havia lançado um modelo de currículo*** voltado à alfabetização para mídia e informação corroborado por grupos de especialistas de vários países. Antes disso, ainda em 2006, lançou um projeto de currículo chamado “Mídia e Educação: kit para professores, alunos, pais e profissionais”. A ideia era formar professores para serem multiplicadores dessa alfabetização para a mídia, encarando a informação como um direito humano, como exposto no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Importante dizer que a educação para a mídia mencionada aqui não significa usar os meios para aprender português, matemática, geografia etc. Tampouco é uma leitura crítica simplesmente, que aponta para os meios como grandes vilões. É uma educação que quer ensinar e aprender sobre os meios de comunicação entendendo seu papel na sociedade, sua relevância em termos de mobilização social e democratização da informação. Por outro lado, é também uma educação que vai desnaturalizar os mesmos meios, ao mostrar sua maneira de representar a realidade, ajudando cidadãos a serem mais críticos em relação às mensagens a que estão expostos.
Os meios já estão tatuados nos alunos, como afirma Silvia Bacher no livro Tatuados por los medios. Fazem parte da vida e da maneira como cada um percebe o mundo à sua volta. É por isso mesmo que já nem precisam pedir permissão para entrar na sala de aula. Mais uma razão para a escola trabalhar de forma contínua, crítica e criativa com eles, e proporcionar aos alunos também a autoria (de jornais, blogs, fanzines, cordéis, rádios, vídeos, etc). E, assim, possibilitar a criação do que a Educomunicação defende como ecossistemas comunicativos em espaços educativos; mostrar que cada aluno, independentemente de sua raça, credo, orientação sexual, idade ou sexo, é um produtor cultural e tem algo a dizer.
Dessa forma, horizontalizam-se as relações no espaço educativo. Estimula-se um ensino–aprendizagem mais dialógico, com mais possibilidades de se formarem sujeitos, cidadãos, leitores-autores autônomos num espaço em que todos têm o que dizer. Todos são importantes. Todos ensinam e aprendem uns com os outros e podem, a partir da comunicação, pensar em desenvolvimento e transformação.
Artigo publicado no Blog Educação & Mídia - Jornal Gazeta do Povo eInstituto GRPCOM no dia 23/03/2012
Reproduzido do Blog Mídia e Educação . Cristiane Parente
** Liberdade de expressão, Educação para mídia, Comunicação e os Direitos da Criança e do Adolescente (Aguardando o documento para indicação, via UNESCO e Ministério da Justiça)
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