Há dez anos, o jornalista Nelson Hoineff criou o Instituto de Estudos de Televisão (IETV) com o objetivo de pensar o trabalho de realização e produção da tevê. Em pouco tempo, instituiu o Festival Internacional de Televisão, que chega este ano à 7ª edição. O evento, que será realizado entre os dias 16 e 22 de novembro, no Oi Futuro, Rio de Janeiro, é composto por uma mostra competitiva de programas pilotos inéditos para tevê, por uma mostra do que há de mais interessante sendo produzido no mundo e por um encontro, que funciona como um fórum de debates de caráter acadêmico, abordando questões contemporâneas da área.
Em entrevista à revistapontocom, Nelson analisa o papel da televisão no Brasil e no mundo, aponta os desafios da produção e os caminhos do broadcast. “Durante quase 70 anos, a palavra televisão queria dizer a mesma coisa: transmissão de imagens e sons, de um ponto único, para aparelhos receptores fixos que eram consumidos coletivamente. A partir da introdução das plataformas digitais houve uma grande transformação. O lugar da televisão deixou de ser a sala para ser qualquer lugar”.
Acompanhe:
revistapontocom – Como podemos definir, no século XXI, a palavra televisão?
Nelson Hoineff – Durante quase 70 anos, a palavra televisão queria dizer a mesma coisa: transmissão de imagens e sons, de um ponto único, para aparelhos receptores fixos que eram consumidos coletivamente. A partir da introdução das plataformas digitais houve uma grande transformação. O lugar da televisão deixou de ser a sala para ser qualquer lugar. Ao grande receptor fixo foram agregados receptores portáteis, e o consumo da programação passou a ser também individualizado. O modelo de transmissão de sinais também se ampliou e, com a televisão conectada, se amplia muito mais. O desenho de grades vem migrando das emissoras para os usuários e todos os modelos que conhecemos de empacotamento do conteúdo já não são hegemônicos. A ideia de emissoras e redes é bastante ampliada. Televisão, desse modo, é hoje um conjunto de formas de transmissão e recepção de conteúdo audiovisual bastante diferentes entre si.
revistapontocom – A TV, aqui no Brasil, ainda vai continuar por bom tempo ainda sendo o principal meio de informação/entretenimento da maior parte da população?
Nelson Hoineff – Se você me pergunta se as redes abertas vão continuar existindo, a resposta é sim. A questão é que a TV transcende hoje esse modelo. A internet, por exemplo, já se transformou no principal meio de informação da sociedade. Mas a nova televisão abriga muita coisa, entre elas a própria internet. A informação e o entretenimento vão passar sempre pela televisão, porque a televisão se molda ao desenvolvimento tecnológico que multiplica as formas de difusão de um e do outro, não importa se o receptor de televisão esteja ocupando uma parede inteira de uma sala ou esteja na palma da mão; se o conteúdo está sendo gerado de um estúdio próximo ou esteja vindo das nuvens.
revistapontocom – Quais são os atuais desafios de produzir TV no mundo de hoje? O Brasil enfrenta os mesmos desafios dos outros países?
Nelson Hoineff – Há uma competitividade feroz, mas ao mesmo tempo um grande aumento da demanda. A diversificação dos meios de se produzir e consumir TV é a grande responsável por isso. A TV é cada vez menos massificada, mais voltada para nichos, mais parecida com a sociedade. O Brasil está se saindo bem. É um bom gerador de ideas e de soluções. Em pouco tempo, creio que será um importante exportador de conteúdo e modelos de conteúdo para muitas das formas de consumo televisivo que se conhece.
(...) revistapontocom – O caminho da TV é se reiventar na interface com a web?
Nelson Hoineff – A televisão já está fazendo isso, até porque não é mais possível pensar num mundo não conectado. Se você disser a uma criança que um dia o mundo não esteve conectado, ela vai ter dificuldade de entender. A TV já se conectou. E a web passa a ser mais uma de suas ferramentas. Vai ter agora que encontrar as melhores interfaces. É um longo caminho a ser percorrido, mas isso será feito rapidamente.
(...) revistapontocom – Qual a contribuição do Festival Internacional de Televisão (FITV) na recolocação e reestudo do mercado?
Nelson Hoineff – O Festival Internacional de Televisão tem sido um foro permanente para a discussão do papel da televisão, em altíssimo nível. Os Encontros, por exemplo, reúnem todos os anos alguns dos maiores pensadores de televisão do mundo e a repercussão disso já é sentida até mesmo fora do país. Temos ousado bastante na questão da experimentação e da análise da linguagem, com resultados muito favoráveis. No tocante à produção local, a Mostra de Pilotos se transformou também na principal mecanismo para que os produtores possam mostrar aos programadores o que estão pensando e para que os programadores tomem conhecimento das soluções que estejam surgindo para as suas necessidades. O FITV tem feito tudo isso de uma maneira horizontal, transparente, agradável para todos. Tem seguido os princípios do IETV de apostar na importância do estudo do veículo para aprimorar a sua qualidade. Acho que temos tido bastante sucesso nisso.
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