quarta-feira, 29 de junho de 2011

Jornalismo impresso versus Web


Especialistas em coisa nenhuma

Por Washington Araújo
Observatório da imprensa
27/06/2011 na edição 648

Ler jornal diariamente começa a ser algo, vamos dizer, maçante. Os olhos vasculham as páginas, pousam sobre as manchetes, mudam de direção uma e outra vez na vã tentativa de ler as entrelinhas. E assim, após vinte minutos de manuseio do calhamaço diário, fica-se com aquela sensação de que tudo que deveria ser lido já o foi. Mudei eu, como diria o poeta, ou mudou o jornal?

Mudamos os dois. Eu porque, a qualquer hora do dia, quando em movimento, recebo minha ração instantânea de notícias através do celular e quando estacionado através do iPad e depois do monitor de meu computador de mesa. O jornal porque, na eternidade de 24 horas, há muito deixou de concorrer com seu irmã caçula, a web. É que a caçula vara dias e noites abastecendo, com breves pílulas informativas, grande número de portais noticiosos.

É uma luta desigual. Esses tempos glorificam o rápido, o passageiro, o impermanente. E o jornal impresso é exatamente o contrário de tudo isso: é lerdo, demorado e ambiciona permanecer vivo ao longo de suas bem determinadas 24 horas. Notícia bem transmitida não pode mais ser apenas abarcada pelos olhos por intermédio de letras e de imagens estáticas. Não. Precisa nos encher os ouvidos com sua sinfonia de realidade e derramar ante nossos olhos as imagens do acontecimento, preferencialmente no momento mesmo em que acontece. As pessoas ouvidas em uma matéria publicada ganham vida na web ao se fazerem ouvir com sua própria voz, seja carregada de emoção ou vibrando na mais racional argumentação.

Credibilidade e verificação

Quando meus olhos deparam no meio virtual com algum endereço da web logo se dão conta que este se apresenta com sua roupa azulada, quebrando a monotonia do preto no branco. E logo meus dedos são acionados – se o assunto for realmente interessante, curioso – a premir aquele endereço. Enquanto isso, na página impressa, por mais que o editor tenha se esforçado em adicionar o mesmíssimo endereço virtual, ainda assim nenhum comando chega às pontas dos dedos. É um sinal inequívoco de que o leitor tradicional, o pré-internet, deve saciar sua fome com aquele prato feito e nada de ousar se estender mais no assunto.

Antigamente considerávamos pedantes as pessoas que faziam questão de mostrar sua cultura, pessoas sempre a postos para discorrer por longos minutos, quando não horas, sobre o pano de fundo em que surgiu dada notícia. Aos menos ilustrados eram feitas observações pejorativas como “aquele leitor de orelha de livro” ou “aquele que leu apenas uma ou duas notas de rodapé”. Atualmente, só é “menos ilustrado” quem quer – dada a profusão de fontes de pesquisas claramente assinaladas ao longo do minúsculo texto.

Os textos na internet primam pela concisão e pela confusão. São curtos e cheios de novos caminhos azuis (hiperlinks) a serem trilhados. Há quem defenda a ridícula ideia de que as pessoas se recusam a mastigar o que vão ingerir, seja alimento ou informação, preferem recebê-los mastigados e em porções minúsculas. E a pergunta é: que tipo de leitor está sendo gerado? Arrisco-me a aventar algumas respostas. Leitor de manchetes estampadas em sítios e de blogs. Leitor que pouco se importa com a fonte da informação, nada sabe sobre sua credibilidade, e menos ainda acerca de sua autenticidade.

Tempo de leitura

A impressão que tenho é que os novos leitores serão, sem esforço algum, especialistas em coisa alguma. Deixarão sempre para o futuro esta necessidade tão humana de se aprofundar sobre um assunto que lhe cause interesse. E como aquele amante de livros que se contenta em comprar livros e não em separar um tempo do dia para sua leitura, os novos leitores se contentarão apenas em criar fichários onde vão acumulando textos digitalizados ao lado de endereços na web que, com certeza, jamais serão acessados.

Dessa forma, com menos tempo dedicado à leitura, além de não se apropriarem do idioma, se privarão de uma visão completa da realidade que nos abarca e permeia. Teremos diante de nós não mais o leitor de orelha de livro e, sim, o guardador de textos e de endereços virtuais.

Washington Araújo é mestre em Comunicação pela UnB e escritor; criou o blog Cidadão do Mundo; seu twitter

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Classificação dos noticiários. Pode?


Mudança nas faixas de classificação indicativa, remoção da linguagem de libras e classificação de jornalísticos. Essas são algumas das propostas feitas durante o debate público sobre classificação indicativa, promovido pelo Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação (Dejus), do Ministério da Justiça, por cinco meses, via internet, que terminou em abril passado.

O debate, que envolveu TV aberta, TV paga, ONGs e público em geral contou com 56 mil acessos na web. Entre outras solicitações, o SBT pediu a liberação da exibição de conteúdo impróprio para menores de 12 anos a partir das 14 horas (hoje só pode a partir das 20h), e a liberação dos impróprios para menores de 14 anos após as 19h (que vão ao ar após 21h). A operadora Sky defendeu a remoção da linguagem de libras na apresentação da classificação indicativa.

O Instituto Alana sugeriu classificar propagandas e maior fiscalização da programação de TV paga, pedido feito por outras ONGs. Entre as sugestões do público há um entendimento da necessidade de classificação indicativa em jornalísticos.

De acordo com o Ministério da Justiça, o Ministério Público está analisando o conteúdo desse debate para que seja criada uma única e atualizada Portaria de Classificação Indicativa no país. Hoje há cinco portarias no órgão.

Leia aqui a entrevista concedida por Davi Pires, diretor do Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação (Dejus), do Ministério da Justiça, por ocasião do lançamento da pesquisa. (Janeiro 2011)

Revistapontocom pergunta: você acha que os programas jornalísticos também devem ser submetidos à classificação indicativa? Comente aqui.


Reproduzido do Revistapontocom

O jornalismo diante das novas mídias


"Durante séculos, a imprensa orgulhou-se de ser insubstituível. Era o motor, o maestro e o filtro da sociedade. Elegia e derrubava presidentes, ditava moda e construía mitos. A partir de meados da década de 1990, com a popularização da internet, a irrevogável evolução tecnológica universalizou o conhecimento. Nasceram os sites de busca, os blogs e as mídias sociais.

Profetas vaticinaram: livros e jornais impressos estão destinados a desaparecer porque o futuro é digital. Cidadãos comuns converteram-se em emissores de notícia, com textos curtos e fragmentados. Twitter, Facebook e Orkut se apresentaram como novas fontes de informação quebrando as barreiras entre a notícia e a sociedade. E até os jornalistas passaram a usar essas ferramentas como matéria-prima para reportagens e artigos.

Na semana passada, uma nova farsa do mundo virtual veio à tona: uma jovem lésbica síria que mantinha um blog com fortes críticas ao governo do presidente Bashar Al-Assad era, na verdade, um estudante de pós-graduação americano que vive na Escócia. Pouco antes de revelar a mentira, o estudante chegou a inventar que a autora do blog “Garota gay em Damasco” havia sido sequestrada a mando do governo. No início de junho, uma outra face do uso das mídias sociais entrou em pauta. O jornalista Bill Keller, que ocupou durante oito anos o cargo de editor executivo do jornal The New York Times, publicou um artigo criticando o uso indiscriminado da tecnologia nas relações pessoais. O Observatório da Imprensa exibido ao vivo na terça-feira (21/6) pela TV Brasil discutiu o impacto das novas mídias na sociedade e no trabalho da imprensa.

Para discutir o tema, Alberto Dines recebeu no estúdio do Rio de Janeiro o jornalista e escritor Muniz Sodré. Mestre em Sociologia da Informação e Comunicação e doutor em Letras, Sodré é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e foi presidente da Fundação Biblioteca Nacional. É autor de mais de 30 livros na área de Comunicação. Em São Paulo, o programa contou com a presença do jornalista Caio Tulio Costa, que foi o primeiro ombudsman da imprensa brasileira. Caio Túlio trabalhou na Folha de S.Paulo durante 21 anos. Foi um dos fundadores do UOL, do qual foi diretor geral até 2002. Ex-presidente do iG, atualmente é consultor de mídias digitais e professor de Ética Jornalística.

Informação superficial

Em editorial, Dines criticou a preferência da sociedade pela velocidade em detrimento da profundidade. “A contribuição mais forte para o fim dos jornais começou a ser oferecida pelos próprios jornais, quando anunciaram formalmente o seu próximo fim. O episódio mais recente deste suicídio coletivo aconteceu há poucos dias quando o Guardian, um dos jornais mais importantes e bem sucedidos da Inglaterra, anunciou que passaria a investir maciçamente na sua versão digital, que absorveria o noticiário quente. A versão impressa ficaria com as análises, opiniões e a contextualização do que seria veiculado pela internet”, comentou Dines.

Antes do debate no estúdio, a reportagem produzida pelo programa mostrou a opinião da jornalista Míriam Leitão, que atua tanto na imprensa convencional como nas novas plataformas. Para Míriam, o jornalista precisa ter consciência de que a informação veiculada por profissionais de imprensa nas redes sociais tem um peso maior do que as demais notícias que circulam no mundo virtual: “A estrada existe para todo o mundo, mas nós somos os profissionais do volante nesta estrada”.

Amante dos livros em formato tradicional e da palavra impressa, a jornalista explicou que vê com bons olhos a criação de novas plataformas, mas que torce para que as bibliotecas continuem a ter espaço nas casas. “Digamos que acabe este livro, esta idéia que foi inventada por Gutenberg, e que os livros sejam só eletrônicos daqui em diante. O livro é sempre a alma, a ideia, e isso vai continuar para sempre”, avaliou.

O que é real?

A coordenadora de Jornalismo da UFRJ Cristiane Costa contou que, durante a Guerra do Golfo (1990-1991), o perfil de um conceituado blogueiro chamou a atenção da opinião pública. Sob o pseudônimo de Salam Pax,o internauta abastecia seu diário virtual com informações de dentro de Bagdá, conflagrada pelos bombardeiros, enquanto os jornalistas das mídias tradicionais se limitavam a acompanhar as tropas aliadas. Apesar de as informações do blog “Where is Raed?” serem verdadeiras, a opinião pública desconfiou da existência do blogueiro porque parecia irreal que um arquiteto, gay e junkie morasse em Bagdá.

Na era das novas tecnologias, o diferencial, na avaliação do jornalista Arnaldo Cesar, é a qualidade da informação, independente plataforma em que é publicada. “Para você ter conteúdo de qualidade, tem que ter boas fontes de informação e a informação tem que ser checada e rechecada antes de ser impressa ou publicada. Eu acho que o New York Times e os jornais no mundo todo ficaram meio perdidos em relação a isso e hoje já começam a encontrar um caminho”, disse o jornalista. Leão Serva, que foi diretor de Jornalismo do iG e hoje é diretor de Redação do Diário de S.Paulo, comparou as informações que circulam nas redes sociais às cartas anônimas. Nas duas situações é necessário checar a fonte, apurar e ouvir o outro lado da questão. “Eu acho que esses mesmos cuidados são necessários, embora em uma versão digital”, disse Serva.

Convivência pacífica

As novas tecnologias não se sobrepõem aos meios tradicionais, na avaliação de Luiz Garcia, articulista do jornal O Globo: “A imprensa sempre sobreviveu aos novos meios de comunicação. A quantidade de informações que são passadas à opinião pública é sempre muito grande, mas cada um tem a capacidade de escolher e selecionar o que acha melhor. Não creio que algum tipo de mídia diferente, novo, que pode fazer muito sucesso inclusive pelo fato de ser novo, pode afetar as características próprias das mídias mais antigas”.

De Nova York, o correspondente Lucas Mendes comentou a atuação de Bill Keller no NYTimes. “Foi sob o comando dele que o jornal decidiu cobrar pelo acesso online para compensar a brutal queda no faturamento da publicidade. ‘Sem uma nova receita, o fim do Times é inevitável’ – quem diz é o próprio editor-executivo”, contou o jornalista.

No debate ao vivo, Dines perguntou a Caio Túlio Costa se, quando assumiu a direção do UOL, imaginava o rápido desenvolvimento tecnológico que se seguiria, a ponto de ser decretado o fim do jornalismo impresso. “Quando a gente criou o UOL, não tínhamos a noção exata do que estávamos fazendo”, contou Caio Túlio. A ideia, segundo ele, era tentar reproduzir no Brasil o sucesso das grandes provedoras daquele momento, como AOL e a Compuserve. Intuitivamente, a equipe já tinha em mente que para a iniciativa ser bem sucedida era preciso um grande número de pessoas conectadas ao site para garantir o faturamento. Os assinantes e a publicidade deveriam sustentar o provedor.

Verdades e mentiras

Caio Túlio relembrou casos amplamente divulgados em que a mentira estava presente na mídia tradicional, como o do ex-repórter do NYTimes Jayson Blair, que admitiu publicamente, em 2003, que plagiava textos e inventava informações em suas matérias. “Isso faz parte do jogo e evidentemente, o jogo está muito maior agora, com muito mais alcance, com quase uma impossibilidade de controle. E nós, que somos formados nessa mídia tradicional, somos loucos para controlar. Acho que a questão que se coloca é essa: esse controle ficou muito mais difícil e muito mais complexo”, avaliou o jornalista.

O fator humano acaba fazendo com que situações como essas ocorram em qualquer plataforma. “Nós, enquanto jornalistas, trabalhando tecnicamente a informação e agora tendo a concorrência de pessoas, cidadãos – bem intencionados e mal intencionados – de instituições e de empresas, continuamos enfrentando os mesmos problemas de sempre”, sublinhou Caio Túlio.

Para Muniz Sodré, a tecnologia é fascinante porque conserva enigmas e incertezas. “Eu acho que frequentemente perdemos de vista determinadas coisas porque tendemos a avaliar os objetos culturais isoladamente. Foi como o rádio e a televisão. Na verdade, todos esses objetos e dispositivos formam, para mim, um paradigma em que se tenta duplicar o universo anterior”, analisou o professor. Esta duplicação se dá na direção da velocidade, necessária ao sistema capitalista. “O valor ‘ético’ passa a ser o rápido, o veloz. Não é o profundo, o humano o autêntico. Essa duplicação e essa aceleração matam o sentido”, afirmou Muniz Sodré.

A busca pela novidade

O professor acredita as novas tecnologias da informação põem em pauta a crise do sentido e da palavra. E a imprensa é um “pálido reflexo” dessa crise mais profunda. Jornalistas e consumidores estão fascinados pelas novas tecnologias, na avaliação de Muniz Sodré. Muitas vezes, buscam os mais recentes lançamentos sem saber ao certo para o que servem aquelas ferramentas. “Há uma coisa mais grave. É um pouco como a indecisão de um cientista subatômico diante de um objeto subatômico: não sabe se é onda ou se é partícula. Em um nível macro da história, nós, diante de um fato, não sabemos quais são os padrões de verdade, de realidade, de imaginário. E isso parece não importar mais”, observou Sodré.

Para o professor, a sociedade está “surfando na onda das aparências” e não tem os meios de controlar o que é verdade. O jornalismo sempre ofereceu a possibilidade de estabelecer a distinção entre real e irreal porque havia um pacto de credibilidade implícito. Sem uma pausa na transmissão das informações, os dados apenas se multiplicam, sem uma reflexão aprofundada. “Se esse pacto se rompe, essa informação tão abundante, tão prolífica, é tão fascinante quanto o aparelho novo, mas não vale nada”, disse Sodré."

Lilia Diniz
Edição 647 em 23 jun 2011

domingo, 19 de junho de 2011

Comparato: relatório sobre radiofusão no Brasil quase fez Globo romper com a Unesco


“Comparato: relatório sobre radiofusão no Brasil quase fez Globo romper com a Unesco

O II Encontro Nacional de Blogueiros de Brasília teve declarações importantes do jurista Fábio Konder Comparato, um dos convidados do evento. Segundo Comparato, a Rede Globo ameaçou romper o contrato que mantém com a Unesco para promover o Criança Esperança, projeto social anualmente realizado em forma de show na emissora brasileira. O motivo: o estudo da Unesco publicado em fevereiro que analisa o ambiente regulatório para a radiofusão no Brasil. O comentário do jurista foi publicado pelo blog Vi o Mundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha.

De acordo com o relatório, citado por Comparato em sua palestra, a mídia brasileira é dominada por 35 grupos que controlam 516 empresas. Uma única rede, a Globo, detém 51,9% da audiência no País.  A média de tevês ligadas entre as 7 da manha e a meia-noite é um dos mais altos do mundo: atinge 45% da população brasileira.

O estudo pode ser acessado aqui*, em PDF. Foi escrito por Toby Mendel e Eve Salomon, que, segundo Fabio Konder Comparato, receberam emissários da TV Globo ameaçando romper o vínculo da emissora com a Unesco para a organização do Criança Esperança.”

Reproduzido da página Carta Capital

* O Ambiente regulatório para a radiodifusão. Leia mais clicando aqui.

Guerreiros da comunicação


“Guerreiros da comunicação

No Xamanismo, um dos valores fundamentais do guerreiro é a maneira com que ele trata seu passado, ele não tem passado. Simplesmente o guerreiro não olha para trás, justifica suas antigas escolhas como resultado de sua própria expressão e olha para frente com a certeza de que tudo aconteceu para que ele chegasse ao exato momento presente.

Vivendo sem o peso do passado ele alcança o desapego. Não apenas de coisas e pessoas, mas de sentimentos. Uma vida livre de culpa, sem arrependimentos ou expectativas, tentando alcançar o equilíbrio do tempo concentrado nas questões que ainda podem ser resolvidas.

E não é apenas teoria. O guerreiro, ignorando o passado, utiliza sua energia desenvolvendo seus talentos no presente, pensando, planejando e testando suas ações, trabalhando suas atitudes como forma de moldar seus próprios interesses.

O guerreiro vive com a certeza de que é o único responsável por tudo o que lhe acontece, tudo. Ele sabe que a única coisa que realmente importa é ser impecável em suas ações no dia-a-dia, esperando que obtenha retorno condizente ao seu merecimento. O guerreiro está sempre mudando, ele se transforma a toda hora.

Trago comigo esses pensamentos desde a leitura de um dos clássicos do Castanheda, e embora esbarre nas minhas limitações de repetição de erros e acabe valorizando problemas mais do que deveriam, busco sempre agir como um guerreiro. E como é difícil.
A comunicação nos traz desafios que vão além de outras áreas profissionais. O fato de todo comunicador ter a difícil mania de pensar a comunicação, suas causas, sua abrangência, a magia que é capaz de transformar pessoas e até a sociedade, torna ele um guerreiro.

Somente um guerreiro é capaz de ignorar as injustiças que aborda e continuar trabalhando reto no seu caminho, com o mesmo entusiasmo, amor às suas causas, pensando naquilo que por vezes só será valorizado longe da mídia.

Nos primeiros semestres da faculdade, na Famecos, um professor de jornalismo falou para todos os entusiastas da sala que ali ninguém ficaria rico trabalhando, que poderíamos perder a ilusão de que a comunicação seria fonte de rendas extraordinárias. Disse que a maioria trabalharia mais de 10 horas por dia e que teríamos a maior recompensa no amor à profissão, nos encantos que a comunicação proporciona em nossas vidas.

Hoje, quase 15 anos depois, vejo que ele tinha razão, não só com relação às recompensas financeiras, mas porque trabalhar com comunicação é de certa forma agir como um guerreiro, se transformando com o aprendizado diário das coisas que lê, assiste e interpreta. São como guerreiros que jornalistas viram noites nas redações, que publicitários são obrigados a montar sua empresa para prestar serviços dentro de agências, que relações públicas são obrigados a explicar o inexplicável perante uma crise de imagem. Tudo sem tirar o pé do acelerador, mantendo sempre a perspectiva de tempos melhores.

Os desafios da comunicação são mesmo encantadores, e hoje mais abrangentes. Pensar a comunicação não é mais privilégio de quem vive da comunicação, qualquer pessoa ao postar no seu facebook acaba sentindo a magia da interpretação, da aceitação, da indiferença ou da força que possui ao expressar suas palavras e defender suas causas.

Estudar e trabalhar a comunicação é viver longe da inércia, é buscar a reflexão e transformação de tudo e de todos.”

Luciano Suminski
13 jun 2011

Reproduzido do VMTV

sábado, 18 de junho de 2011

Revistapontocom debate o que é midiaeducação


O que é midiaeducação? Um conceito? Uma ideia? A sua grafia escrita junta ou separada traduz algum significado? Existiria outro termo que definiria melhor a interface entre a educação e a mídia? Trata-se de um novo campo de estudo?

A revistapontocom publica há mais de um mês uma série de entrevistas sobre o conceito de midiaeducação. A ideia é ouvir professores, educadores e pesquisadores brasileiros sobre o tema. A cada semana, trazemos um novo ângulo, uma nova visão.

Confira aqui as entrevistas já publicadas:

Nilda Alves - Professora da faculdade de Educação da Uerj
Ana Helena Altenfelder – Superintendente do Cenpec
Rosália Duarte - Professora da PUC-Rio
Márcia Stein – Professora e jornalista

Reproduzido do Revistapontocom

ComKids: Evento promove e discute mídia de qualidade para crianças e adolescentes



Evento promove e discute mídia de qualidade para crianças e adolescentes

Divulgar, premiar, refletir e promover. Estas são as principais ações do ComKids, evento que acontece de 11 a 19 de junho, em São Paulo.  Composto por uma mostra de filmes, pela 5ª edição do Festival Prix Jeunesse Ibero Americano, por oficinas e jornadas de negócios, o encontro tem um só objetivo: dar espaço para a produção de mídia de qualidade para crianças e adolescentes.

“Cada um dos eixos foi elaborado para públicos específicos e interessados na mídia de qualidade para crianças e adolescentes: de pais, professores e crianças até produtores, desenvolvedores de games, roteiristas, diretores e executivos de canais de televisão e web”, explica a organização do ComKids, coordenada por Beth Carmona.
Confira a programação:

Mostra
Dias 11,12, 18 e 19 de junho de 2011
Espaço Unibanco de Cinema

Exibição de filmes voltados para crianças e adolescentes.
Oficinas
Dias 14, 15 e 17 de junho de 2011
Senac – Consolação

Ao todo, serão 6 oficinas. Confira os temas: Humor: afinal do quê as crianças estão dando risada?; Produzindo localmente, conectando globalmente; Edutainment: desenvolvimento e formatos de projetos infantis; Websites infantis: planejamento, produção e gestão; Stop motion: criação de tipos e personagens; Games, personagens e histórias: formas de adaptação de narrativas e personagens audiovisuais para mídias interativas.
Saiba mais e inscreva-se aqui.

De 14 a 16 de junho 2011
Sesc – Consolação

O Festival Prix Jeunesse Iberoamericano traz à cena as produções audiovisuais, digitais e interativas de qualidade produzidas na América Latina e Ibero América que contenham elementos que estimulem o público infanto-juvenil a sentir-se cultural e pessoalmente mais identificado com o que vê e ouve, além de aumentar a compreensão e o apreço infanto-juvenil pelos temas culturais. Os participantes do encontro é que comporão o júri do festival. Confira os finalistas de cada categoria:

Jornada de negócios
Dia 15 de junho de 2011
Centro de Convenções Frei Caneca

Em quatro mesas redondas, pretende-se facilitar a circulação de conteúdos latino-americanos, promover debates e apresentação de cases internacionais, estimular a discussão da responsabilidade social e do desenvolvimento cultural entre executivos de canais e produtores, bem como proporcionar uma via de desenvolvimento da economia criativa do setor, criando oportunidades de diálogo entre canais e produtores para viabilização de produções, co-produções, compra e venda de produtos.

Veja a programação:

Mesa 1 – Programação Infantojuvenil: visões de futuro – Barry Koch (Cartoon Network, EUA), José Juan Ruiz (RTVE, Espanha), Cielo Salviolo (PakaPaka, Argentina), Teresa Paixão (RTP, Portugal) e Doris Vogelmann (VME, EUA)

Mesa 2 – Digital, um universo de possibilidades – Tatiana Schibuola (Capricho, Brasil), Anne-Sophie (Zincroe), Laura Tapias (Canal Panda, Espanha), Anna Valenzuela (Migux)

Mesa 3 – Iniciativas para o desenvolvimento do setor infantojuvenil na América Latina – Ana Paula Santana (SAv/MinC, Brasil), Tereza Loayza (Ministério da Cultura, Colômbia), Berenice Mendes (TV Brasil, Brasil), María de la Luz Savagnac (CNTV, Chile)

Mesa 4 – A jornada do conteúdo infanto-juvenil – Arnaldo Galvão (UM Filmes, Brasil), Cecilia Mendonça (Disney Channels Latin America), Adriano Schmid (Discovery Kids, EUA), Flavio Ferrari (IBOPE Media, Brasil), Sirlene Reis (Vox Mundi, Brasil).



Via Marcus Tavares . Revistapontocom

Leia também o texto da Profa. Monica Fantin no Blog "Educação Mídia e Cultura", sobre o Prix Jeuneusse, clicando aqui.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Liberdade de imprensa e regulação da mídia


“Liberdade de imprensa e regulação da mídia

O que é que entendemos por liberdade de imprensa? De onde ela vem? Por que ela existe? Por que a democracia depende dela? Nas faculdades, os alunos aprendem, é claro, que o direito à informação é uma garantia fundamental, mas não discutem as razões disso. Deveríamos investir mais tempo na compreensão dessas ideias. Se entendermos as raízes históricas e políticas da liberdade na democracia, principalmente da liberdade de expressão, entenderemos que qualquer lei que exista ou venha a existir em torno da atividade jornalística não pode tocar, jamais, no conteúdo das notícias e das ideias que se discutem no espaço público.

A instituição da imprensa, que é uma instituição não-estatal, apenas admite regulação legal quando o que se pretende disciplinar são as regras de mercado dos meios de comunicação. Nada além disso. Como princípio, o chamado arcabouço jurídico das sociedades democráticas só deve tocar no assunto imprensa quando o objetivo for assegurar e fortalecer ainda mais a sua liberdade.

É para tratar disso que estou aqui. Quero usar uma linguagem simples, direta. Ou a cultura democrática pode ser facilmente explicada e compreendida, ou não é assim tão democrática. Sejamos simples, então. De onde vem a imprensa? De onde vem o jornalismo?

Meu mestre Alberto Dines gosta de lembrar as raízes antigas da palavra “jornalista”. São raízes de pelo menos dois mil anos. Na introdução de seu livro clássico, O papel do jornal, reeditado recentemente, ele comenta:

“O primeiro registro a respeito de uma profissão semelhante ao jornalismo foi consignado há cerca de dois mil anos no Senado romano e designava como diurnalii (diaristas, jornaleiros) os redatores das Actae Diurnae – o primeiro veículo noticioso regular de que se tem notícia”. [Introdução de O papel do jornal, de Alberto Dines, 191 pp., 9ª edição revista, atualizada e ampliada, Summus Editorial, São Paulo, 2009. Nesse ponto, Dines cita Jorge Pedro Souza, autor de “Uma Breve Historia do Jornalismo no Ocidente”, que se encontra em Jornalismo: Historia, Teoria e Metodologia (pp 34-44, Edições Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2008).]

No nosso idioma, o nome da nossa profissão vem provavelmente daí mesmo. O mesmo notamos em francês, italiano, que têm origens latinas, e também em outras línguas. No inglês e no alemão, a palavra é a mesma: journalist. Até no russo se diz jurnalist (?????????). O periodista, do castelhano, parece um termo bem distinto, mas ele contém a mesma ideia: designa o profissional que se encarrega da atualização periódica das notícias. Tanto assim que, também em português, falamos de “periódicos” ao nos referirmos a um veículo mensal, diário, semanal, quinzenal etc. Dizemos que as publicações jornalísticas são aquelas que têm uma periodicidade definida. Jornalistas, enfim, cuidam de nos contar as novidades cotidianas, com periodicidade, atualizando as notícias em ciclos regulares de tempo.

Fonte do poder

Mas, além da etimologia apressada, o que é que define o jornalismo? O que é a imprensa?”

Eugênio Bucci* . Observatório da Imprensa
16/06/2011

*Texto da conferência de encerramento VIII Congresso Internacional de Direito da Universidade São Judas, sob o tema “Direito e Políticas Públicas.

Leia o texto completo no FNDC clicando aqui.

Inovação, não saudosismo: o desafio dos estudos sobre comunicação e mídia


"Inovação, não saudosismo: o desafio dos estudos sobre comunicação e mídia

A epistemologia da comunicação está em crise. A saída defendida por Erick Felinto, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, é passar pelas mídias digitais. Segundo ele, o digital gera uma problematização dos modelos comunicacionais atuais, colocando em questão o cerne da própria comunicação.

Por isso, assim como em outros campos do saber, a comunicação também precisa lidar com a sua crise "através de formas inovadoras e não saudosistas", comentou.

No 20º Encontro Anual da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação - Compós, realizado em Porto Alegre, Felinto afirmou que uma das preocupações centrais da comunicação hoje é, muitas vezes, disciplinar, demarcar sua fronteiras. Isso, segundo ele, manifesta claramente a infância-adolescência da comunicação hoje. "A comunicação é muito mais um campo do que uma disciplina", afirmou, já que é composta por problemas que são atravessados por diversas áreas, trans ou interdisciplinares.

O digital, para Felinto, coloca em xeque noções como a própria comunicação, a mensagem e o sentido. Historicamente, afirmou, os estudos sobre comunicação foram muito marcados pelo paradigma emissor-mensagem-receptor, característico da mass media research, assim como pelos estudos de recepção, que propunham uma investigação de ordem hermenêutica, ou seja, de interpretação de sentidos.

"Assim, o componente propriamente tecnológico e material dos meios foi quase que inteiramente esquecido", disse. "O digital coloca como questão central a materialidade, os impactos da dimensão material da comunicação", afirmou, a partir da obra de Friedrich Kittler. E questionou: "Como pensar em meios no contexto da cultura digital?".

Felinto afirmou que, nos estudos do paradigma emissor-mensagem-receptor, o ruído era considerado problemático. Porém, citando estudos de Jussi Parikka, o ruído tem função produtiva, constitutiva da própria comunicação. "Já se pensou muito no sentido. Cabe agora pensar o ruído, a perturbação", afirmou.

Para Felinto este também seria o momento de investigar não apenas quais significados circulam pelos sistemas midiáticos, mas sim como, em tais sistemas tecnológicos, pode-se dar a emergência de sentidos em geral. "Ou seja, como a partir do não sentido – a dimensão material dos meios – surgem as condições para a manifestação do sentido".

Para isso, é preciso abandonar uma metafísica fundada em pressupostos humanistas, "na qual o sujeito humano ocupa posição absolutamente central, como senhor e mestre da tecnologia e do significado". "A cultura é um fenômeno tecnológico desde suas origens, mas hoje, mais que em qualquer outra época, a tecnologia se torna tema central de debate. Os atores não humanos ocupam uma posição tão decisiva que nossos pudores humanistas não tem mais onde se sustentar", explicou.

Assim, pode-se passar de uma preocupação central na hermenêutica para uma preocupação com a dimensão material da comunicação. Mas, para isso, é preciso abandonar, segundo Felinto, um ranço ou preconceito humanista, segundo o qual pensar o meio é ser determinista tecnológico.

Nesse sentido, outra dimensão importante é promover uma arqueologia da comunicação, ou seja, analisar como o presente surge de um tempo profundo. "São necessários exercícios teóricos imaginativos", afirmou. "A imaginação pode preencher os espaços deixados pelo saber", ou seja, pensar em amplitude, não microscopicamente.

E, para exemplificar, desafiou a se estudar a comunicação como fizeram os "pensamentos proféticos" da comunicação promovidos pelo filósofo canadense Marshall McLuhan e pelo filósofo tcheco e naturalizado brasileiro Vilém Flusser."

Erick Felinto
Instituto Humanitas Unisinos
16/06/2011

Leia o artigo de Erick Felinto na íntegra aqui.

Reproduzido do FNDC

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A mídia como freio social


A mídia como freio social

Na semana passada, durante debate na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, estudantes questionavam por que razão a imprensa tradicional funciona como um freio na sociedade, embora se esforce por parecer moderna e vanguardista.

Os participantes do evento não avançaram na discussão, mas o tema merece alguma reflexão.

De fato, se observarmos os movimentos sociais, iremos constatar que, de modo geral, a imprensa, como instituição, não atua de modo constante como força mobilizadora de mudanças. Quase sempre faz conjunto com as forças mais conservadoras da sociedade.

Há exceções, condizentes com os papéis que assume este ou aquele veículo de comunicação, principalmente no temas comportamentais ou mundanos.

Mas, no que se refere aos assuntos centrais do noticiário, como a política e a economia, pode-se perceber que a primeira resposta de jornais, revistas e meios eletrônicos associados às empresas dominantes de comunicação é sempre a mais conservadora.

Continuidade

Mesmo quando algum evento extremo ou escandaloso evidencia a necessidade de reformas, por exemplo, a imprensa se omite no aprofundamento dos debates e deixa esfriar o ânimo da mudança. Nesse sentido, pode-se alinhar uma série de acontecimentos que nunca merecem continuidade ou destaque no noticiário.

Por exemplo, as propostas legislativas de iniciativa popular, as consultas públicas e outras formas de suprir deficiências do sistema representativo são apenas pontualmente noticiadas mas nunca merecem o tratamento de alternativas válidas para as omissões do Parlamento.

Da mesma forma, os crimes na fronteira agrícola da Amazônia saem nos jornais mas logo desaparecem e nunca se discute o conflito agrário e as possíveis relações entre mandantes de assassinatos.

Instituição a serviço da imobilidade

Mesmo que rotineiramente se dedique a expor as mazelas do sistema, a imprensa se nega a colocar em debate público a possibilidade de mudanças estruturais, ainda que cabíveis no regime democrático e republicano.

Uma das causas pode ser o fato de que a mídia, em sua natureza, seleciona e oferece padrões, dita modas e modos, incorporando novos comportamentos às estruturas sociais e culturais já consolidadas, domesticando a novidade para que caiba nos padrões convencionais. Trata-se de uma instituição a serviço da imobilidade, ou de uma mobilidade relativa e sempre sob controle.

Como todas as instituições que fiscaliza e critica, a mídia tem ojeriza a rupturas. Por essa razão, é vista mais como freio do que como acelerador de mudanças na sociedade.

Por Luciano Martins Costa em 14/06/2011 na edição 646
Comentário para o programa radiofônico do OI, 14/6/2011

Reproduzido do Observatório da Imprensa