"(...) Bem, já que político vive de retórica, cabe aos jornalistas procurarem formas de extrair respostas mais objetivas, que, ao menos, possam dar conta de questões como 1) por quê não foi investido o montante de recursos que deveria ter sido aplicado nos últimos anos nessa sensível região, a fim de prevenir a recorrência de casos como o de agora?; 2) por quê cargas d’água (com o perdão do trocadilho) o crescimento desordenado em morros e encostas continuou?; 3) quando será elaborado um programa de habitação que possa realocar pessoas que vivem em áreas de risco, sem que isso signifique uma substantiva perda de qualidade de vida para elas?, etc...
Claro que, dito assim, parece fácil. Imagino que tais perguntas tenham sido feitas de fato. O que talvez esteja faltando é adotar novas estratégias de apuração, que envolvam uma reformulação da “agenda setting”, isto é, da própria pauta, alterando, por exemplo, os modelos de seleção de fontes e hierarquização da informação, e, consequentemente, as próprias perguntas que deverão ser feitas. E, como complemento, resultado ou mesmo causa (depende do ponto de vista) é necessário rever a exigência por leads que contenham ações de visibilidade e espetaculares, cifras ou frases de efeito, por mais vazias que sejam.
Com a proliferação de assessorias de imprensa que ocorre nos dias de hoje, é fundamental que os repórteres se reciclem e reavaliem até os mais consolidados paradigmas. Do contrário, as respostas prontas, estilo ready-made, prevalecerão nos holofotes, ofuscando amiúde as informações de real interesse social".
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