terça-feira, 23 de novembro de 2010

Sociedade Midiatizada: uma realidade, outra comunicação


"Em "Sociedade Midiatizada" (Editora Mauad), Dênis de Moraes reúne uma coletânea de textos de dez autores da atualidade, reconhecidos internacionalmente por seu compromisso ético com o pensamento crítico. Sua leitura nos conduz à reflexão sobre a mídia pelo prisma de seu engajamento político-ideológico e acerca das conseqüências da influência que exerce numa sociedade cada vez mais conturbada e atravessada por desigualdades sociais e econômicas catastróficas.

Tomamos como exemplo o texto de Eduardo Galeano "A Caminho de uma Sociedade da Incomunicação", em que ele nos apresenta e discute o aparente paradoxo da era da informação: embora a tecnologia das comunicações esteja tão aperfeiçoada, a comunicação está cada vez mais difícil; em suas palavras: "nosso mundo se parece cada vez mais com um reino de mudos". Isto porque a propriedade dos meios de comunicação é controlada por um pequeno número de pessoas que têm o poder de divulgar a sua mensagem para um enorme número de cidadãos em todo o mundo. Cria-se, assim, a "ditadura da palavra única e da imagem única", em seu entender mais devastadora que a do partido único, porque impõe a todos um mesmo modo de vida, ignorando a riqueza necessária da diversidade cultural.

Uma das conseqüências imediatas desse fato é a violência. Repetidas propagandas dos meios de comunicação sub-repticiamente inculcam nas mentes que "quem não tem nada, não é nada, é um lixo", levando pessoas a internalizar o desejo de ser igual e de pertencer ao grupo. Jovens se tornam delinqüentes, apropriando-se de coisas que o fazem sentir-se igual, ser alguém, existir, enfim: aprendem com o que Galeano denomina "escolas do crime".

Os meios de comunicação apresentam o mundo atual como um "espetáculo fugaz, estranho à realidade, vazio de memória". Ajudam a aprofundar as desigualdades, propagando a idéia de que a pobreza é fruto da fatalidade e não mais a conseqüência da injustiça, como há 20 anos. O código moral atual condena o fracasso, não a injustiça, como o único pecado sem redenção. E a mídia, no chamado terceiro mundo, costuma apresentar a violência não como resultado da injustiça, mas da má-conduta de pessoas violentas por natureza, que vivem num submundo violento que, como a pobreza, faz parte da ordem natural das coisas.

Assim a mídia vai cumprindo seu papel de retransmissora da ideologia dominante. Pela telinha, a propaganda do consumo vai impregnando o dia-a-dia do cidadão; de vez em quando, horrores da fome e da guerra, fatalidades de outro mundo, claro, que servem somente para realçar o paraíso que é a sociedade de consumo. Dificilmente são mostradas as responsabilidades que têm as grandes potências na exploração e aviltamento dos povos dos países mais pobres. A cultura da impunidade se impõe".

Leia a resenha do livro por Sheyla Murteira no FazendoMedia clicando aqui.

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