sábado, 30 de junho de 2012

A Voz da Criança do Brasil...



A regulamentação da Voz do Brasil

Por Beto Almeida e Chico Sant’Anna

“Nós somos os cantores do rádio
Nossas canções cruzando o espaço azul
Vão reunindo, num grande abraço
Corações de norte a sul...”
Braguinha

O líder do PT na Câmara Federal, deputado Jilmar Tatto tomou uma atitude corajosa de bloquear a votação do projeto que flexibiliza o horário de transmissão da Voz do Brasil, Cavalo de Tróia que traz consigo o sonho neoliberal de extinguir o programa o proporcionar uma hora a mais de rádio-baixaria, alienante e de um jornalismo precário, comandado pela ditadura do mercado.


Os argumentos do líder petista são corretos: o objetivo e acabar com o programa. Tentaram por via judicial, mas não tiveram êxito. Milhões de brasileiros o escutam assiduamente, para a grande maioria dos municípios brasileiros, sem a presença de jornalismo, nem impresso nem de rádio ou TV local, é a Voz do Brasil a única oportunidade de ter acesso a informações relevantes que decidem na vida do cidadão. Ou seja, as decisões do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Tato tem razão, sobretudo se considerarmos que o rádio comercial não oferece pluralidade informativa alguma, submetido que está aos poderes e interesses econômicos , além de sonegar ou deformar, não informa sobre os atos dos poderes públicos, já que parte de um fanatismo editorial anti-estado.

O grande empresariado de mídia, maior interessado no suculento horário a ser vendido, lança inúmeros preconceitos contra o programa radiofônico, hoje o mais antigo do mundo em veiculação. Entre eles o de tentar criticar, injustamente, criticar sua inutilidade. Certamente não escutam a veiculação já que a Voz do Brasil presta inúmeras informações importantes à sociedade brasileira, em sua maioria sem qualquer acesso à leitura de jornais que, como sabemos, registram credibilidade e circulação decadentes. Alguns exemplos: informações sobre o Fundeb, fazendo com que a população de cada município saiba que os recursos já estão em mãos do prefeito, possibilitando a cobrança cidadã de sua aplicação.

A missão pública do rádio

A Voz do Brasil veicula também, e amplamente, as informações sobre os recursos de cada programa do Ministério da Saúde, possibilitando controle e participação dos conselhos locais. Igualmente, informações sobre os projetos ligados ao Ministério da Pesca chegam, diariamente, ao litoral e às populações ribeirinhas pelo rádio, alcançando as embarcações onde estiverem. Há ainda a divulgação sistemática, pela Voz do Brasil, de informações sobre programas como o Pronaf, o PAA, ou sobre o Pronera, todos destinados à famílias que vivem no campo, nos assentamentos ou em grotões isolados, alcançados , em horário adequado, pelo sinal do rádio. O camponês também se informa sobre os preços mínimos. Basta que se consulte aos parlamentares da região amazônica que divulgam o preço da borracha da tribuna porque sabem que a Voz do Brasil será captada pelos seringueiros. Tem ou não utilidade social, cumprindo a missão pública do rádio.

Que pode ser aperfeiçoado, não há a menor dúvida. Mas, certamente não serão os editorialistas do Estadão ou da Fundação Milenium os maiores interessados neste aperfeiçoamento democrático do rádio, num país onde , recorde-se, é praticamente proibida da leitura de jornais. Aliás, sobre o Estadão, vale recordar que o inesquecível Monteiro Lobato, levou aos proprietários do jornalão a proposta de que aderisse e veiculasse uma nobre campanha para combater o analfabetismo. A resposta de um de seus proprietários é lapidar e deve ser para sempre lembrada: “ô Lobato, mas se todos aprenderem a ler e a escrever, quem é que vai pegar na enxada??” Não surpreende que argumentem agora contra o papel social desenvolvido pela Voz do Brasil.

Aperfeiçoar, não flexibilizar

O aperfeiçoamento da Voz do Brasil tem por base o fato de ser uma bem sucedida experiência de regulamentação democrática, podendo, por exemplo, ter sua versão televisiva, tal como foi o Diário da Constituinte, de 10 minutos diários na TV quando se escrevia a Constituição Cidadã. E pode também, sempre apoiada do fato de que é uma regulamentação, permitir que a Voz de mais brasileiros ecoe pelo Programa. Criar uma espécie de Direito de Antena na Voz do Brasil, por meio da qual seja ouvida também a voz das entidades da sociedade brasileira.

Talvez seja este um dos fatores a tirar o sono da oligarquia midiática brasileira, pois em vários países da América Latina, por meio da regulamentação democrática e apoiados no voto popular, governos estão possibilitando a prática da pluralidade informativa, sonegada quando a mídia é exclusivamente e ditatorialmente comercial. Para compensar o predomínio esmagador do rádio comercial, uma hora de programação diária, e apenas no rádio, é até uma cota tímida, embora democrática.

Conspiração?

Também para aperfeiçoar, pode-se por meio de medidas administrativas no âmbito da EBC fazer os ajustes necessários para que a veiculação do programa seja para o horário mais adequado nos estados com fuso horário. Não é necessário alterar a lei para isto. Fica claro que o objetivo é outro: tornar impossível a fiscalização sobre 7 mil emissoras de rádio - a Anatel não tem a mais mínima estrutura para isto - e levar o programa a ser inaudível, esquecido, facilitando sua extinção posterior.

Sobre dificuldades de fiscalização, basta dizer que a esmagadora maioria das rádios brasileiras hoje não cumprem a legislação no que toca a produzir, obrigatoriamente, um percentual de programação jornalística local. A Voz do Brasil é , para a maioria das emissoras, o único espaço jornalístico. Sua estrutura e redação deveriam ser ampliadas, com sucursais em todas as capitais, trazendo ao conhecimento de toda a sociedade, a multifacética aventura sócio-economica do povo brasileiro em todos os quadrantes deste continente.

A palavra de ordem justa não é flexibilizar mas, sim, fortalecer, qualificar, aperfeiçoar, expandir o jornalismo público. Exatamente na linha contrária do defendido por certas fundações financiadas por recursos de sinistras instituições estrangeiras, como a Usaid, de países que querem a diluição do estado nacional, que interferem na vida de outros povos e até mesmo podem conspirar com a ideia da fragmentação do Brasil.

Era Vargas

É tola a argumentação de que a Voz do Brasil seria resquício da Era Vargas como se isto fosse negativo. Também a CLT é um “resquício” salutar da Era Vargas, tanto é que aquele ex-presidente pretendeu demolir a Era Vargas e , até hoje, periodicamente, surgem tentativas conspirativas do grande capital para “flexibilizar” a CLT. Também são produto desta mesma Era Vargas o Instituto Nacional do Cinema Educativo, dirigido pelos geniais Roquete Pinto e Humberto Mauro, aRádio Nacional, o Instituto Nacional de Música, dirigido por Villa-Lobos, gênio da raça.

E claro, é também fruto da Era Vargas o direito de voto à mulher, a licença maternidade que agora foi expandida para 6 meses, a Escola Nova de Anísio Teixeira, a indústria naval, a Cia Siderúrgica de Volta Redonda, a Petrobrás, a Vale do Rio Doce, cuja reestatização vem sendo defendida aplicadamente pelo MST, numa dialética aliança histórica com o baixinho dos pampas.

Assim, afirmar que é resquício da Era Vargas não desqualifica, ao contrário, como vimos é parte de um processo de conquistas do povo brasileiro. Claro, não é o que pensa o capital estrangeiro, as oligarquias e os novos sucedâneos da UDN. Que já se deram conta de que o presidente Lula fez importantes e significativas revisões sobre a avaliação que tinha sobre o papel de Vargas na história. A presidenta Dilma também valoriza sobremaneira o papel de Vargas, como tantas vezes já declarou.

Esta investida dos empresários do rádio não é a única. Há anos deixaram de veicular o Projeto Minerva, dedicado à nobre causa da alfabetização à distância, via rádio, com 30 minutos diários, que era veiculado logo após a Voz do Brasil. Em troca, temos hoje mais meia hora de rádio comercial e alienante.

Água potável

Vale lembrar ainda que quando pleitearam a concessão para a exploração de serviços de radiodifusão, os empresários firmaram contratos comprometendo-se a cumprir com todas as obrigações deles decorrentes. Estariam tentando agora uma quebra de contrato, o que pode ensejar uma perda da concessão. Comparando: como reagiria a sociedade se uma concessionária para o fornecimento de água potável, no meio do contrato, deixasse de adicionar flúor ou cloro no produto?

O projeto de lei que flexibiliza a Voz do Brasil , como apontou o líder petista, precisa ser muito melhor examinado. Ele não foi submetido ao plenário na Câmara e teve sua tramitação no Senado durante o ano eleitoral em que a Casa encontrava-se com menor atividade. Além disso, padece de um problema de técnica legislativa crucial: toda matéria legislativa sobre comunicação deve obrigatoriamente ser examinada peloConselho de Comunicação Social, e isto não foi observado até o momento.

Finalmente, não pode ser mais passional e fanático o argumento do campo do grande empresariado da comunicação afirmando que a Voz do Brasil humilha o povo brasileiro. O que humilha e desrespeita o povo brasileiro é um rádio comercial que agride a constituição diuturnamente, com práticas de anti-jornalismo, com o culto ao mórbido e à violência, muitas vezes casos xenófobo aos países sul-americanos, com os quais querente uma integração solidária. Ou, simplesmente, com a regular ausência de informações educativas, civilizatórias e humanizadoras. Em muitos casos, apenas durante a exibição da Voz do Brasil se vê algo de informativo, real e não aviltante.

Reproduzido de Blog do Miro, por Altamiro Borges
30 jun 2012

Comentários de Filosomídia:


Concordo plenamente com o deputado Jilmar Tatto na necessidade se aperfeiçoar e, segundo Altamiro Borges, Beto Almeida e Chico Sant'Anna "fortalecer, qualificar (...) expandir o jornalismo público" na Voz do Brasil, qualificando essa experiência de modo a aprofundar as questões da democratização dos meios de comunicação.


Do mesmo modo, a partir dessa regulamentação necessária para o setor, é importante destacar da possibilidade de maior participação de outras vozes da população brasileira, além do serviço prestado no noticiário dos poderes públicos. Se estes já têm os seus próprios canais televisivos na divulgação de suas ações, é imprescindível que a Voz do Brasil, na voz de seus cidadãos e cidadãs, também tenha espaço na programação deste horário nobre enquanto jornalismo público, feito pelo público, ampliando o alcance das rádios comunitárias espalhadas no país.

A Voz da Criança do Brasil

Eu defendo, inclusive, que haja espaço para a Voz da Criança do Brasil, ou seja, que a meninada brasileira se utilize do horário para também marcar presença e exercitar seus direitos, entre eles, o do reconhecimento da comunicação como um direito humano, na forma e conteúdo adequados ao entendimento infantil. Na falta de jornalismo e telejornalismo para crianças no Brasil no meio dessa programação infantil reconhecidamente estupidificante, é imperativo garantir às crianças um espaço para que também soltem, libertem suas vozes e sejam ouvidas em todas as faixas do espectro possibilitado pelas ondas da radiodifusão.

E, isso para que sejam não tão somente ouvintes, mas também produtoras de notícias na possibilidade de tornarem públicas as suas aspirações infantis nesse mundo que tantas vezes lhes nega a voz e participação, desde o lar até à escola, e nos demais espaços de convivência social.

É preciso aprofundar tal debate nas relações que se dão entre Educação e Comunicação, envolvendo profissionais das áreas, a sociedade civil organizada, laboratórios, universidades e cursos de formação de professores.

Conselhos Escolares de Comunicação Social

Quiçá de nossas instituições públicas e privadas de ensino nasçam osConselhos Escolares de Comunicação Social, onde a comunidade escolar participe criticamente incentivando para que desde a mais tenra infância os brasileirinhos e brasileirinhas participem ativa e criativamente na proposição e defesa de políticas públicas que lhes garantam a plena cidadania.

Essas são ideias lançadas ao ar... e, se temos naquele dístico da Bandeira Nacional a ordem por base e o progresso por finalidade, não nos esqueçamos do amor por princípio, algo que soa tão esquisito ainda hoje quando estamos tão distanciados na construção de uma sociedade na ótica do Bem Viver para todos... 

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Comunicação e direitos da criança e do adolescente


Comunicação e direitos da criança e do adolescente

Redação
Infonet
28/06/2012

Com o intuito de fortalecer o debate acerca da relação entre mídia e infância e oferecer subsídios técnicos aprofundados para a consolidação de políticas de comunicação com foco em crianças e adolescentes, acontecerá no próximo dia 03 de julho a Oficina Infância e Comunicação - Referências para o marco legal e as políticas públicas brasileiras, realizado pela ANDI – Comunicação e Direitos, pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos (SDH), com apoio da Rede ANDI Brasil, representada em Sergipe pelo Instituto Recriando.

O evento pretende atingir preferencialmente os delegados eleitos na IX Conferência Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente de Sergipe, de modo a sensibilizá-los e mobilizá-los, oferecendo-lhes subsídios para que fortaleçam o debate em torno das propostas com foco em temas referentes à relação entre comunicação e direitos da infância e da adolescência durante a IX Conferência Nacional DCA, que acontecerá de 11 a 14 de julho, em Brasília.

A oficina será ministrada pela Gerente do Núcleo de Qualificação e Relações Acadêmicas da ANDI, Suzana Varjão, e pelo jornalista do Portal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Raphael Gomes. Ambos são atores sociais com ampla experiência na temática Infância e Comunicação. A discussão será pautada pelos 10 eixos temáticos elencados na publicação, dentre elas educação para a mídia; regulação de exibição de imagens e identificação de crianças e adolescentes em conteúdos midiáticos; classificação indicativa e produção de conteúdo audiovisual de qualidade para este público. Na ocasião, será ainda lançada a publicação “Infância e Comunicação - Referências para o marco legal e as políticas públicas brasileiras”.

É importante frisar que além de Aracaju, outras nove capitais receberão as oficinas. O ciclo de debates vai culminar com o Seminário Nacional sobre Direitos da Infância e Regulação dos Meios, que ocorrerá em Brasília no segundo semestre deste ano. A proposta integra o projeto “Infância e comunicação: produzindo conhecimento para promover e proteger os direitos de crianças e adolescentes em sua interface com a mídia”, executado pela ANDI, com a parceria da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, e apoio da Rede ANDI Brasil.

Em Sergipe, o seminário terá início às 9h, no Hotel Parque das Águas, localizado na Rua professor Jugurta Feitosa, 400, Atalaia, Aracaju-SE. Para obter mais informações, entrar em contato com a equipe de Comunicação do Instituto Recriando, através dos telefones (79) 3246-5242 e 3246-5211.

Fonte: Ascom Instituto Recriando
Via clipping FNDC
28 jun 2012

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Hábito de ler está além dos livros, diz um dos maiores especialistas em leitura do mundo


Hábito de ler está além dos livros, diz um dos maiores especialistas em leitura do mundo

Redação
Agência Brasil
24/06/2012

Um dos maiores especialistas em leitura do mundo, o francês Roger Chartier destaca que o hábito de ler está muito além dos livros impressos e defende que os governos têm papel importante na promoção de uma sociedade mais leitora.

O historiador esteve no Brasil para participar do 2º Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários, realizado pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Em entrevista à Agência Brasil, o professor e historiador avaliou que os meios digitais ampliam as possibilidades de leitura, mas ressaltou que parte da sociedade ainda está excluída dessa realidade. “O analfabetismo pode ser o radical, o funcional ou o digital”, disse.

Agência Brasil: Uma pesquisa divulgada recentemente indicou que o brasileiro lê em média quatro livros por ano (a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada pelo Instituto Pró-Livro em abril). Podemos considerar essa quantidade grande ou pequena em relação a outros países?

Roger Chartier: Em primeiro lugar, me parece que o ato de ler não se trata necessariamente de ler livros. Essas pesquisas que peguntam às pessoas se elas leem livros estão sempre ignorando que a leitura é muito mais do que ler livros. Basta ver em todos os comportamentos da sociedade que a leitura é uma prática fundamental e disseminada. Isso inclui a leitura dos livros, mas muita gente diz que não lê livros e de fato está lendo objetos impressos que poderiam ser considerados [jornais, revistas, revistas em quadrinhos, entre outras publicações]. Não devemos ser pessimistas, o que se deve pensar é que a prática da leitura é mais frequente, importante e necessária do que poderia indicar uma pesquisa sobre o número de livros lidos.

Agência Brasil: Hoje a leitura está em diferentes plataformas?

Chartier: Absolutamente, quando há a entrada no mundo digital abre-se uma possibilidade de leitura mais importante que antes. Não posso comparar imediatamente, mas nos últimos anos houve um recuo do número de livros lidos, mas não necessariamente porque as pessoas estão lendo pouco. É mais uma transformação das práticas culturais. É gente que tinha o costume de comprar e ler muitos livros e agora talvez gaste o mesmo dinheiro com outras formas de diversão.

Agência Brasil: A mesma pesquisa que trouxe a média de livro lidos pelos brasileiros aponta que a população prefere outras atividade à leitura, como ver televisão ou acessar a internet.

Chartier: Isso não seria próprio do brasileiro. Penso que em qualquer sociedade do mundo [a pesquisa] teria o mesmo resultado. Talvez com porcentagens diferentes. Uma pesquisa francesa do Ministério da Cultura mostrou que houve uma redistribuição dos gastos culturais para o teatro, o turismo, a viagem e o próprio meio digital.

Agência Brasil: Na sua avaliação, essa evolução tecnológica da leitura do impresso para os meios digitais tem o papel de ampliar ou reduzir o número de leitores?

Chartier: Representa uma possibilidade de leitura mais forte do que antes. Quantas vezes nós somos obrigados a preencher formulários para comprar algo, ler e-mails. Tudo isso está num mundo digital que é construído pela leitura e a escrita. Mas também há fronteiras, não se pode pensar que cada um tem um acesso imediato [ao meio digital]. É totalmente um mundo que impõe mais leitura e escrita. Por outro lado, é um mundo onde a leitura tradicional dos textos que são considerados livros, de ver uma obra que tem uma coerência, uma singularidade, aqui [nos meios digitais] se confronta com uma prática de leitura que é mais descontínua. A percepção da obra intelectual ou estética no mundo digital é um processo muito mais complicado porque há fragmentos e trechos de textos aparecendo na tela.

Agência Brasil: Na sua opinião, a responsabilidade de promover o hábito da leitura em uma sociedade é da escola?

Chartier: Os sociólogos mostram que, evidentemente, a escola pode corrigir desigualdades que nascem na sociedade mesmo [para o acesso à leitura]. Mas ao mesmo tempo a escola reflete as desigualdades de uma sociedade. Então me parece que, também, é um desafio fundamental que as crianças possam ter incorporados instrumentos de relação com a cultura escrita e que essa desigualdade social deveria ser considerada e corrigida pela escola que normalmente pode dar aos que estão desprovidos os instrumento de conhecimento ou de compreensão da cultura escrita. É uma relação complexa entre a escola e o mundo social. E é claro que a escola não pode fazer tudo.

Agência Brasil: Esse é um papel também dos governos?

Chartier: Os governos têm um papel múltiplo. Ele pode ajudar por meio de campanhas de incentivo à leitura, de recursos às famílias mais desprovidas de capital cultural e pode ajudar pela atenção ao sistema escolar. São três maneira de interação que me parecem fundamentais.

Agência Brasil: No Brasil ainda temos quase 14 milhões de analfabetos e boa parte da população tem pouco domínio da leitura e escrita – são as pessoas consideradas analfabetas funcionais. Isso não é um entrave ao estímulo da leitura?

Chartier: É preciso diferenciar o analfabetismo radical, que é quando a pessoa está realmente fora da possibilidade de ler e escrever da outra forma que seria uma dificuldade para uma leitura. Há ainda uma outra forma de analfabetismo que seria da historialidade no mundo digital, uma nova fronteira entre os que estão dentro desse mundo e outros que, por razões econômicas e culturais, ficam de fora. O conceito de analfabetismo pode ser o radical, o funcional ou o digital. Cada um precisa de uma forma de aculturação, de pedagogia e didática diferente, mas os três também são tarefas importantes não só para os governos, mas para a sociedade inteira.

Agência Brasil: Na sua avaliação, a exclusão dos meios digitais poderia ser considerada uma nova forma de analfabetismo?

Chartier: Me parece que isso é importante e há uma ilusão que vem de quem escreve sobre o mundo digital, porque já está nele e pensa que a sociedade inteira está digitalizada, mas não é o caso. Evidente há muitos obstáculos e fronteiras para entrar nesse mundo. Começando pela própria compra dos instrumentos e terminando com a capacidade de fazer um bom uso dessas novas técnicas. Essa é uma outra tarefa dada à escola de permitir a aprendizagem dessa nova técnica, mas não somente de aprender a ler e escrever, mas como fazer isso na tela do computador.

Reproduzido de Agência Brasil
24 jun 2012
Via clipping FNDC 25 jun 2012

Pesquisas em prol do consumo e produção sustentáveis


Pesquisas em prol do consumo e produção sustentáveis

Por Carla Rabelo
Consumismo e Infância . Instituto Alana
27 junho 2012

Nos últimos dias 13, 14 e 15 de junho, o Rio de Janeiro abrigou o Global Research Forum on Sustainable Consumption and Production - GRF-SCP (Fórum Global de Pesquisa em Consumo e Produção Sustentáveis), evento que reuniu pesquisadores, empresas, representantes de governos e de organizações não-governamentais de todo o mundo para discutir suas pesquisas e possíveis aplicações em novos modos de produção e consumo sustentáveis. Esses temas são correlatos ao contexto da Rio+20.

Mesmo sem um expressivo número de latinamericanos, o evento contou com estudos advindos do Brasil, Chile e México, mas foi predominantemente representado por países como Canadá, Estados Unidos, Alemanha, Lituânia, Índia, Inglaterra, Filipinas, Japão, Singapura, África do Sul, entre outros. Os artigos apresentados versavam sobre as tendências e necessidades de pesquisa diante do atual sistema global de produção e consumo que está resultando em grandes crises ambientais, econômicas e, consequentemente, impactos nas vidas das pessoas.

Pensar em sistemas alternativos para problemas de países desenvolvidos e em desenvolvimento como o Brasil dentro de metas globais e locais de sustentabilidade é o maior desafio para a interface do mundo científico com outros atores sociais. Mas outra questão que continua sem respostas e tão cara aos estudos nacionais e internacionais é a lacuna entre pesquisa e prática. O acesso às informações de pesquisa continua, em grande parte, restrito a uma literatura distante por meio de revistas acadêmicas, relatórios e congressos que não proporcionam acesso e intercâmbio dos outros saberes (indivíduos, comunidades, empresas, ongs etc).

Nesse sentido de compartilhar conhecimentos e trazer importantes discussões sociais ao universo científico, o Instituto Alana, por meio da pesquisadora Carla Rabelo e da coordenadora de mobilização Gabriela Vuolo, participou no dia 15 de junho desse fórum apresentando, na divisão temática de Educação, com o artigo "Criança, Consumo e Sustentabilidade - Os efeitos negativos da publicidade e a emergência de políticas públicas adequadas". O trabalho expos as preocupações atuais diante do predominante consumismo social incentivado por mecanismos de comunicação mercadológica como a publicidade voltada ao público infantil, que tenta solidificar desde cedo o modelo do acúmulo, antagônico com a proposta de sustentabilidade e redução de descarte.

Acompanhar as discussões da pesquisa científica no Brasil e no mundo, nos ajuda a entender melhor esses temas tão complexos e difíceis. Os estudos podem abrir caminhos reflexivos, criativos, embasados e também soluções para um mundo mais igualitário, sem explorações e incentivos consumistas.

Se você tem alguma pesquisa, estudo ou atividade ligada aos temas sustentabilidade, educação, consumo, consumismo, criança, infância, publicidade, propaganda, marketing, compartilhe escrevendo um e-mail para: contato@alana.org.br

Reproduzido de Consumismo e Infância
27 jun 2012

Publicidade para criança não é legal: Inspirações de rua na Rio+20


Inspirações de rua na Rio+20

Por Gabriela Vuolo
Instituto Alana
26 jun 2012

Rio+20 passou, as pessoas que participaram estão, aos poucos, voltando pras suas casas e pras suas rotinas. É hora de olhar pra trás e ver o que nos rendeu esse grande encontro no Rio de Janeiro.

O processo de negociações oficiais da ONU frustrou muita gente - o documento final não trouxe compromisso, ambição e nem uma disposição real em resolver os problemas socioambientais que já enfrentamos... Ainda assim, a reunião formal foi uma oportunidade de pautar assuntos relevantes para a sociedade, como o tema do consumismo e da publicidade infantil e do impacto dessa questão na sustentabilidade.

No entanto, os resultados verdadeiramente inspiradores da Rio+20 vieram muito mais das ruas do que do processo de negociação formal. Vieram dos encontros e conexões, do bate-papo com Marina Silva, da energia dos voluntários que nos ajudaram durante toda a Cúpula dos Povos, das palavras de Frei Betto. E vieram também da Marcha da Cúpula dos Povos.

Cinco mil? Vinte mil? 50 mil? 80 mil? As estimativas podem até variar, assim como as causas que foram levadas pelos manifestantes, mas a verdade é que o desejo de mudanças reais estava lá, da Candelária à Cinelândia, ao longo de todo o percurso da marcha.


A equipe e os voluntários do Alana aproveitaram o momento para divulgar o problema do consumismo infantil, demandar a regulação imediata da publicidade infantil e conversar com as pessoas na rua. E a acolhida que recebemos foi incrível! Pessoas que paravam para tirar foto, pais e mães que foram marchar com seus filhos e fizeram questão de vir falar conosco pra demonstrar seu apoio, representantes de outras causas que fizeram questão de colar o adesivo do Alana antes de seguir adiante... até música nós ganhamos!

Reproduzido de Consumismo e Infância
26 jun 2012

Assista ao vídeo: Consumismo e Infância na Marcha dos Povos

domingo, 24 de junho de 2012

Para Marina Silva, criança precisa ser protegida de bombardeio do ter


Para Marina Silva, criança precisa ser protegida de bombardeio do ter

Uma das pessoas mais respeitadas no Brasil nas discussões sobre sustentabilidade, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva falou à equipe do Alana sobre a importância de proteger a infância do verdadeiro bombardeio de apelos para o consumo. Segundo ela, governo, sociedade, meios de comunicação e empresas têm o dever compartilhado de garantir essa proteção.

"As pessoas estão intoxicadas pelo consumo", comentou Marina sobre o materialismo, que ameaça o futuro das crianças. Ela ainda chamou a atenção para a necessidade urgente de investir na educação para o consumo.

Reproduzido de Consumismo e Infância



Foto: Kosta Boda "Earth: Home" Decorative Globe

In the Earth series, Bertil Vallien has created four different globes, each with its own characteristic houses and message. Their names—My Garden, Home, Winter Garden and Lonely House—tell a bit about the history of each globe and Vallien’s ideas behind the series. Each globe is hand-made with great care. Bloomingdales

domingo, 17 de junho de 2012

Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis


Mostra de cinema infantil de Florianópolis

Por Marcus Tavares

A maratona já vai começar. São cerca de 80 curtas, três pré-estreias e uma série de animações e obras nacionais e internacionais que vale a pena conferir. Não, não é um festival de cinema para adulto. É a Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, onde gente grande é coadjuvante. Em sua 11ª edição, o evento é o único do Brasil que traz, todos os anos, uma seleção de curtas e longas nacionais que têm como temática a infância, mostrando que há produções instigantes e aproximando as histórias do seu público-alvo. A edição deste ano começa no dia 29 de junho e só termina no dia 15 do mês seguinte. Além dos filmes, há oficinas de animação e interpretação, salas de leitura, palestras com diretores e shows.

Para os adultos, um papo sério: os desafios da criação de conteúdos e da distribuição de produtos audiovisuais para crianças. O debate integra o 8º Encontro Nacional do Cinema Infantil, que todos os anos abre espaço para a discussão do cinema infantil. A secretária da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAv/.MinC), Ana Paula Santana Dourado, confirmou presença. Ela deverá falar sobre as 71 propostas que foram encaminhadas à sua equipe pelo Grupo Técnico de Assessoramento de Elaboração da Política Pública do Audiovisual para a Infância, instituído pela secretária no encontro do ano passado. As 71 propostas foram elaboradas por 13 profissionais que se reuniram no Fórum Pensar Infância, do 9º Festival Internacional de Cinema Infantil (FICI), realizado em agosto de 2011, no Rio.(conheça as propostas de cada um dos integrantes do grupo).

“Desde o início, a Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis promove a inclusão social através da arte. A cada edição aumentamos o número de crianças atendidas e expandimos a nossa ação de promover a circulação de bons filmes nacionais. Atualmente, quase todos os estados brasileiros, por meio de parcerias, realizam eventos audiovisuais gratuitos para as crianças com os curtas-metragens do nosso acervo. Nosso sonho é o de que um dia todas elas possam ter acesso à cultura e a filmes nacionais e estrangeiros que mostrem a beleza e a diversidade cultural do planeta, que estimulem a paz, a sustentabilidade, e que sejam instrumentos para um mundo melhor”, Luiza Lins, coordenadora do evento.

A revistapontocom traz um serviço especial da mostra. Clique nos links,confira e participe, clicando aqui.

Reproduzido de Revistapontocom
16 jun 2012

Crianças e consciência ecológica em cinco canais de TVs latino-americanas


Crianças e consciência ecológica

Como as crianças latinoamericanas enfrentam os desafios de preservar o meio ambiente na realidade de  seus respectivos países? O que pensam e o que fazem? Este é o tema central da série de TV Senha Verde, um projeto de co-produção audiovisual que envolveu a participação de cinco canais latinoamericanos de televisão: o Paka Paka, da Argentina, o Señal Colombe, da Colômbia, o Tevé Ciudad, do Uruguai, o Vale TV, da Venezuela,  e a TV Brasil, do Brasil.

Senha Verde é resultado de uma iniciativa que tem o objetivo de consolidar uma rede formada por canais públicos que realizam projetos audiovisuais para a infância, incentivando produções locais e fomentando o intercâmbio entre países. Destinada a crianças com idade entre 8 e 12 anos, a série é composta de 13 microprogramas com duração de quatro minutos. Cada canal produziu até três episódios que destacam problemas ecológicos que mobilizam as crianças e as soluções que elas encontraram para melhorar o planeta.

O formato da série foi idealizado em conjunto pelos cinco canais, sob a supervisão de especialistas em mídia, infância e ecologia. Cada canal assumiu a responsabilidade de produção das eco-histórias a partir dos seus respectivos países. O Goethe-Institut, órgão patrocinador do projeto, criou mecanismos para garantir um diálogo fluido e um intercâmbio permanente entre todos os envolvidos. Também coube à instituição as funções específicas de tradução, dublagem e transcodificação.

“Com a participação dos produtores e produtoras dos canais, das diretoras artísticas com grande experiência na temática e com o know-how generosamente oferecido pelos especialistas convidados, conseguimos desenvolver um formato de uma série documental colorida e atrativa, onde as crianças relataram suas experiências com o meio ambiente. Estou confiante de que conseguimos montar um mosaico que destaca a particularidade de cada situação e que, ao mesmo tempo, realça as motivações e valores comuns entre as crianças de diferentes regiões. O que proporcionou isso foi o processo de criação conjunto onde todos puderam oferecer suas especificidades locais de maneira autônoma, mas, ao mesmo tempo, afinada entre todos os envolvidos. E o que mais me deixa entusiasmada é que, simultaneamente, houve a consolidação dos contatos e do intercâmbio entre os profissionais que representaram os canais”, destacou Inge Stache, coordenação institucional do Senha Verde, do Goethe-Institut Buenos Aires.

A brasileira Beth Carmona, que assina a direção artística, foi uma das especialistas convidadas para contribuir na formatação do projeto. A série na TV Brasil vai ao ar em julho deste ano. O lançamento aconteceu no dia 4 de junho, na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro.

Confira a sinopse dos vídeos produzidos pelos cinco canais na página da Revistapontocom, clicando aqui.

Reproduzido de Revistapontocom por Marcus Tavares
07 jun 2012




Leia também:

"TV Brasil lança série em parceira com o Goethe-Institut, para estimular a consciência ecológica em crianças", na página da TV Brasil, clicando aqui.


A TV Brasil produxiu 3 dos 13 episódios da série:



. Aderley apresenta: caranguejo tem que crescer
Aderley é um indiozinho que quer ser pescador e seu professor está ensinando sobre a pesca dos caranguejos e os ciclos da natureza.

. Arthur apresenta: sabendo usar, não vai faltar!
Arthur é curioso, adora desenhar e fazer pequenas experiências. Depois de um de seus experimentos, e de uma bela bronca de sua mãe, aprende sobre a importância do uso consciente das coisas.

. Bruno apresenta: os sons da mata
Bruno tem nove anos e adora ir para o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde gosta de ficar com os animais e tirar belas fotos.

Assista a mais vídeos na página da TV Brasil/Senha verde clicando aqui.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Brasília: Seminário Internacional debate uso de Tecnologias na Educação


Seminário Internacional debate uso de Tecnologias na Educação

Representantes do setor educacional de nove países da América Latina estarão reunidos até a próxima sexta-feira, 15, em Brasília, durante o Seminário Latino-Americano de Disseminação de Conteúdos Digitais, que discutirá a presença e implantação das tecnologias digitais nas escolas do continente.

Participaram da abertura do evento, na tarde desta quarta-feira, 13, representantes dos Ministérios da Educação do Brasil, Colômbia, Equador, Uruguai, Peru, El Salvador, Guatemala e Paraguai, além de entidades voltadas para a formação de professores e difusão de políticas públicas educacionais, como a Fundação SM, da Espanha, e a Fundação Centro de Estudos de Políticas Públicas (CEPP) de Buenos Aires, respectivamente.

De acordo com a diretora de formulação de conteúdos educacionais do MEC, Mônica Franco, o evento deve resultar em um novo modelo de referências nos países envolvidos para o uso de tecnologias nas escolas. “As referências na América Latina costumam ser de países de outros continentes, e com a troca de experiências neste evento procuramos mudar isto”, disse. Em sua apresentação a gestora descreveu o cenário atual da educação brasileira.

Para Gustavo Iaies, Diretor do Centro de Estudos de Políticas Públicas, não se pode provocar uma ruptura no sistema de ensino existente ao incentivar o uso de novas tecnologias. “Quando pensamos em novos instrumentos, pensamos em melhorar a estrutura existente nas salas de aula. Não podemos desmontar a escola que temos hoje”, afirma. Ele também ressalta que se deve pensar na comunidade na preparação para o uso das tecnologias no ambiente escolar e que há muito por ser feito no entorno, além de preparar os professores, ao instituir uma política pública neste sentido.

Debate – O primeiro dia de reunião contou ainda com um debate a respeito do uso de conteúdos digitais na aprendizagem. Em sua explanação, a conferencista e consultora do CEPP, Elena García, lembrou que existem diversos pontos a serem levados em consideração quando se propõe o uso de conteúdos digitais nas escolas. ”Quando falamos em tecnologia da informação temos de pensar a qual geração nos referimos”, afirmou, ao descrever a evolução dos instrumentos tecnológicos na aprendizagem durante as últimas décadas.

No debate, em que foram apresentados exemplos de atividades que podem ser desenvolvidas online, também foi ressaltado que, além de incluir as novas tecnologias nas salas de aula, deve-se atentar para a sua correta utilização, para que sejam melhor aproveitadas. “Com isso quero mostrar que um conteúdo pode ou não ser educacional”, destacou.

Ao longo dos próximos dois dias os países participantes apresentarão suas políticas para implantar e disseminar o uso de tecnologias digitais no aprendizado dos alunos, além dos problemas e abordagens comuns em torno desta política no continente.

Assessoria de Comunicação do MEC

Reproduzido de Portal MEC
13 jun 2012
Prefeitura Municipal de Florianópolis

Foto: Para a diretora de conteúdos educacionais do MEC, Mônica Franco, as referências para a educação na América Latina devem ser do próprio continente.
Foto por Fabiana Carvalho.

Leia também:

“Para conferencista, tecnologia deve ser adaptada à Educação” no Portal do MEC (14/06/2012), clicando aqui.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Os riscos da publicidade infantil sem regulamentação


Os riscos da publicidade infantil sem regulamentação

Bonecas que cantam e dançam sozinhas e vivem em um mundo colorido, cheio de efeitos especiais; jogos que são capazes de reunir amiguinhos e pais para uma partida cheia de sorrisos e diversão; tênis ou sandálias da moda que garantem a quem os usa sucesso instantâneo, atraindo olhares e interesse por onde passam. Para os adultos é fácil perceber que esses exemplos de peças publicitárias servem para convencer o público a comprar os produtos apresentados. Para as crianças, no entanto, o cenário e os resultados produzidos são facilmente confundidos com a realidade, garante a especialista em comunicação Luciene Ricciotti.

Segundo ela, que também é membro da Rede de Trabalho do Instituto Alana, organização sem fins lucrativos voltada para a defesa de crianças e adolescentes, o público infantil não conta com desenvolvimento psicológico suficiente para fazer essa diferenciação e identificar os apelos do marketing.

“Quando a criança vê a propaganda, ela vê o cenário, o conjunto e diz que quer. Mas muitas vezes ela não quer o brinquedo, ela quer a mãe brincando com ela no tapete como aparece na televisão. Aí a gente compra, e o brinquedo acaba no fundo do armário”, disse a especialista, que é autora do livro A Criança e o Marketing, escrito em parceria com a psicóloga Ana Maria Dias da Silva.

A especialista defende que pais e professores discutam os objetivos da propaganda com filhos e alunos e os orientem a perceber que nem sempre precisamos dos objetos e serviços que nos são apresentados. O esforço, acredita, ajuda essas crianças a serem, no futuro, consumidores conscientes. Luciene Ricciotti acrescenta que a tarefa dos pais é ainda mais difícil porque a criança, em geral, não percebe o fim do desenho e o início da propaganda. “Para ela, os dois têm a mesma credibilidade”, explica.

“A ideia é orientar as crianças, contar o que é o marketing e dizer que a função dele é atender necessidades de consumidores. É importante preparar a criança para o mundo em que a gente vive. Mais cedo ou mais tarde ela vai ter acesso às marcas, ao assédio das empresas e precisamos orientá-las a não consumirem tanto por impulso. Comprar não é errado, o errado é comprar, comprar, comprar e guardar, guardar, guardar, o que caracteriza o consumismo”, alertou.

Para Ana Cláudia Bessa, uma das fundadoras do movimento Infância Livre de Consumismo, coletivo formado por pais e mães inconformados com os estímulos da publicidade infantil ao consumo excessivo, a família não pode ser totalmente responsabilizada pela formação do consumo consciente em crianças e adolescentes. Segundo ela, trata-se de uma disputa “cruel e desigual”. A ativista defende a proibição de propagandas voltadas para esse público.

“Não temos como competir com as mensagens criadas por adultos, que estudaram para isso, voltadas às crianças, que não têm condição de discernir o que é verdade, manipulação ou mentira. Além disso, crianças não podem decidir o que vão consumir, afinal elas não geram renda”, ressaltou, acrescentando que essa realidade é responsável por conflitos familiares e constantes frustrações, já que “é impossível para a maioria das pessoas comprar sempre todos os lançamentos apresentados nas propagandas”.

“Essa necessidade produzida, além de tudo, compromete a sustentabilidade do planeta porque, baseados no consumismo, em pouco tempo, estaremos lotados de lixo, com o ambiente totalmente degradado e sem água para beber”, completou.

Reportagem de Thais Leitão, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 05/06/2012

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Foto: Fiocruz

Reproduzido de Eco Debate
05 jun 2012

sábado, 9 de junho de 2012

Brasil está atrasado na implantação de políticas de regulação da publicidade infantil


Brasil está atrasado na implantação de políticas de regulação da publicidade infantil, diz especialista

Por Thais Leitão
Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - O Brasil está muito atrasado em relação a outros países quando o assunto é implementação de políticas de regulação no campo da publicidade infantil. A avaliação é da professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Inês Vitorino, que coordena o Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Adolescência e Mídia (GRIM) da instituição.

A especialista, que também é doutora em ciências sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), acredita que é preciso haver maior reflexão e mobilização da sociedade brasileira para exigir leis que protejam crianças e adolescentes dos “efeitos nocivos” que o marketing direcionado a eles tem. “As propagandas voltadas para crianças são em geral abusivas porque utilizam estratégias de persuasão que elas não são capazes de identificar, então estão sendo enganadas”, disse.

Inês Vitorino acredita que o Brasil deve seguir o exemplo de países que adotaram modelos que proíbem a publicidade infantil ou regulamentam a atividade de forma específica. “Na Alemanha, por exemplo, toda a publicidade é dirigida aos pais e nos horários infantis não há qualquer publicidade. Na província do Québec, no Canadá, e na Suécia, a publicidade infantil é inteiramente proibida. São países de tradição democrática, mas optaram por esse caminho com base no princípio norteador que a criança até 7 ou 8 anos não tem sequer a clareza do conteúdo persuasivo. Ela assiste à publicidade e não tem compreensão de que ali há uma oferta de venda”, explicou.

A especialista ressaltou, ainda, que por meio da publicidade são apresentados conceitos e valores, como níveis de competitividade e desqualificação de pessoas pela falta de posse de determinados produtos, com os quais a criança não está preparada para lidar. “Sem maturidade para lidar com esse tipo de situação, a criança sofre problemas de autoestima e conflitos familiares, porque ela passa a pedir aos pais coisas que muitos deles não têm condições de comprar”, ressaltou.

A professora da UFC citou ainda outra situação considerada por ela um problema familiar, que é a influência de crianças e adolescentes nas compras da casa. De acordo com ela, dados colhidos por um instituto de pesquisa brasileiro, em 2007*, constataram que, no Brasil, 45% de crianças e adolescentes entre 8 e 14 anos opinam sobre a compra de carros pela família, 60% influem sobre a aquisição de celulares e 61% sobre a de computadores. Em consequência, a consultoria concluiu que 80% das marcas devem incluir o público formado por crianças e adolescentes nas suas estratégias de marketing.

Inês Vitorino acredita que o Brasil precisa ter uma “regulamentação que defina limites à intervenção publicitária”. “Atualmente quem mais atua nessa área é o Conar [Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária], mas por se tratar de um órgão privado de autorregulamentação, seu código não tem força de lei e ele não tem poder para garantir punições mais severas”, disse.

Ela ressaltou que além da autorregulamentação, existe o controle social exercido por organizações da sociedade civil, como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e a Agência de Notícias do Direito da Infância (Andi). A professora destacou que com a ausência de regulamentação específica, desde a década de 1990 outros aparatos legais tentam suprir essa lacuna e definir limites na comunicação comercial, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Código de Defesa do Consumidor e a Lei nº 9.294/96 que regula publicidades de produtos nocivos.

Ela citou ainda o Projeto de Lei 5.921/01, que tramita há mais dez anos no Congresso Nacional e proíbe a publicidade dirigida à criança e regulamenta a publicidade dirigida a adolescentes. O texto, que inicialmente foi proposto pelo deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) e já sofreu diversas alterações, está sob apreciação da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI ), da Casa Legislativa. A proposta tem resistência de diversos setores ligados à publicidade, além de fabricantes de produtos infantis.

Edição: Aécio Amado

Reproduzido de Agência Brasil (02/06/12) via Educação Política por Glauco Cortez (09/06/12)

* Provável que seja esta pesquisa: “Kids Power - As crianças e os meios de comunicação” e “O poder da publicidade”, com coleta de dados em 2006 e divulgação em 2007, na página de InterScience 2007, clicando aqui, conferindo na página de Marketing & Vendas clicando  aqui.

Leia também:

“Crianças e o Mundo Digital”, pesquisa com dados de 2011, na página de InterScience, clicando aqui.

Reflita sobre o texto abaixo e o que pensam alguns "marketeiros" e concordam alguns jornalistas, e tire suas conclusões:



"Marketing Infantil: como conquistar a criança como consumidora"


Com o crescimento de produtos infantis no mercado brasileiro, as empresas voltadas para as crianças acabam sem saber como abordar melhor seu público-alvo. Foi pensando nisso que o consultor de Marketing infantil, Arnaldo Rabelo, escreveu o livro “Marketing Infantil – como conquistar a criança como consumidora”.

O livro disponível somente na versão on-line traz informações originais e úteis para quem atua neste mercado. Em entrevista ao Mundo do Marketing, Arnaldo Rabelo explica a diferença de marketing infantil e publicidade voltada às crianças.

O consultor conta quais são os erros mais comuns cometidos e como as empresas devem agir para conquistar e manter o consumidor infantil. Ainda de acordo com o especialista, os pais estão evitando o excesso no consumo e se preocupam em adquirir produtos de empresas ecologicamente responsáveis.

Quais devem ser as principais estratégias para atrair as crianças como consumidoras?

As estratégias são direcionamentos de longo prazo que dependem de uma análise da conjuntura, dos concorrentes, dos clientes e da própria empresa para serem definidas. Por isso, devem ser diferentes para cada empresa. Mas a compreensão do processo de compra e do comportamento da criança e da mãe são peças chave para essa definição.

Quais são as dicas que o livro dá para as empresas que estão ingressando no mercado infantil? E para as que já estão no mercado e buscam sucesso com seus produtos?

As empresas que já estão no mercado geralmente já perceberam vários destes pontos, mas costumam ter bastante espaço para melhorias na área estratégica. Já as empresas que estão entrando no setor de produtos infantis devem evitar alguns equívocos bastante comuns como considerar a criança como um público homogêneo. Na verdade, ele é composto por pessoas com diferentes comportamentos e necessidades.

Outro erro é basear-se na própria infância buscando compreender a criança de hoje. Como o mundo muda muito rápido, as crianças de hoje são bem diferentes daquelas de algumas décadas atrás. Basear-se em alguém próximo, como um filho ou um sobrinho, para entender o seu público também não funciona. Essa pessoa dificilmente representará o comportamento da maioria do público.

Não se pode miniaturizar produtos de adolescentes ou de adultos para transformá-los em produtos infantis. Por incrível que pareça, isso acontece. Como as necessidades das crianças são bem diferentes das dos adultos, os produtos e a comunicação também deverão ser diferentes.

Aqui também vale a idéia de que, como as necessidades são diferentes, os produtos devem ser diferentes. Logo, não pode colocar cores femininas, como o cor de rosa e o lilás, em um produto de menino na esperança de transformá-lo em um produto de menina.

As crianças têm um papel importante no processo de compra e precisam ser consideradas. Por isso, não se deve considerar que o público da comunicação são apenas os pais, já que eles costumam ser os que possuem o dinheiro. Ao mesmo tempo, não pode ignorar os pais no processo de comunicação, abordando apenas a criança. Os pais têm uma função importante no processo de compra.

Além dos segmentos mais comuns entre as crianças como brinquedos e doces, quais os que mais se destacam?

Podemos citar os setores de chocolates, refrigerantes, sucos, alimentos infantis em geral, moda, higiene, papelaria e artigos escolares como alguns dos mais importantes.

Existe um novo perfil de consumidor em geral mais consciente. Do lado do consumidor infantil há mudanças nesse sentido?

A palavra "consumidor" é um pouco enganadora no Marketing Infantil, pois significa "comprar para o próprio consumo". Precisamos levar em conta os diferentes papéis desempenhados no processo de compra, que podem ser desempenhados por pessoas diferentes. No Marketing Infantil, os mais importantes são o influenciador, o comprador e o usuário. Os pais têm comprado de forma mais consciente, evitando excessos e preferindo produtos de empresas responsáveis socialmente e ecologicamente. As crianças também se preocupam com o meio-ambiente, mas ainda têm feito pouco para expressar de forma prática essa preocupação.

Como as empresas devem traçar suas estratégias de Marketing para esse público sob o ponto de vista do consumo consciente?

No segmento infantil, a exemplo de outros, já não há mais espaço para empresas que não agem de forma ética e responsável, se preocupando em beneficiar seu público em longo prazo. Ao invés de se concentrarem em gerar apenas vendas no curto prazo, as empresas precisam também conquistar e manter o seu público por um longo período. Para isso, as questões éticas devem ser levadas em conta na definição dos valores e da identidade da empresa. Além disso, todas as suas ações e decisões precisam ser coerentes com essas diretrizes.

É possível saber qual é o motivo que leva uma criança a desejar um produto?

Embora os motivos individuais possam ser diferentes, a empresa deve realizar pesquisas para compreender as motivações da maioria dos componentes do seu público principal. Os motivos podem ser objetivos (necessidade biológica ou física) ou subjetivos (necessidade psicológica ou social). Quanto menos idade tiver a criança, mais seu comportamento é moldado por suas limitações, habilidades e capacidades neurológicas, motoras e cognitivas. Inversamente, quanto mais idade tiver a criança, mais seu comportamento é moldado por questões sociais e culturais.

Quem decide a compra dos produtos, as crianças ou os pais? Como é esse processo?

Isso depende do estágio de desenvolvimento da criança. Genericamente, podemos dizer que a criança de 0 a 3 anos, que tem uma grande dependência da mãe, não participa do processo de decisão da compra. Mas dos 4 aos 7 anos, aproximadamente, a criança ganha autonomia e começa a influenciar os pais na compra de seus produtos. E dos 8 aos 12 anos de idade a criança já pode ser considerada decisora da compra da maioria de seus produtos.

Por que optou por um livro exclusivamente virtual?

Optei por esse processo na fase inicial para que os leitores pudessem interagir, enviando comentários, sugestões e críticas. Com isso, o texto continuará sendo desenvolvido. Planejo lançar a versão em papel em 2009.

Pricila Gambale em Mundo Marketing, reproduzido por reproduzido em GECORP, Gestão Estratégica da Comunicação Organizacional e Relações Públicas, clicando aqui. A aparentemente jornalista aborda o que se considera um dos primeiros livros sobre marketing infantil no Brasil, de autoria de Arnaldo Rabelo e António Cardoso (Portugal). O referido livro está disponível online aqui.

Comentário de Filosomídia:


Os textos acima abordam o mesmo tema sob pontos de vistas completamente opostos. A Profa. Inês Vitorino defendendo os direitos das crianças, de acordo com os princípios constitucionais além do ECA e, o outro texto abordando sobre o livro, trata a criança tão somente como nicho de consumidores que têm influência de compra sobre seus pais, e quais seriam as estratégias para "conquistar a criança" num mercado que movimento no Brasil algo em torno de 50 bilhões de reais, segundo o autor no site.


Há que se agradecer a professora, seu grupo de estudos e todos aqueles que defendem os direitos das crianças frente às pressões desse mercado, que tem em muitos profissionais  anti-éticos os parceiros  que perpetuam essa violência contra a infância, como se fosse a coisa mais natural e aceitável do mundo.


Pessoalmente eu vejo com muita desconfiança o discurso daqueles que embolam o que seja "consumo sustentável" e proteção do meio ambiente com "consumo consciente", disfarçando outras estratégias de persuasão junto às crianças como "público-alvo" desse que o autor do livro designa por "importante setor": marketing.


Enquanto a maioria das pessoas em cargos do poder público também se embola e se locupleta na corrupção com os interesses do mercado e de quem o conduz, vai crescendo o número de pais, responsáveis e professores que lutam e enfrentam esse tipo de abuso que a sociedade mal enxerga no seu todo.


O Brasil não está só atrasado na implantação de políticas da publicidade infantil, mas também perto do topo dos campeões quando se trata do índice de analfabetismo político e des-cidadania plena; analfabetismo midiático e des-regulação dos meios de comunicação, des-mobilização e ausência de indignação entre aqueles que têm o dever de proteger a infância.


É preciso denunciar os profissionais anti-éticos que se vendem a esse sistema de coisas, inclusive os que ocupam cargos nos altos tribunais de Justiça, e exigir que os direitos das crianças sejam respeitados. É preciso ampliar essa discussão nas escolas, lares, escolas e universidades, aumentar as frentes de batalha nessa guerra de empresários contra o cidadão-criança. 


É preciso respeitar a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente.